A festa da Selma. Por Alexandre Henrique Santos

… a Festa da Selma cumpriu com pompa e circunstância o seu nefasto destino: tornou-se o que nasceu para ser – puro vandalismo. O simples fato de terem nomeado de “festa” os violentos atos antidemocráticos que ocorreram em Brasília no dia 8 de janeiro …

“Quando você tira Arte da Escola,

você gera gente que esfaqueia um Di Cavalcanti.”

Post divulgado na Internet

O furo coube ao Portal UOL. Para dissimular, batizaram a operação com nome em código. A convocatória se alastrou pelas redes sociais como rastilho de pólvora. Teve robustos patrocinadores e logística bem-organizada. Contou até com mapa online mostrando as 43 cidades do país de onde saíram ônibus cheios de “convidados”. Quer dizer, o evento não foi concebido e financiado para ser convescote, coisa miúda, reuniãozinha à toa. Não, a Festa da Selma cumpriu com pompa e circunstância o seu nefasto destino: tornou-se o que nasceu para ser – puro vandalismo.

O simples fato de terem nomeado de “festa” os violentos atos antidemocráticos que ocorreram em Brasília no dia 8 de janeiro passado, nos dá a dimensão exata do desvio de caráter das criaturas que urdiram e concretizaram o criminoso plano. Mas sobretudo, esses atentados terroristas de grandes proporções jamais poderiam ter ocorrido sem diversas formas de prevaricação. O líquido e certo é que os terroristas contaram com a colaboração – direta e indireta, concreta e abstrata – de autoridades civis e militares responsáveis pela segurança da Capital.

Esta semana, por 9 a 2, o STF manteve o afastamento por 90 dias do governador do DF, Ibaneis Rocha, e a prisão do ex-ministro da justiça de Bolsonaro e ex-secretário de segurança de Brasília, Anderson Torres. As provas que respaldaram o rápido julgamento do Supremo foram claras e fartas. E quais juízes votaram contra? Ora, minha gente, os dois de sempre: os bolsonaristas Nunes Marques e André Mendonça. Novidade nenhuma no pedaço.

Novidade mesmo foi o governador afastado Ibaneis Rocha dizer em seu depoimento à Polícia Federal, com todas as letras, que “autoridades militares” impediram que a Polícia Militar do DF desmobilizasse o acampamento bolsonarista em frente ao quartel-general do Exército. Apenas mais uma evidência de que integrantes das Forças Armadas prevaricaram; ou seja, tornaram-se cúmplices do completo êxito da Festa da Selma.

Nesse cenário de legalidade surreal, assistimos ainda incrédulos, personagens conhecidos da República sofrerem surpreendentes e rápidas metamorfoses. Aqui vão apenas dois emblemáticos casos:

O Procurador Geral da República decidiu abrir os olhos. Agora Augusto Aras pede a inclusão do ex-Presidente Bolsonaro no inquérito que apura os autores intelectuais e instigadores da Festa da Selma – os atos antidemocráticos do 8 de janeiro.

Luciano Hang, empresário bolsonarista-raiz até a medula dos ossos, gravou um vídeo acenando ao Presidente Lula. Diz agora que torce pelo sucesso do petista. E mais, com indisfarçável cara de pau, afirma que desde criancinha sempre defendeu a Democracia, a paz e a harmonia entre todos os brasileiros.

A lista das pessoas que no momento estão atravessando essa metamorfose oportunista é imensa e crescente. Nem creio mesmo que os casos acima citados sejam os mais expressivos. Mas convém observar com atenção esse Bloco dos Arrependidos. Isso porque na História o fato se replica. Nos próximos meses veremos surgir uma verdadeira legião de “democratas desde sempre.” Dirão de si mesmo que são civilizados, que amam nosso patrimônio artístico e cultural, que jamais pensariam em destruí-lo. Se apresentarão como pacíficos e incapazes de vandalismos e atos terroristas.

Teremos de conviver com isso, e assim caminhará a brasilidade!

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*Alexandre Henrique Santos – Atua há mais de 30 anos na área do desenvolvimento humano como consultor, terapeuta e coach. Mora em Madri e realiza atendimentos e workshops presenciais e à distância. É meditante, vegano, ecologista. Publicou O Poder de uma Boa Conversa e Planejamento Pessoal, ambos editados pela Vozes..

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