IGNORÂNCIA

Derrotados pela ignorância. Por Edmilson Siqueira

…Essa ignorância, aliás, não deve ser uma coisa surpreendente. Quem tem como “mito” um cara como Bolsonaro não deve conseguir raciocinar além da cartilha de alfabetização…

Nos anos 1960, vários países da América Latina passaram a viver sob ditaduras militares, todas elas oriundas de golpes mais ou menos sangrentos contra governos legitimamente eleitos. O “perigo comunista”, usado como argumento geral para a ação dos militares, ao contrário dos dias de hoje, existia realmente. Cuba, satélite soviético desde 1959/60, tentava expandir os tentáculos da opressão de esquerda para seus vizinhos e alcançar a América do Sul. O famoso “ouro de Moscou”, por trás de muitos grupos de esquerda, comprava armas e financiava ações terroristas.

Foi nesse cenário que os militares, apoiados por grande parte da população, cuja maioria era conservadora, chegaram ao poder onde ficaram por muitos anos.

Esse preâmbulo é só pra dizer que os golpes de direita na América Latina só tiveram êxito porque foram comandados pelos militares e tiveram apoio popular.

Agora, pensem no Brasil atual. Um capitão que deu baixa para não ser expulso do Exército, sem muita noção do que é a política, tosco, mal-educado, machista ao extremo, cultuador de teorias de conspiração, de repente é elevado a salvador da pátria, o homem que livraria o país da roubalheira do PT e conduziria o país ao seu destino de glória.

No poder, foram quatro anos em que o Brasil patinou em todos os erros possíveis que um governante pode cometer, desde a criação de inimigos diários (próprias dos ditadores inseguros) até a preferência pelo boato mal contado ao invés da ciência para combater uma pandemia que vitimou quase 700 mil brasileiros e cujo número poderia ser bem menor se a atitude do capitão fosse a correta e não baseada na ignorância.

O rastro de destruição que Bolsonaro deixou, no entanto, ganhou adeptos suficientes para fazer barulho. Claro que muitos desses adeptos (creio que a maioria) só o são por não suportarem o modus operandi da quadrilha petista e não encontrarem outro candidato de peso suficiente para derrotar os dois.

Aí, a minoria desses adeptos, cujo conjunto mais parece uma seita cega pela crença num falso ídolo, resolve conspirar contra o governo eleito na certeza de que suas preces seriam ouvidas pelos militares e esses, hipnotizados pela fé, comandariam suas tropas para depor o presidente eleito, ungindo no cargo um general ou buscando o capitão, em seu refúgio na Disneylândia, para coroá-lo imperador perpétuo do Brasil.

Não combinaram com os militares da ativa, confiaram em generais de pijama, ergueram acampamentos em frente aos quartéis à espera das tropas que jamais sairiam e, como ato final, invadiram a sede dos três poderes para depredá-las e fazer alegres e vitoriosas selfies com os celulares como se aquela cena fosse o ato final de uma “revolução”.

Pois é, sem os milicos chegando com seus fumacentos tanques, nenhum “revolucionário” com a camisa da seleção de futebol, sabia o que fazer depois da invasão. Parece que foram treinados apenas para chegar até ali e ali acampar, como se as forças democráticas da repressão não tivessem mais capacidade para expulsá-los de um lugar que é de quem respeita a liberdade e o estado democrático de direito.

Assim, bastou cair o cúmplice comando do governo de Brasília que as tropas, que antes estavam proibidas de reprimir os atentados terroristas, saíram às ruas e, tranquilamente, foram expulsando os invasores para seus acampamentos, de onde só saíram presos para serem devidamente fichados na polícia e processados por infringirem vários artigos da Constituição, do Código Penal e do Código Civil.

A “revolução bolsonarista” foi derrotada por ignorância política, pois os “revolucionários” simplesmente ignoraram que não se toma o poder de forma violenta sem um plano, não se toma o poder na marra sem saber o que se vai fazer depois, não se toma o poder sem armas.

Essa ignorância, aliás, não deve ser uma coisa surpreendente. Quem tem como “mito” um cara como Bolsonaro não deve conseguir raciocinar além da cartilha de alfabetização.

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Edmilson Siqueira é  jornalista há mais de 40 anos. Já passou por jornais, revistas emissoras de rádios e TV. Foi responsável pela coluna Xeque Mate do Correio Popular por 8 anos. Apesar de atuar em outras áreas do Jornalismo, a maior parte de sua carreira foi dedicada à política. Atualmente, na Rádio e TV Bandeirantes de Campinas. Colaborador semanal do Blog da Rose.

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