O mestre Said Ali. Por Arnaldo Niskier
… homenagem à memória do saudoso mestre Said Ali, nascido na cidade serrana de Petrópolis. Lembrou que ele foi autor de diversas obras importantes da nossa literatura, inclusive no campo infantil, e brilhou no magistério, lecionando Alemão no Colégio Pedro II…
Numa das últimas sessões plenárias da Academia Brasileira de Letras, o professor Evanildo Bechara, que ilustra a sua Comissão de Lexicografia e Lexicologia, resolveu prestar homenagem à memória do saudoso mestre Said Ali, nascido na cidade serrana de Petrópolis. Lembrou que ele foi autor de diversas obras importantes da nossa literatura, inclusive no campo infantil, e brilhou no magistério, lecionando Alemão no Colégio Pedro II.
Embora não tenha dado aulas de Língua Portuguesa, Said Ali empreendeu estudos relativos à matéria, que foram utilíssimos aos nossos mestres. Escreveu Gramáticas (Histórica, Secundária e Elementar) e meios de expressão e alterações semânticas e sua verificação portuguesa. Como afirmou Bechara, com isso Said Ali demonstrou sinal de sua extraordinária cultura e fina sensibilidade para interpretar fatos linguísticos. O discípulo Evanildo Bechara reuniu esses estudos no livro “Investigações Filológicas”.
Essas pesquisas foram consideradas originalíssimas. Escreveu “O hendecassílabo”, onde aproveitou material recolhido das várias línguas estudadas, menos o japonês e o hebraico. Foi uma fake news a informação de que era mestre nessas línguas, o que não é verdade.
Um exame cuidadoso desse autor não pode ser concluído sem que se estudem as influências do saber filológico de Capistrano de Abreu, a quem ele era muito grato: “O meu colega Capistrano de Abreu, não lhe bastando por à minha disposição os tesouros da sua biblioteca, auxiliou-me inda na penosa tarefa de rever provas, sugerindo-me o seu saber opulento proveitosos acréscimos e modificações.”
Em todos os assuntos que teve entre mãos, o prof. Saidi Ali, não contente com os louros de uma reforma salutar no ensino das línguas estrangeiras, como introdutor, entre nós, do método direto, procurou espargir as luzes do seu saber imenso, diz Bechara, no campo da filologia portuguesa. Dele disse o renomado mestre José Oiticica: “Nele o investigador erudito se emparelha com o filólogo de vistas largas, consciente da evolução dos fatos e da ação modificadora das leis góticas. Sua probidade científica e seu método são inatacáveis.”
É a lembrança de um extraordinário mestre.
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Arnaldo Niskier – Imortal. Sétimo ocupante da Cadeira nº 18 da Academia Brasileira de Letras. Professor, escritor, filósofo, historiador e pedagogo. Foi presidente da Academia Brasileira de Letras e secretário estadual de Ciência e Tecnologia e de Educação e Cultura do Rio de Janeiro.