CARLOS BRICKMANN

CARLOS BRICKMANN E RICARDO SETTI , AMIGOS DE UMA VIDA TODA

Carlos Brickmann, Carlinhos, o Caco. Uma história.

… Além de sua inteligência e talento, Carlinhos tinha uma memória privilegiada, espantosa. Era capaz de conversar uma hora com um político e, depois, publicar a entrevista sem errar uma vírgula. Como editor de Internacional do Jornal da Tarde, diante de um acontecimento importante, espalhava na mesa todo o material que lhe chegava por meio das agências internacionais e de correspondentes..

CARLOS BRICKMANN
CARLOS BRICKMANN E RICARDO SETTI , AMIGOS DE UMA VIDA TODA

Me dói no fundo da alma falar do Carlinhos no passado. Conheci esse gênio em 1966, quando trabalhava na sucursal do Estadão em Brasília e ele fez uma incursão na capital para uma reportagem.

Desde lá, as histórias inacreditáveis que ele protagonizou seriam suficientes para um livro inteiro, talvez de dois volumes. Um gozador nato, que adorava fazer piada sobre todo mundo, começando por ele próprio, adorava aprontar surpresas em festas de amigos. No casamento de um colega do Jornal da Tarde, gerou tanta confusão que o padre que oficiara a cerimônia acabou caindo na piscina da casa onde ocorreu a festa.

Ao mesmo tempo, porém, era uma das pessoas mais solidárias que conheci na vida. Em tudo – na alegria, na dificuldade, na dor. Quando o jornalista Vladimir Herzog foi assassinado no Doi-Codi de São Paulo, por exemplo, a repressão da ditadura passou a procurar outros jornalistas como “subversivos”, um deles o também escritor Fernando Morais.

Carlinhos, supostamente uma pessoa “de direita”, arriscou seu pescoço e deu um jeito de obter, via comunidade judaica de São Paulo, à qual pertencia, passaportes israelenses e passagens São Paulo-Tel Aviv para Fernando e sua então mulher, Rúbia Maria, escaparem do terror. As consequências da morte de Herzog, contudo, foram de tal monta que o casal não precisou recorrer a essa mão estendida.

Lembro-me também, entre muitas passagens, de uma cobertura que foi fazer quando houve um golpe de Estado no Uruguai. Um colega de jornal concorrente ficou fora de combate por ter tomado um porre num dia crucial pós-golpe – e Carlinhos, penalizado, decidiu escrever toda uma extensa matéria no lugar dele para enviar a São Paulo, reservando informações mais exclusivas para o JT, mas utilizando o jeito de escrever do companheiro.

Além de sua inteligência e talento, Carlinhos tinha uma memória privilegiada, espantosa. Era capaz de conversar uma hora com um político e, depois, publicar a entrevista sem errar uma vírgula. Como editor de Internacional do Jornal da Tarde, diante de um acontecimento importante, espalhava na mesa todo o material que lhe chegava por meio das agências internacionais e de correspondentes – não raro, uma enorme quantidade de informações –, lia tudo e depois, sem ter tomado uma nota sequer ou sublinhado alguma linha dos originais, começava a escrever como uma metralhadora o texto que iria ser publicado. Em minutos, liquidava tudo.

No fundo, Carlinhos, morto aos 78 anos por uma série de complicações que tornaram sua vida muito difícil nos últimos anos, era um meninão, uma criança brincalhona, travessa e genial oculta num corpanzil. Você nos está deixando órfãos, Gordo. Descanse em paz.

Carlos Brickmann e Berta na chegada do casamento de Ricardo Setti e Márcia

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Ricardo Setti – jornalista, entre os grandes do país. Em décadas de amizade com Carlihos Brickmann, se tratabam como irmãos. Era o Caco e o Seven

3 thoughts on “Carlos Brickmann, Carlinhos, o Caco. Uma história.

  1. Lindo, querido Setti. Como lindas são as nossas lembranças de todas as expressões do Carlinhos, no jornal, na amizade, na solidariedade, na inteligência perspicaz e nas graças e sutilezas. Abraços, querido

  2. Poizé Ricardinho Seven!!: todos nós temos nossas própria histórias c’o Gordo — de repente algumas delas. No meu caso o que nos uniu por 57 anos foi seu primo Chael — Chael Charles Schreier –, o primeiro dos nossos a ser abatido pela Operação Bandeirante, depois DOI-CODI. E depois nos uniu o Brasil e suas histórias amalucadas!!!

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