Rua da minha saudade. Por Laurete Godoy
Voltei aos mesmos caminhos, que percorri em criança.
Rua da minha saudade, fatos da minha lembrança.
Nesses devaneios retorno à infância alegre, feliz, que vivenciei na cidade de Santos, meu lindo rincão natal, berço de figuras ilustres, que cobriram de glória e beleza páginas da ciência, das artes, da política e dos esportes. A mesma Santos que foi palco de eventos alegres e tristes da história do Brasil, marcos de épocas áureas e de difíceis momentos. Santos, terra da caridade e da liberdade, cantada, festejada e transformada em música, no passado, pela sonoridade das rimas de Vicente de Carvalho, Martins Fontes e, no presente, graças ao talento de outros grandes poetas e trovadores.
De vez em quando imagino estar, novamente, na Rua Espírito Santo, alegre travessa da Avenida Ana Costa. Lá vivíamos, na casa de número 33. Do jardim, lembro-me de um lindo pé de manacá, com flores pintando de roxo e branco a linda folhagem. Sempre que passava por ele cantarolava: “Lá detrás daquele morro, tem um pé de manacá…”. Até hoje, quando vejo uma planta dessas, imediatamente lembro-me da música.
O mundo recuperava-se dos horrores da Segunda Guerra Mundial, mas para nós, o importante era retornar da escola, trocar de roupa e ir para a calçada brincar até sermos chamadas para o jantar. Como brincávamos!
Guerra, só nos jogos de barrabol ou queimada, disputados em verdadeiros torneios, com direito a brigas, gritarias e “ficar de mau”. Eram tantas as brincadeiras! Amarelinha, Barra-Manteiga, Atirei um Pau no Gato, Uma-na-Mula, Estátua, Passar Anel, Teatrinho, pular corda ou jogar Peteca. Gostoso era brincar de “Seu Sabiá”. Fazíamos a roda, uma menina que era sorteada ficava de fora e nós cantávamos: – Entrar na roda, seu sabiá, lalaralalalalará … Ela entrava na roda e, em meio à cantoria, “seu sabiá” fazia tudo que determinávamos: dava bom dia, punha o chapéu e assim por diante. Não consigo recordar como a brincadeira terminava. Porém, esse detalhe não tem mais importância.
Importante é a saudade dos brinquedos na calçada e das meninas que talvez, como eu, lembrem-se dos momentos que o passar dos anos encarregou-se de deixar guardados nos escaninhos da memória.
Dia destes decidi visitar a rua onde cresci. Parei em frente ao número 33, fechei os olhos, cheguei a ouvir o alarido das crianças, brincando. Dei um suspiro, abri os olhos sorrindo e agradeci a Deus pela alegria de rever a:
Rua da minha saudade.
E emocionar-me com fatos da minha lembrança…
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Laurete Godoy – Escritora e pesquisadora. Autora de Brasileiros voadores – 300 anos pelos céus do mundo.
Recordar é viver.
Prof. Laurete, como sempre, surpreende pelo tema, mas mantém o padrão de bom gosto, objetividade e de recordações antigas, mas saborosas e instigantes. Parabéns
Realmente amiga fomos crianças felizes, todas essas brincadeiras e depois banho, jantar e ouvir estórias até dormir