A complexa simplicidade do futebol. Blog Mário Marinho
ESPECIAL COPA CATAR 2022
Neném Prancha foi roupeiro e massagista do Botafogo carioca, até que resolveu que a praia era a sua praia e foi pra lá montar e dirigir times de futebol.
Lá ele conheceu alguns notórios jornalistas esportivos, entre eles João Saldanha que começara a divulgar frases de autoria ou não de Neném Prancha, mas, sempre atribuída a ele.
Uma delas:
“O futebol é simples: quem tem a bola ataca, quem não tem defende”.
É de uma simplicidade basilar.
Talvez, por isso mesmo, esconde meandros os mais complexos.
Seria a mesma coisa que dizer: a matemática é fácil, afinal, dois mais dois são sempre quatro.
Ou como disse Johan Cruyff, “o futebol é simples, o difícil é jogar simples”.
Nos meus tempos de criança, a gente jogava futebol e os times eram escalados como este, da vitória do Brasil, 5 a 2, sobre a Suécia, que nos deu o primeiro título mundial: Gilmar, Djalma Santos e Beline; Nilton Santos, Zito e Orlando; Garrincha, Didi, Vavá, Pelé e Zagallo.
Traduzindo em números, o esquema seria o 3-3-5. Três jogadores na defesa, três na linha intermediária e cinco no ataque.
Mais ou menos na mesma época, aqui no Brasil, o técnico mineiro Martim Francisco (1928-1962), dirigindo o Vila Nova da cidade de Nova Lima, Minas Gerais, havia criado o sistema 4-2-4: quatro zagueiros, dois meio-campistas e quatro atacantes.
Que foi adotado por 9 entre 10 técnicos.
Era um esquema bastante ofensivo.
Daí para a frente, criou-se verdadeira salada de números: o 4-3-3; o 4-5-2; o 4-4-2 e outras variações.
Note-se que aqui sempre chegamos a 10 jogadores, já que o goleiro tem sua posição fixa e especialíssima e, por isso, não entra nas variações.
Os comentaristas insistem em numerar os times conforme a distribuição dos jogadores que eles enxergam.
Muito subjetivo.
Como traduzir em número o esquema da Holanda que assombrou o mundo em 1974, onde todos atacavam e todos defendiam?
Difícil, né?
Assim é o esquema da Seleção Brasileira de Tite.
É quase um futebol total, aquele da Holanda, ideal, mas, difícil de ser empregado: haja preparo físico para atacar e defender, ir e voltar ao mesmo tempo.
Tite quer seu time inteiro atacando e defendendo
Não é fácil enxergar isso. Essa variação,
Eu ouvi de exacerbado crítico da Seleção que o time não tem padrão de jogo.
– Por isso, o Casemiro marcou o gol do Brasil contra a Suíça. Ele estava mal colocado, ele estava no lugar errado. Ele é defensor, não podia estar lá na frente.
O crítico em questão acha que os jogadores são estátuas, postes e devem ficar fixos em um determinado lugar.
Que dizer então do gol de Richarlison na vitória de 4 a 1 sobre Coreia , recebendo dentro da área um passe do zagueiro Thiago Silva. Um zagueiro, veja só!!!
O que esperamos do Brasil nesta sexta-feira, contra o bom e perigoso time da Croácia, é o futebol quase de abafa sobre os adversários e que não tem número, mas é definido pela expressão “rec5”, criada pelo auxiliar técnico de Tite, César Sampaio.
Que significa recuperar a bola em cinco segundos.
Ou seja, quando o adversário toma a bola, imediatamente ele é cercado por três jogadores que devem recuperar a bola em não mais do que cinco segundos.
Isso, onde a bola estiver.
Bem executado, esse rec5 (eu acho que ficaria melhor apenas R5) deixará o adversário sem espaço.
Aí, de posse da bola, aplicamos o esquema definido por Neném Prancha lá nas praias cariocas, na década e 50: quem tem a bola ataca.
O Brasil já enfrentou a Croácia 5 vezes: venceu 3 e empatou 2.
Ou seja, nunca perdeu.
O jogo dessa sexta-feira, à hora do almoço, não deverá provocar indigestões, mas não será fácil.
O bom do futebol é que à medida que o adversário é bom, é competente, faz com que o futebol flua mais
O embate se torna em alto nível.
E aí vence aquele que tiver o nível mais alto.
No caso, o Brasil.
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Mário Marinho – É jornalista. É mineiro. Especializado em jornalismo esportivo, foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.
(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)
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