the day after

The day after. Por José Horta Manzano

… Diante dos resultados oficiais do voto de ontem, ninguém ficou indiferente. Todos se surpreenderam. Grosso modo, metade do eleitorado estourou o champanhe e a outra metade baixou as orelhas e pôs as barbas de molho…

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Os institutos de pesquisa levaram uma pancada na moleira – todos eles. Não conseguiram avaliar os sentimentos latentes na população dos grandes colégios eleitorais: São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Agora tentam se escorar na explicação de um suposto “voto envergonhado”, fato que não bate com a realidade.

Veja só. Tenho conhecidos que, ao percorrerem o interior do estado de São Paulo seis meses atrás, já tinham me confiado que, naquela região, “todos são bolsonaristas”. Quase não acreditei, pois não é o que as sondagens indicavam. Se um simples cidadão consegue captar esse sentimento dominante, me parece erro grave que institutos especializados não detectem o fenômeno.

Andei fazendo umas continhas. Tomei o desempenho de Lula e Bolsonaro nesta eleição e comparei com eleições passadas. Cheguei a um resultado interessante. Vejam.

Em 2002, Lula conseguiu pela primeira vez passar para o segundo turno. Naquele primeiro turno, cravou 46,4% dos votos.

Na eleição seguinte (2006), depois de passar 4 anos no poder, nosso demiurgo se recandidatou e chegou de novo à final. No primeiro turno daquele ano, fez 48,6% dos votos, um incremento de 2,2 pontos percentuais. Excelente desempenho.

Seguiu-se um hiato de doze anos, em que se sucederam mensalão, petrolão, processos, julgamento, recurso e prisão. Passada a tempestade, Lula voltou à carga e recandidatou-se. Neste primeiro turno de 2022, acaba de obter 48,4%. Ou seja, apesar dos pesares, praticamente igualou sua marca de 12 anos atrás. Haja resiliência!

…Uma análise honesta revela que, enquanto Lula soube conservar seu capital eleitoral, o capitão perdeu cerca de 3.300.000 votos (três milhões e trezentos mil). Portanto, teve, sim, menos votos do que em 2018…

Em 2018, o candidato Bolsonaro passou para a etapa final. Naquele primeiro turno, atingiu a marca de 46,0% dos votos, excelente para um iniciante. Seguiram-se 4 anos caóticos, com pandemia tratada a bofetadas, destruição da Amazônia, disseminação de armas, insultos e baixarias no varejo e a granel.

Logo após a publicação dos resultados deste primeiro turno de 2022, o capitão se gaba de ter tido mais votos do que em 2018. O que ele omite é que o eleitorado cresceu 10%, proporção muito maior que os votos que ele recebeu a mais.

O TSE confirma que Bolsonaro acaba de cravar 43,2%, uma marca inferior de quase 3 pontos ao resultado de 2018. Uma análise honesta revela que, enquanto Lula soube conservar seu capital eleitoral, o capitão perdeu cerca de 3.300.000 votos (três milhões e trezentos mil). Portanto, teve, sim, menos votos do que em 2018.

Ser abandonado por milhões de eleitores nunca é bom sinal. O básico, para um governante que pretende se reeleger, é reforçar seu patrimônio eleitoral ao longo do primeiro mandato. Se o capitão não conseguiu, apesar de toda a ginástica que tem feito, é porque não leva jeito para a coisa.

 Consideração final

Não acredito que metade dos brasileiros seja bolsonarista e que a outra metade seja lulopetista. Não é assim que se deve analisar os resultados. A meu ver, mais do que a adesão às ideias ou ao “programa” de cada um deles, os resultados estão a indicar um voto contra.

É simples: há os antipetistas e há os antibolsonaristas. Uns juram não querer um ladrão na Presidência. Outros afirmam não suportar um cafajeste no Planalto.

Partindo do princípio que, uns mais e outros menos, todos roubam, a escolha não me parece complicada.

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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos,  dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.

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