Quartel não é partido político. O CEP é outro. Por Angelo Castello Branco
…O movimento conservador ou antipetista da sociedade é essencialmente político e deve ser tratado pelos partidos e pelo congresso, e não em quarteis. Porta de quartel não é o endereço certo para se conduzir um processo dessa natureza. O CEP adequado é o da sede de um partido ou o do poder legislativo…
Quando a poeira baixar com os ânimos menos exaltados, o que geralmente ocorre seis meses depois das posses e finais da lua de mel com os mandatos, os interessados no assunto não resistirão ao impulso de melhor compreender o que se passou nas hostes e na oposição ao bolsonarismo.
O cara errou na formatação da comunicação, errou ao brigar com a humanidade, errou ao falar demais nos cercadinhos da saída para o trabalho, e apesar de tudo isso teve a metade dos votos do país. Esse fenômeno vai além da compreensão porque adentra no indecifrável terreno do “non sense” psicossocial brasileiro incluindo, obviamente, o luxuoso auxílio de um punhado de adversários excessivamente vulneráveis perante critérios éticos seletivos à vida pública.
O emaranhado de denúncias e processos envolvendo escândalos e prisões promovidas pela Lava Jato, abriu caminhos eleitorais para quem se aventurasse com discursos de moralidade. Deu no que deu, as nuvens mudaram de formato, Lula voltou, ganhou as eleições e os bolsonaristas foram recorrer a imaginários altos comandos militares para contestar as urnas eletrônicas, denunciar fraudes e anular resultados.
Pelo que se observa no mundo real os profissionais da carreira militar são hoje cidadãos atentos às teses liberais democráticas do mundo moderno. Só quem perdeu o trem na estação de Macondo (do realismo fantástico de Garcia Marquez) poderia acreditar na interferência militar em imbróglios entre direita e esquerda numa potência econômica do século 21 do tamanho do Brasil. Quanta bobagem.
Responsável pela liderança do movimento conservador cuja capacidade de mobilização segue em aberto, o personagem Bolsonaro, seus correligionários e boa parte das representações políticas não entenderam que as romarias aos quarteis são frutos desse grande equívoco.
O movimento conservador ou antipetista da sociedade é essencialmente político e deve ser tratado pelos partidos e pelo congresso, e não em quarteis. Porta de quartel não é o endereço certo para se conduzir um processo dessa natureza. O CEP adequado é o da sede de um partido ou o do poder legislativo. E o fenômeno das ruas não é antidemocrático como desejam muitos dos envolvidos nessa história. É de natureza puramente política e perfeitamente admissível numa democracia. As pessoas que vão aos quarteis estão na verdade em busca de um líder que até agora não apareceu. Por seu turno, o lulismo não tem feito qualquer esforço para acalmar os ânimos através de discursos e gestos conciliadores. Pelo contrário, as falas de seus representantes seguem ásperas e num tom acima do que normalmente se espera de vencedores.
As consequências mais prováveis de tudo isso ficariam na conta de uma oposição mais ostensiva no congresso eleito em outubro passado. Em nome da tal da eterna vigilância que assegura as liberdades individuais e a integridade na condução dos negócios públicos. Conforme espera a sociedade democrática e, obviamente, plural.
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Angelo Castelo Branco – Jornalista. Autor de O Artífice do Entendimento – biografia do ex vice presidente Marco Maciel. Recifense, advogado formado pela Universidade Católica de Pernambuco. Com passagens pelo Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Diário de Pernambuco, Folha de S. Paulo e Gazeta Mercantil, como editor, repórter e colunista de Política.
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Parabéns, seu artigo é totalmente pertinente a situação atual, principalmente quanto ao movimento antipetismo e sua gangue. A ausência de um legitimo líder (competente e com princípios) é o sofrimento eterno do povo brasileiro.
Infelizmente, desde Dom Pedro II, o Brasil não teve governantes preparados e muito menos de condutas éticas e benéficas ao país. Já naquele tempo as forças ocultas imperavam no baronato, perpassando pela república velha – nova, ressaltada por Jânio Quadros, e continuando atualmente.
Nossos verdadeiros presidentes não são aqueles que ocupam o cargo máximo; os verdadeiros são os comandantes, do momento, da ala chamada “Centrão”, constituída de “eminência parda” de todos os segmentos políticos, regido pela oração de São Francisco (…é dando que se recebe…).
Pobre Brasil, vivendo os piores infernos da Divina Comédia, esperando sua Beatriz (o messias prometido), para conduzi-lo ao primeiro mundo (paraíso)…
Ele não tem sonhos, mas sim pesadelos dantescos.