Fake news são para ingênuos. Por Edmilson Siqueira
[ARTIGO PUBLICADO ORIGINALMENTE NO BLOG DA ROSE - https://blogdarose.band.uol.com.br/ - GRUPO BANDEIRANTES - Edição de 3 de novembro de 2022]
Nos últimos dias, as redes sociais foram inundadas por notícias falsas, as famosas fake news, de todos os tipos que, num primeiro momento, pretendiam incutir na cabeça dos grupos que faziam manifestações ilegais contra o resultado da eleição e contra a democracia, que eles estavam vencendo a parada.
A primeira delas, e uma das mais incríveis, era de um grupo de caminhoneiros chorando de alegria ao ouvir numa mensagem de WhatsApp notícia de que já havia sido decretada a prisão do ministro Alexandre de Moraes. Como a internet anda à velocidade da luz, esse vídeo deve ter sido visto em todas as manifestações que aconteciam nas estradas e à frente de quartéis, provocando mais alegrias e lágrimas. Não sei qual foi a reação desse povo ao saber que era mentira, que ninguém mandou prender o ministro que, aliás, estava assinando ordens para processar os manifestantes que pregavam contra o estado democrático de direito, multar caminhoneiros e exigindo a prisão de quem desobedecesse a suas ordens.
Outra produção mentirosa é um vídeo de dois cidadãos falando para como se fosse para a imprensa, afirmando que estava comprovado um mar de fraudes nas eleições, fraudes essas que, claro, deram milhões de votos a Lula e tiraram milhões de votos de Bolsonaro. Pior: um dos cidadãos era identificado como o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira e o outro como o embaixador do Brasil na França, Luís Fernando Serra. Obviamente, não era nem um, nem outro. E tanto o ministério da Defesa quanto o das Relações Exteriores, desmentiram a existência de tais entrevistas.
Um modesto projeto, de alcance social, foi transformado na legalização total do furto no Brasil pelas desonestas redes bolsonaristas, enganando seus leitores. Trata-se do projeto de lei da deputada do PSOL do Rio de Janeiro, Taliria Petrone, que prevê uma pena restritiva de direito ou multa por furto por necessidade ou de valores insignificantes cometidos por pessoas de extrema pobreza.
Já uma loja do empresário Luciano Hang, das lojas Havan, aparece num vídeo como se estivesse sendo invadida por petistas. A montagem exibe danos reais numa das lojas, mas, conforme afirmou o gerente dela, o problema foi causado por uma ventania, está sendo consertado e, ainda nesta semana, tudo volta ao normal.
Logo depois do primeiro turno, um assunto tomou contas das redes sociais: o de que no segundo turno o voto seria impresso. Mesmo sem a previsão em lei de tal medida, o que a impossibilita totalmente, muita gente acreditou na asneira. E acreditou por quê? Porque muita gente acredita que a impressão do voto evitaria a gigantesca fraude do TSE para prejudicar Bolsonaro e favorecer Lula.
Ainda sobre as eleições, chegaram a inventar que havia um algoritmo programado para estipular a percentagem de votos alcançada por cada uma das candidaturas. O que, claro, favoreceria quem, o TSE quisesse. O absurdo não tem limites.
Diante de tudo isso, e não alcancei nem um por cento das fake news que proliferaram só depois do primeiro turno, fico a imaginar quem é o cidadão que acredita nessas mentiras. Se for esse que travou rodovias com seus caminhões ou aqueles que lotaram algumas praças ou foram pedir intervenção na porta dos quarteis, temo que o bolsonarismo precisa, urgentemente, reciclar seu pessoal. Com essa ingenuidade e esse desconhecimento de como funciona uma sociedade ou como é uma eleição numa democracia, vai ficar muito difícil que alcancem qualquer objetivo a que se propuserem.
________________________
Edmilson Siqueira– é jornalista. Atualmente, na Rádio e TV Bandeirantes de Campinas. Colaborador semanal do Blog da Rose
________________________________________________
*Artigo publicado originalmente no Blog da Rose – https://blogdarose.band.uol.com.br/
Quem perde sempre tenta encontrar uma justificativa fora da realidade para justificar seu descontentamento.
Lembro, porém, que antes do primeiro turno as notícias todas eram as de que o vencedor do segundo turno ganharia já no primeiro, o que não ocorreu: fake news.
Fake news existiram nos dois lados do espectro.
Continuo no meu nem um, nem outro.