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Três anos, onze meses e treze dias. Por Edmilson Siqueira

… A desculpa é sempre a mesma: é um patrimônio do povo que está sendo vendido a preço de banana. Patrimônio do povo e preço de banana, uma ova, eu digo. A maior delas, a Petrobras, jamais pertenceu ao povo, jamais deixou de cobrar preços de mercado pelos combustíveis e sempre foi – ainda é, em menor escala – um gigantesco cabide de emprego para os apadrinhados da hora…

Três anos, onze meses e treze dias

A notícia saiu em vários veículos e imprensa: o governo Lula prepara um substitutivo para mudar a Lei das Estatais que foi aprovada na Câmara e que agora está parada no Senado. As alterações visam a flexibilizar as nomeações para as estatais, eliminando obstáculos para que gente de fora possa ser nomeada para cargos de direção e de segundo escalão. E, claro, também para os conselhos, um velho conhecido das mamatas que os partidos recebem para apoiar as votações de projetos de interesse do governo.

As alterações serão propostas por um senador da base aliada a Lula e, caso passem, a lei voltará à Câmara para ser votada novamente e, aprovada ali, irá para sanção presidencial. A discussão atual no governo é se a flexibilização será total ou parcial em termos de acesso a cargos que atualmente são restritos a carreiras técnicas. De acordo com a reportagem, assessores do Planalto dizem que, por enquanto, a ideia é que o substitutivo feito pelo governo abra espaço para os aliados da gestão petista somente nos conselhos administrativos.

Pode ser que a ideia atual seja apenas para os conselhos, mas duvido muito. E, mesmo que seja, há 317 vagas para nomeações de conselheiros. Dá pra fazer uma bela festa com o dinheiro público, certo?

Essa sanha por cargos em estatais, seja nos conselhos ou mesmo nas diretorias e no segundo escalão, é própria dos partidos de esquerda. Esse, aliás, é um dos motivos pelos quais o PT tem verdadeiro pavor de privatizações. Tentou impedir de todas as formas as privatizações da telefônicas durante a era FHC e sempre está tentando melar qualquer transformação de estatais em empresas particulares, seja federal, estadual ou municipal. A desculpa é sempre a mesma: é um patrimônio do povo que está sendo vendido a preço de banana.

Patrimônio do povo e preço de banana, uma ova, eu digo. A maior delas, a Petrobras, jamais pertenceu ao povo, jamais deixou de cobrar preços de mercado pelos combustíveis e sempre foi – ainda é, em menor escala – um gigantesco cabide de emprego para os apadrinhados da hora.

As telefônicas, que se livraram do domínio “público” durante a era FHC, hoje produzem mais linhas telefônicas do que o número de habitantes no país. Aliás, nem se fala mais em “linhas telefônicas”, uma expressão que morreu com a privatização, depois de imperar por décadas de atraso no Brasil. Uma “linha telefônica” um ano antes das privatizações, chegou a valer 5 mil dólares no mercado paralelo. Comprando diretamente das estatais, era mais barato, mas você esperava uns dois anos para ter sua “linha” instalada na residência.

Era esse o inferno (um deles) que o PT faz questão de esconder em nome do poder que as estatais lhe dão. Ali há cargos e, sempre, um orçamento generoso para obras que serão dadas a determinadas empreiteiras que, como prova de agradecimento, devolverão uns cinco ou dez por cento do valor cobrado (já devidamente superfaturado) para os governantes, geralmente em pacotes de dólares não rastreáveis. Os escândalos da Codevasf, no governo Bolsonaro, estão aí para provar que a prática continua a mesma.

Esse projeto do PT de flexibilizar as nomeações nas estatais, se junta às intenções de voltar com o imposto sindical (outra vergonha para enriquecer sindicalistas amigos),  de mudar reformas que ajudaram o Brasil a criar mais empregos, como a trabalhista ou a interferência no mercado de trabalhos por aplicativos, e por aí vai.

Claro que não surpreendem essas ações do PT, afinal, partido de esquerda no mundo – e no Brasil é pior ainda – é teimoso eternamente em todos seus atrasados e reacionários dogmas. Haja vista que já vimos esse filme, cuja reprise está começando, mais de uma vez nos 14 anos em que o PT esteve no poder. E fora alguns nomes novos que ainda não disseram para o que vieram, a turminha que se locupletou o máximo nos quatro governos petistas, está toda lá.

Resta torcer para que a crise que o mundo vive, com reflexos fortes na crise brasileira, contenha os arroubos populistas e demagógicos de Lula e sua turma. Acho que só assim o Brasil conseguirá não andar para trás nesses três anos, onze meses e treze dias que faltam para que nos livremos de mais esse sofrimento eleito pelo povo.

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Edmilson Siqueira é  jornalista há mais de 40 anos. Já passou por jornais, revistas emissoras de rádios e TV. Foi responsável pela coluna Xeque Mate do Correio Popular por 8 anos. Apesar de atuar em outras áreas do Jornalismo, a maior parte de sua carreira foi dedicada à política. Atualmente, na Rádio e TV Bandeirantes de Campinas. Colaborador semanal do Blog da Rose.

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1 thought on “Três anos, onze meses e treze dias. Por Edmilson Siqueira

  1. Pois é, meu caro, provavelmente daqui a quatro anos teremos de escolher entre a reeleição de um ou de um novo estrupício (talvez o mesmo ora defenestrado). Bem observava o Millôr Fernandes: “O problema da democracia é que ela sempre acaba na mão dos democratas”

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