O pênalti. Blog Mário Marinho
ESPECIAL COPA CATAR 2022
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Não há quem fique indiferente à marcação de um pênalti.
Antes da cobrança, o sofrimento é de 100%. Sofrem os que torcem para o cobrador errar ou o goleiro defender; sofrem os que torcem para o cobrador acertar.
O pênalti é um acontecimento tão importante que, na visão do filósofo ludopedista carioca Neném Prancha, deveria ser cobrado pelo presidente do Clube, de paletó e gravata.
Nos meus tempos de garoto lá em BH, o pênalti era tão raro que o juiz até esperava que a molecada que estava lá do outro lado chegasse para testemunhar a ocasião.
E raro, porque dificilmente os juízes chamados “juízes de barranco”, porque eram convidados no meio da torcida para apitar o jogo, tinham coragem para marcar um pênalti.
Assim, ninguém queria perder a chance de testemunhar tal evento.
As decisões de classificação na cobrança de pênalti (que a Fifa define como “cobranças de tiros livres a partir da marca do pênalti) são comuns nos dias de hoje não tiram o sabor doce ou amargo das cobranças de pênaltis.
Assistimos, estupefatos, a pequena e pouco acreditada seleção de Marrocos mandar de volta para casa a grandiosa Espanha que seu técnico, o boquirroto Luiz Enrique, disse ser a única a praticar o verdadeiro futebol na Copa. Claro, disse isso antes da eliminação, no dia que chegou ao Catar.
O goleiro marroquino, Bounou fez duas defesas espetaculares nos três pênaltis perdidos pelos espanhóis (o terceiro bateu na trave).
No momento da cobrança do pênalti goleiro e cobrador têm visões diferentes.
Para o goleiro, o cobrador parece um monstro de tão grande. A distância entre as duas traves parece imensa, quilométrica.
Já o cobrador vê o goleiro como um monstro de altura, com quatro ou cinco braços de cada lado e a distância entre as traves mínima, quase impossível de ser vencida.
O goleiro treme. O cobrador também.
O cobrador é obrigado a marcar. O goleiro não é obrigado a pegar, mas, pode virar herói.
O que poucos sabem é que essa penalidade – que parece ter sido criada na medida contra o goleiro – foi criada exatamente a pedido de um goleiro.
Até 1891, não existia o pênalti. As faltas eram cobradas desde o local onde haviam sido cometidas.
Nesse ano de 1891, num jogo entre Notts County e Stok City, válido pela Copa da Inglaterra daquele ano, o Notts vencia por 1 a 0 e o jogo estava prestes a acabar. Para evitar o gol de empate do adversário, o zagueiro Henry tirou com a mão a bola que já havia vencido o goleiro e fatalmente entraria.
O juiz marcou a penalidade que teria que ser cobrada onde a falta aconteceu: a cerca de centímetros de distância da marca fatal.
A bola foi colocada ali. Os jogadores do Notts se colocaram em cima da linha do gol, ficando a poucos centímetros do gol e tornando impossível que a bola passasse e o gol fosse marcado.
Apaixonado por futebol e goleiro o irlandês William McCrum achava a situação um absurdo, pois tornava impossível a punição de quem cometesse o pênalti.
Foi então que McCrum bolou a punição de falta dentro da área com a cobrança de um tiro livre direto, sem barreiras.
As autoridades esportivas da época resistiram à ideia do goleiro.
E quando ela foi implantada, em 1891, recebeu críticas de muitos desportistas e da imprensa.
Um comentarista chegou a escrever que aquilo era a pena de morte dos goleiros.
O time inglês Corinthian, que anos mais tarde serviu de inspiração para o Corinthians de São Paulo, mandava que seus goleiros ficasse estáticos junto a uma das traves para não defender.
E, por ser um time formado por cavalheiros, mandava seus cobradores chutarem para fora.
Aliás, até hoje tem muito cobrador que enche o pé e chuta a bola para fora. Mas não é por cavalheirismo, é por incompetência mesmo.
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Mário Marinho – É jornalista. É mineiro. Especializado em jornalismo esportivo, foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.
(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)
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Muito boa esse história do penalty.
Adorei, Marinho. Como sempre.