Trump

Trump não passa de um bufão. Por Rui Martins

… Donald Trump nos interessa por ser o modelo seguido por Bolsonaro. Ambos têm uma formação golpista. Trump tem diversos processos e  poderá mesmo ser impedido de se candidatar. Bolsonaro terá uma profusão de processos tão logo deixe a presidência.


Trump nos enganou ou, o mais provável, foi ele quem se enganou nas previsões sobre as eleições de meio-mandato nos EUA? Era tanta sua empáfia, que declarava, por antecipação, seu partido Republicano como o grande vencedor. A ponto de convencer a própria imprensa e levá-la a se indagar como Joe Biden poderia governar na contra-corrente. Uma grande vitória tão anunciada iria até comprometer a imagem democrática dos Estados Unidos.

Trump, apesar de sua cara de mandão e autoritário não passa, na verdade de um fanfarrão, de um farsante, de um bufão, desmascarado no decorrer dos oito dias das demoradas apurações das eleições do 8 de novembro. Não houve nenhum tsunami republicano. Ninguém melhor do que ele corporifica a expressão “ter o rei dentro da barriga”, porém, desta vez, uma outra expressão popular ridiculariza suas pretensões: “não se deve sempre contar com o ovo ainda dentro da barriga da galinha”.

Depois de tanta pretensão, de tanto alarde e tantos arrotos, Trump ganhou, mas ganhou por pouco. Mas não foi uma grande vitória. Os republicanos não conseguiram maioria no Senado e nem eleger o governador de Nova Iorque, conseguiram alguns deputados a mais na Câmara de representantes mas não puderam impedir a eleição de duas governadoras e de uma deputada lésbicas, mais um vereador transgênero no New Hampshire. Nisso, sem dúvida, o machão Donald Trump foi derrotado, pelo que a associação de defesa dos direitos das pessoas LGBTQI considerou vitórias históricas, nos Estados do Massachusetts, do Oregon e do Vermont. Mesmo porque houve, pela primeira vez, candidatos LGBTQI em todos os Estados norteamericanos.

Assim, o objetivo de Trump de paralisar a administração de Joe Biden se relativizou, pois embora detenha a Câmara de representantes, as grandes decisões, como nomeação dos juízes da Suprema Corte e dos cargos na alta administração estão nas mãos do Senado. Os republicanos não poderão liberalizar ainda mais a legislação sobre armas e nem modificar a legislação sobre o aborto. Mas poderão dissolver a comissão encarregada do inquérito sobre o ataque ao Capitólio, no qual houve morte e feridos, e descartar as acusações de ter sido Trump quem incitou seus seguidores para esse ataque.

Mesmo dentro do Partido Republicano nem tudo é positivo para Trump. O provável speaker dos republicanos na Câmara Kevin McCarthy, que sucederá à democrata Nancy Pelosi, não é um seguidor incondicional de Trump, que até hoje, continua argumentando ter havido fraude na vitória de Joe Binden à presidência. Logo depois das eleições, nas quais Trump foi derrotado, Kevin aderiu à argumentação trumpista de ter havido fraude, porém reviu sua posição, algumas semanas depois, diante do ataque de trumpistas ao Capitólio, chegando a afirmar haver responsabilidade de Trump nas agressões ali cometidas. Essa posição crítica poderá impedir Kevin McCarthy de se tornar o speaker da Câmara. Porém…

Porém, Trump, que se já se declarou candidato à presidência, dentro de dois anos, não detém mais a condição de líder absoluto dos republicanos. Além da críticas de Kevin McCarthy, existem as de seu ex-vice-presidente Mike Pence, no seu livro So help me God. E surgiu mesmo um concorrente à candidatura de Trump dentro do próprio Partido Republicano: trata-se do reeleito governador da Flórida, Ron DeSantis, considerado já um líder pela direita dura dos republicanos.

DeSantis é o espinho na garganta de Trump, pois era o protegido que agora quer tomar sua dianteira. Como se o governador eleito de São Paulo, Tarcísio de Freitas, se tornasse candidato em 2026 contra Bolsonaro. Irritado, num encontro com jornalistas, Trump ameaçou “dizer coisas nada lisonjeiras” sobre seu ex-protegido, do qual não sabe muita coisa, “exceto ser sua esposa quem comandou sua campanha eleitoral”. Essa concorrência não significa haver grandes diferenças entre ambos, pois DeSantis é considerado um clone de Trump.

Donald Trump nos interessa por ser o modelo seguido por Bolsonaro. Ambos têm uma formação golpista. Trump tem diversos processos e  poderá mesmo ser impedido de se candidatar. Bolsonaro terá uma profusão de processos tão logo deixe a presidência.

Se Bolsonaro, clone e imitador de Trump, não conseguir dar nenhum golpe, como parecem anunciar os fracassos de todas as últimas tentativas,mas conseguir se livrar da erisipela na perna e se preparar para se candidatar em 2026, é certo que terá também diversos DeSantis pela frente.

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Náufrago da Utopia: RUI MARTINS: BRECHT O CHAMARIA DE "IMPRESCINDÍVEL"Rui Martins – é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu Dinheiro sujo da corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, A rebelião romântica da Jovem Guarda, em 1966. Foi colaborador do Pasquim. Estudou no IRFED, l’Institut International de Recherche et de Formation Éducation et Développement, fez mestrado no Institut Français de Presse, em Paris, e Direito na USP. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.

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