Maria Fumaça. Por Silvia Zaclis

… Afinal, de quem é a culpa? Achar culpados é um esporte a que os seres humanos se dedicam há milênios; só o castigo é que varia de acordo com o século da ocorrência ou o grau de civilidade do povo. Acontecem casos, sim, em que o culpado se faz de inocente e a vítima que se dane…

Bem que a Mafalda do Quino tem razão: quando a gente está na praia e vê todo aquele povo caminhando, sorrindo, curtindo o dia, dá impressão de que ninguém tem culpa de nada.

Se eu der um pulo na padaria agora, vou cruzar com algum vizinho no elevador, com o porteiro, o rapaz do posto de gasolina, o dono da banca de jornais, a atendente, o caixa. E assim o dia todo, o mês todo… sei lá até quando.

Imagino que nesses passeios pela vida eu verei centenas de pessoas que parecem não ter culpa de nada. Imagino, também, que elas possam olhar para mim com a mesma dúvida: o que você aprontou?

Afinal, de quem é a culpa? Achar culpados é um esporte a que os seres humanos se dedicam há milênios; só o castigo é que varia de acordo com o século da ocorrência ou o grau de civilidade do povo. Acontecem casos, sim, em que o culpado se faz de inocente e a vítima que se dane.

Para mim, São Paulo é o vilão da hora; a gente merece o título de “locomotiva do Brasil”; pois só uma máquina fumacenta e sujeita a descarrilamentos em trilhos malconservados poderia colocar como seu representante na Câmara um ex-ministro que propôs passar a boiada enquanto o pessoal estava distraído, tossindo com a Covid.

Mais de 640 mil moradores da locomotiva apertaram o botão, viram a foto estilo Ivy League e confirmaram! Serra não se elegeu deputado federal, mas o Ricardo, sim. Sorte que a vaga aberta no Senado foi ocupada por um astronauta. Um astronauta brasileiro.

Legal, qualquer coisa, a gente se manda num foguete.

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SILVIA ZACLIS – É JORNALISTA