Cristofascismo. Por José Horta Manzano
…Fascismo cristão ou cristofascismo é expressão cunhada por uma teóloga alemã nos anos 1970. Descreve o ponto de contacto entre o fascismo e o cristianismo, contacto induzido pelas teorias de extrema-direita…
Em longo artigo, o italiano Corriere della Sera digital discorre sobre a campanha presidencial brasileira deste ano. Sobrevoa as acusações de canibalismo, satanismo e pedofilia. Lembra a sombra de um possível golpe de Estado, a ser dado unicamente em caso de vitória da esquerda.
Menciona ainda: a Venezuela e a Nicarágua, o “pintou um clima”, Janja da Silva, Michelle Bolsonaro, o ditador paraguaio Stroessner, Silas Malafaia, Fernando Collor, confisco de aposentadorias, Neymar, Copa do Mundo, fechamento de igrejas, aborto, satanás, dom Odilo Scherer, o “perigo comunista”. E outros nomes e fatos que nós todos conhecemos.
Fechando o cerco, relata a inacreditável história de tráfico de crianças, que Damares Alves “ouviu na rua” e denunciou à Justiça. Acrescenta a apropriação que “cantanti gospel” (=cantores evangélicos) fizeram da historinha horripilante. E conclui discorrendo sobre o cristofascismo. (Esse conceito fica por conta do Corriere della Sera, não é tema de campanha no Brasil.)
Fascismo cristão ou cristofascismo é expressão cunhada por uma teóloga alemã nos anos 1970. Descreve o ponto de contacto entre o fascismo e o cristianismo, contacto induzido pelas teorias de extrema-direita. O cristofascismo pode ser entendido como uma ampla muleta que dá uma fachada de dignidade cristã aos princípios atrozes e violentos que formam a ossatura da ideologia fascista.
É exatamente o que desabrochou na nação brasileira quando se instalou o governo do capitão. E que continua plantando raízes em nossa sociedade. É um movimento pérfido e insidioso, dado que se instila como veneno na mente de honestos cidadãos que se enxergam como cristãos verdadeiros, ao mesmo tempo que toleram – e até praticam sem se dar conta – comportamentos extremistas.
É desse mal corrosivo que temos de nos desvencilhar domingo agora, enquanto é tempo.
Anauê, cidadãos!(*)
(*) Anauê era a saudação adotada pelos adeptos do integralismo, corrente de pensamento de matriz fascista que chegou a ter certa força no Brasil dos anos 1930.
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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos, dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.
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