ENFAIXAR

Quem vai enfaixar o presidente? Por José Horta Manzano

…Escanteado o vice, sobra a interrogação: quem vai enfaixar Lula? Surgiu a ideia – dizem que é realmente do presidente eleito – de reunir um grupo de cidadãos para a cerimônia.

ENFAIXAR O PRESIDENTE

Nosso bizarro presidente será, com certeza, bizarro até o último dia. É grande a possibilidade de ele se recusar a passar a faixa ao sucessor. Como dizia o humorista Barão de Itararé, de onde menos se espera, daí é que não sai nada. Se a birra do capitão se confirmar, como é que fica?

Com aquele seu jeito espandongado, o general Mourão, o vice, já declarou que não entrega faixa a ninguém. Argumenta que essa incumbência não lhe assenta, visto que, segundo ele, faixa é coisa de presidente, não de vice. Mostra que se conformou com a ideia de ter sido um vice meramente decorativo.

Escanteado o vice, sobra a interrogação: quem vai enfaixar Lula?

Surgiu a ideia – dizem que é realmente do presidente eleito – de reunir um grupo de cidadãos para a cerimônia. Caberia a eles trazer a faixa numa bandeja e entregá-la ao empossando.

Imaginar que qualquer grupo de cidadãos represente o povo brasileiro é ideia distorcida e carregada de naftalina populista. Os parlamentares, gostemos ou não, são os representantes da população legitimados pelas urnas. Atrás de cada um deles, está o homem, a mulher, o índio, o preto, o LGBT, o ancião, o incapaz. E até o devoto e o golpista. Não faz sentido rejeitar os representantes que todos elegeram e substitui-los por um grupo selecionado pela equipe de transição.

A solução cogitada pelos que orbitam ao redor de Lula é engraçadinha, mas a meu ver é simples tapa-buraco. Depois de quatro anos com um presidente que tentou por todas as maneiras destruir ritos e tradições, não acho que seja de bom augúrio já começar o novo governo com improvisações.

A República não pode ser modulada ao gosto do freguês como cardápio de restaurante fino. Seus ritos, baseados na Constituição ou na tradição, têm de ser respeitados. Chega de desrespeito às normas!

A linha de sucessão presidencial está prevista na Constituição. O primeiro na linha é o vice-presidente; em seguida vêm, na ordem: o presidente da Câmara, o presidente do Senado, o presidente do STF.

Por analogia, a mesma linha de sucessão deve ser aplicada na hora de passar o adereço. Pra não ficar esquisito, a autoridade que entregar a faixa não deve vir vestida com ela. A faixa será trazida sobre uma bandeja, e o empossando se vestirá sozinho ou eventualmente auxiliado por um ajudante de ordens.

Improvisação só caberia se todas as quatro autoridades da linha de sucessão se recusassem a entregar a faixa. Mas isso não deve ocorrer.

É importante mostrar que o Brasil está voltando a ser um país normal.

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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos,  dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.

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3 thoughts on “Quem vai enfaixar o presidente? Por José Horta Manzano

  1. Caro Manzano
    Tanta coisa importante, que essa faixa é a menor.
    Qual o sentido, nos dias atuais do presidente ou seu sucessor ostentar um adereço arcaico e mofado?
    Deixemos isso de lado e vamos, como diria Odorico Paraguassu “direto aos finalmente”.
    Se por manobras – e haja manobras! – Jurídicas Lula disputou a eleição e venceu, que seja empossado.
    Fazer oposição séria e honesta ao seu governo é direito, mas ficar “causando” com falsas afirmações e, como um garoto amuado se recusar a reconhecer sua vitória é tão infantil que só cabe naqueles descerebrados.
    Infelizmente, grupos nas redes sociais perderam seu sentido e hoje se dedicam dia sim e no outro também a divulgar cada barbaridade que nem perco meu tempo e deleto.
    No meu caso participo de dois grupos de ex-funcionários de empresas onde trabalhei, onde o sentido original foi totalmente desvirtuado e hoje só são postadas mensagens politizadas.
    Pena, pois as vezes deixo de saber do que realmente interessa, ou seja, como estão companheiros de boas lembranças, pois na idade em que estamos temos muito passado e pouco futuro… seria de esperar que se dedicassem a tornar esse futuro melhor, em vez de perder tempo com idiotices, como ficar na porta de quartéis, pedir ajuda aos ET´s, espalhar as “fakes News” etc.
    Brincar de guerrilheiro na altura de nossas vidas, beira a senilidade.
    Desculpe se me estendi no comentário e, fugi do seu texto.

