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Pintou um clima! Por Alexandre Henrique Santos

… É absolutamente surreal o esforço do pastor Silas Malafaia para livrar o Jair do flagrante. O vídeo está nas redes. Criou uma versão louca para o “Pintou um clima!” dito pelo Presidente da República no casual encontro (relembre que ele viu as “meninas bonitinhas de 14 anos”, parou a moto, tirou o capacete, se aproximou, sentiu que “pintou um clima” etc.) com as adolescentes venezuelanas.

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“Eu nunca vou esquecer o que ele falou. Você vai?

Eu não voto nele. Voto no outro. Meu voto pra ele é NÃO!”

Xuxa Meneghel

Nós de Pindorama temos a maravilhosa capacidade criativa de encontrar “soluções” para os desafios, perrengues e problemas com os quais nos deparamos. Mesmo diante de situações insustentáveis não costumamos nos calar. O brasileiro é capaz de inventar justificativas e explicações que, mesmo quando não justificam nem explicam absolutamente nada, podem até aparentar alguma credibilidade.

É absolutamente surreal o esforço do pastor Silas Malafaia para livrar o Jair do flagrante. O vídeo está nas redes. Criou uma versão louca para o “Pintou um clima!” dito pelo Presidente da República no casual encontro (relembre que ele viu as “meninas bonitinhas de 14 anos”, parou a moto, tirou o capacete, se aproximou, sentiu que “pintou um clima” etc.) com as adolescentes venezuelanas. Pois então, segundo o inventivo Malafaia, o Presidente usou a expressão para se referir a inóspita situação política da Venezuela. Ato contínuo, tomada a mentira como verdade, fez o que mais aprecia fazer: passou da defesa para o ataque. Disse aos berros (sim, ele adora berrar!) que era absurdo se interpretar as imagens e as falas do Já-foi, quero dizer, do Jair, como sendo algo de cunho sexual. Será que o pastor acredita mesmo que somos solenes idiotas?

Pela primeira vez na vida eu concordo em algo 100% com a Xuxa: não dá para a gente esquecer isso. Não dá para se dizer “chega, já falamos muito. Vamos mudar o tema”.

Não! Não vamos mudar de assunto. É preciso incomodar. Esse escândalo é para ser lembrado, relembrado, debatido e replicado. Os vídeos com as declarações do mandatário do país necessitam ser vistos e revistos por todas as cidadãs e cidadãos brasileiros adultos; sobretudo pelas mães, pais, avós, avôs, educadoras e educadores. O fato grita e implora para ser escancarado muito além da exaustão. Não vamos deixar barato!

Nas palavras da ex-Rainha dos Baixinhos, é nojento (sic) um senhor de 67 anos parar a moto ao ver várias meninas de 14, 15 anos (bonitinhas), se aproximar, tirar o capacete e dizer que “pintou um clima”! É asqueroso o sujeito supor que as adolescentes estavam pintadas e arrumadas para “ganhar a vida”.

Notem que essa distorção perceptiva, de conotação sexual, só existiu única e exclusivamente da cabeça do Presidente. E ele nem pode dizer que não falou o que falou, pois repetiu seu relato três vezes – e há registro gravado dessas três vezes. A última delas numa palestra na Associação Paulista de Supermercados – APAS: disse textualmente que se tratava de meninas de programa! Não é fake news, não é deepfake. Muitíssimo pior: é a pura realidade!

Não bastasse a abordagem de vulneráveis (imigrantes, mulheres, menores de idade…), a pequena comunidade ainda teve de passar pelo acanhamento da hiperexposição repentina, pelo vexame da sucessão de visitas indesejáveis: da primeira-dama, acompanhada da senadora eleita Damares Alves (ela mesma, a dos vídeos de pedofilia que nunca apareceram, do Magno Malta, e de incontáveis casos escabrosos), da Polícia Federal etc. Basta um pouco de empatia para imaginar a destruição que Tiozão da moto causou na vida dessas “meninas bonitinhas”!

Xuxa tem razão. Não dá para esquecer. Não dá para passar o pano, senhor Silas Malafaia. Ninguém está relatando fatos com má-fé ou inventando coisas. É absolutamente inadmissível que o Presidente da República Federativa do Brasil chame de “garotas de programa” meninas adolescentes, imigrantes, vulneráveis, que estavam “de banho tomado, bem-vestidas” apenas aprendendo um ofício. Diga Basta! Faça como Xuxa: não vote nele. Vote no outro!

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Foto: @catherinekrulik

*Alexandre Henrique Santos – Atua há mais de 30 anos na área do desenvolvimento humano como consultor, terapeuta e coach. Mora em Madri e realiza atendimentos e workshops presenciais e à distância. É meditante, vegano, ecologista. Publicou O Poder de uma Boa Conversa e Planejamento Pessoal, ambos editados pela Vozes..

Acesse: www.quereres.com

Contato: alex@ndre.com.br

 

3 thoughts on “Pintou um clima! Por Alexandre Henrique Santos

  1. Nem um, nem outro.
    Ambos se equivalem na letalidade intrinseca que carregam.
    Com Bolsonaro pintou um clima e não foi adiante.
    Com Lula, como sempre, a acusação se perdeu na poeira do Judiciário e quem tem memória que se lembre.

    “Sem dúvida, é uma forte acusação que está a ser comentada exclusivamente em meios intelectuais e junto da classe média, sem impacto junto ao “povão”, já que rádio e televisão não abordam o tema. Não se sabe exactamente por que razão, uma vez que se trata de denúncia pública: https://www.dn.pt/globo/cplp/lula-acusado-de-sevicias-sexuais-nos-anos-1980-1440250.html

  2. Postei aqui um comentário que parece foi ignorado.
    Espero que a democracia do blog respeite os leitores.
    Repetirei abaixo o que penso, mas com outras palavras:

    Realmente uma aberração passar pela cabeça de Bolsonaro o tal do “pintou um clima”.
    Aliás, só na cabeça dele.
    Crime enquanto passa pela cabeça é crime? Ou se torna crime de fato quando da sua consecução?
    Fica a pergunta.
    Eu e minhas equivalências entre Lula e Bolsonaro (mostrem o defeito de um e exemplificarei o correlato do outro) coloco na balança uma certa situação que veio à tona em 2008 e que mostra que houve bem mais do que um clima pintado na cabeça de alguém: houve uma tentativa de estupro, prontamente abafada – como tudo mais que se refira ao ex-presidiário (desculpem, mas para mim quem foi preso e solto é, sim, ex-presidiário): https://www.google.com/amp/s/www.dn.pt/globo/cplp/amp/lula-acusado-de-sevicias-sexuais-nos-anos-1980-1440250.html
    Nem um, nem outro.
    Ambos se equivalem na letalidade que trazem consigo, cada um a seu modo.
    Eu disse SE EQUIVALEM e não são iguais.
    NEM UM, NEM OUTRO.

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