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Debate. Por José Horta Manzano

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Não assisti ao último debate entre os dois presidenciáveis. Para me inteirar do que foi dito, não me fiei a hashtags, memes ou rumores da internet – fui direto à imprensa séria, que dá mais certo.

Depois de dar uma vista d’olhos a uma dezena de artigos e análises, fiquei sabendo de tudo. Está aqui abaixo o que retive.

  • Bolsonaro provocou Lula. E este errou ao cair na arapuca

  • Bolsonaro chamou Lula de “vergonha nacional”

  • Lula chamou Bolsonaro de “pequeno ditadorzinho”

    (Dessas duas últimas, quem me informou foi a mídia estrangeira)

  • Bolsonaro tocou no ombro de Lula, o que causou frisson nacional

  • Moro deu conselhos a Bolsonaro durante o debate.

  • Dados distorcidos de segurança, covid e corrupção foram citados por ambos

  • Houve ironias, uma encarada e até troca de sorrisos entre os protagonistas

  • A audiência foi pr’as alturas

  • A esposa de Lula bocejou ostensivamente enquanto Bolsonaro discursava

  • Lula vestiu a gravata preferida por presidentes de 2014 pra cá

  • Bolsonaro vestiu gravata verde (amarela teria dado demais na vista)

  • Lula estourou o tempo, e permitiu um monólogo bolsonárico

  • Bolsonaro enrolou sobre mexida na composição do STF. Não confirmou nem informou, muito pelo contrário

  • Os candidatos se trataram mutuamente de “mentiroso”

    (E acertaram)

  • O ambiente esteve menos agressivo; gestos e palavras foram menos incivis do que estamos acostumados

Bom, chegando a este ponto, é hora de fazer umas perguntas. E daí? Pra que serviu o debate? Resumiu-se a tentativas de desqualificar o adversário? Que projetos foram discutidos? Quais foram os novos planos revelados ao distinto público?

Pelo que entendi, nenhum projeto foi tratado com a profundidade que se deve. Ideias soltas, do tipo “farei isso” ou “farei aquilo” surgiram, mas os candidatos giraram em torno da compota sem botar a mão dentro.

Ambos se referem basicamente ao passado, sem revelar sua visão de futuro (talvez por não a terem), sem a menor ideia do lugar que o Brasil deve ocupar num mundo transtornado pela nova distribuição de forças, com guerra na Europa, exportação de combustíveis bloqueada, mudanças climáticas, ameaça de conflito nuclear, veganismo em marcha acelerada, Amazônia em chamas, alta da inflação mundial, bolsas mundiais em queda desde o começo do ano.

Não se discutiu nenhum projeto para tirar o país do atraso. Educação, saúde, transportes, saneamento básico, formação profissional foram temas ausentes.

O horizonte está sombrio. Se os candidatos tivessem ideia de como agir para melhorar a vida da população, por certo teriam exposto seus planos. Se não o fizeram, é porque não sabem o que fazer.

Como de costume, vamos votar de olhos vendados. Dos dois, Bolsonaro tem sido o mais transparente. Sabemos que, com ele, o projeto será um só: sua permanência vitalícia no poder, custe o que custar, doa a quem doer.

Quem se contentar em ter na Presidência um cafajeste candidato a ditador, que vote no capitão. Ele não costuma decepcionar.

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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos,  dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.

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