    Inté

    1. Caro Xará,

      Concordo com você quando diz que temos muito mais passado que futuro.

      Concordo também com a (in)utilidade das redes sociais, que estão cada dia mais associais visto que mais separam do que aproximam.

      Concordo ainda com sua visão sobre o dano que a boçalidade do capitão e de seus devotos tem causado ao país.

      Por seu lado, sou ferrenho defensor dos símbolos da República, talvez porque eles me aproximem de um tempo passado em que rituais eram cumpridos sem discussão possível.

      Para mim, é horripilante ver alguém enrolado na bandeira verde-amarela. Bandeira é o símbolo maior do Brasil, não é cobertor nem capa de chuva. Se algum desses pascácios ousasse usar a bandeira como adereço vestimentar na época da ditadura militar, não chegaria até a primeira esquina: seria enjaulado e apanharia até perder a vontade de “dar bandeira” por aí.

      A dignidade do cargo de presidente foi tão vilipendiada estes últimos quatro anos, que a retomada da integridade da função tem de ser imediata. Não dá para esperar – o Brasil tem pressa de voltar a ser um país normal.

      Forte abraço.

  2. Caro Manzano.
    Grato pelo retorno; com 71 anos creio que se não estamos próximos em idade, estamos próximos da vivencia de muitos momentos que pudemos desfrutar ou amargar.
    Realmente, símbolos da pátria hoje são tão vilipendiados, que parecemos anestesiados a essa falta de respeito.
    Gostaria, se pudesse perder um pouco do seu tempo, opinar sobre o que penso do nosso momento atual no Brasil.
    A irresponsabilidade de se pleitear ajuda dos quarteis é tamanha, que aqueles que assim procedem mal sabem o que pedem.
    Falam com receio do comunismo, mas pedem ditadura, pois ser tutelado por militares é exatamente isso: ditadura.
    E que é uma ditadura senão uma forma comunista de governo?
    Receia-se tornarmos um Venezuela, mas pedem o regime daquele país, pois uma ditadura só existe se as forças armadas controlam o poder.
    Os ditadores da Venezuela, Nicarágua, Cuba, por exemplo nada seriam se não tivessem ao seu lado o corpo militar.
    Lógico, tais militares formam a casta – tal qual os porcos em Animal Farm – e, assim procedem pouco ligando para a ralé, o povo, aqueles que hoje no Brasil pedem sua volta ao poder.
    Triste quem pouco ou nada usa do conhecimento para tomar posição.
    Medo do PT se tornar eterno?
    Pouco provável, pois seriam barrados – talvez no momento adequado – pelo militarismo, afinal exército só existe o legitimo e, os do MST/MTST e parecidos não passam de balela.
    O contrário, entregar – a Bolsonaro e seu grupo – o poder é temário e aí sim poderíamos ter um futuro incerto e radical; seria instalada a ditadura muito mais radical que as anteriores (Vargas e 1964).
    Afinal, desde o primeiro momento de seu governo JB se cercou de militares, que hoje tem contracheques nababescos e, lógico não querem perder a “bocarra” (afinal “boquinha” é pouco para eles).
    Mas, como tentar dissuadir aqueles que estão obcecados pelo “mito”?
    Aguardar, para os que tem paciência; orar ou rezar para os tem fé; deixar para lá aqueles onde me incluo, pois temos muito passado e pouco futuro e penso em viver o presente da melhor maneira que independente de governo possa.
    Mas, que incomoda, incomoda.
    Forte abraço e mais uma vez grato pela paciência.

    Inté!

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