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O preço da ruptura pode ser alto. Ou não. Por Angelo Castello Branco

…A súbita ruptura do modelo administrativo econômico governamental, em andamento, pode agregar um avanço qualitativo na medida em que desperta o eleitor para um lance até então excluído dos comícios.

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A polarização eleitoral Bolsonaro versus Lula restringiu a discussão ao plano pessoal das duas figuras como se elas estivessem disputando um concurso de melhor fantasia. Por toda a campanha presidencial os problemas do Brasil resumiram-se às qualidades e defeitos dos senhores Jair e Luiz. Um era fascista e o outro comunista. Pouco ou nada foi dito sobre o que representam para os cofres públicos e para o bolso do povo, não obstante seus anunciados modelos econômicos distintos na forma e nas consequências.

O candidato Jair nada entende de macroeconomia e isso ficou patente quando em seu governo ele passou o supremo comando da área ao professor Paulo Guedes, que por ter respostas para tudo foi associado à propaganda do posto Ipiranga. Na publicidade, ninguém sai do posto sem ter uma resposta para qualquer pergunta. Guedes respondeu com a adoção de uma política de liberdade econômica fortemente voltada para diminuir o tamanho do estado e estimular privatizações.

A história contemporânea do Brasil traz uma separata com escândalos, corrupções e desvios de dinheiro público que não teriam manchado a imagem do país nem comprometido carreiras públicas se as estatais saqueadas não existissem. O estado deve manter o controle, sem intermediários, de instituições responsáveis pelas estratégias de segurança nacional, saúde e educação públicas de qualidade. As agências reguladoras independentes tratariam de manter uma relação econômica adequada entre as demandas da população e a visão das empresas. Qualquer cidadão sabe discorrer com propriedade sobre esse “feijão com arroz” da economia liberal.

Mas, Luiz e o seu posto Ipiranga pensam diferente de Guedes. Os primeiros rastros da carruagem petista desenharam uma curva de cento e oitenta graus nas areias da economia oficial. O modelo econômico enrustido nas urnas eleitorais vitoriosas aponta na direção revogatória de tudo aquilo que os liberais consideram “avanços.”  Luiz anuncia marcha a ré para recuperar o que considera pertences do governo, e mesmo antes de assumir o poder já mobilizou o congresso nacional e a suprema corte a fim de pavimentar seus primeiros cem dias na presidência do Brasil.

O primeiro grande impacto dessa pré-estreia veio por conta das manobras que o presidente eleito tem realizado (com êxito, diga-se de passagem) ao mobilizar o que resta no crepúsculo de uma questionável legislatura congressual cujo plenário passou a ser tutelado pelo Poder Judiciário. Em fevereiro que vem o poder legislativo ganha novas caras e provavelmente novas reações.

Aliás, a competência de Lula, ao conseguir revogar a lei de 2016 que estabelecia critérios mais rigorosos para acesso de políticos às estatais, e no seu lugar aprovar a toque de caixa uma nova regra apenas para permitir a nomeação de Aloizio Mercadante à presidência do BNDES, foi uma jogada no tempo correto. Em 23, seria mais complicado. A propósito dessa manobra, há um episódio similar na história do Brasil. O todo poderoso Assis Chateaubriand havia se desquitado litigiosamente e desejava obter a guarda da filha Tereza. Seus advogados explicaram que a lei vigente inviabilizava o êxito jurídico de tal intento. Então vamos mudar a lei, refutou o dono de O Cruzeiro. No dia seguinte Chateaubriand foi a Getúlio Vargas e fez o congresso aprovar a conhecida “Lei Terezoca”. Tudo resolvido.

Voltando ao século XXI, a metade do Brasil está insegura e temerosa com os primeiros sinais da política econômica porvir. O anunciado “revogaço” pode levar a indesejados retrocessos principalmente quando ameaça implodir a proteção das estatais perante assédios políticos nem sempre republicanos. A permissão da gastança, em discussão no congresso nacional, impõe riscos de alta de juros e de inflação causadoras de sofrimento social, principalmente entre os mais humildes. Pode ser um tiro no pé, mas vamos ser otimistas e torcer para que não seja.

Cada eleição deixa lições. A súbita ruptura do modelo administrativo econômico governamental, em andamento, pode agregar um avanço qualitativo na medida em que desperta o eleitor para um lance até então excluído dos comícios. Você está feliz ou infeliz com os indicadores econômicos oferecidos pelo governo?

_______________________________________________________Ângelo Castelo Branco

Angelo Castelo Branco –  Jornalista. Autor de O Artífice do Entendimento – biografia do ex vice presidente Marco Maciel. Recifense,  advogado formado pela Universidade Católica de Pernambuco. Com passagens pelo Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Diário de Pernambuco, Folha de S. Paulo e Gazeta Mercantil, como editor, repórter e colunista de Política.

1 thought on “O preço da ruptura pode ser alto. Ou não. Por Angelo Castello Branco

  1. Totalmente infeliz com os indicadores econômicos oferecidos pelo governo, pois mal iniciou e todos, inclusive alguns de seus apoiadores (A. Fraga), estão com medo de um passado desastroso e corrupto.

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