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Ganhou a extrema-direita reacionária evangélica. Por Rui Martins

PERIGO:

GANHOU A EXTREMA-DIREITA REACIONÁRIA EVANGÉLICA

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…Ganhou o extremismo reacionário, ganhou a extrema-direita reacionária evangélica.Nossa esquerda, acostumada com as lutas contra o poder político da Igreja Católica, que exercia seu poder sobre o povo desde a colonização… 

A constatação que posso fazer diante dos resultados obtidos por Lula e Bolsonaro neste primeiro turno, é a da grave miopia da nossa esquerda diante do avanço dos evangélicos, hoje um movimento de extrema-direita alimentado pela extrema-direita norte-americana.

Nada a ver com religião, mas um movimento de dominação estrangeira infiltrado como uma quinta-coluna no nosso país, com uma extraordinária força de desmobilização social junto às classes pobres e populares.

Ganhou o extremismo reacionário, ganhou a extrema-direita reacionária evangélica.Nossa esquerda, acostumada com as lutas contra o poder político da Igreja Católica, que exercia seu poder sobre o povo desde a colonização,  com o controle da terra e implantação do escravagismo, não perdendo o controle nem com a Abolição, se desmobilizou nessa área diante da  transformação operada dentro da Igreja e sua abertura para um socialismo  cristianizado, para uma nova teologia libertária.

Uma tendência que se cristalizou e marcou o movimento social no Brasil a partir dos anos 60, construída sobre as cinzas das ideias sociais libertárias marxistas comunistas reprimidas pelo varguismo, toleradas alguns anos depois da vitória contra o nazifascismo para serem de novo reprimidas.

Do fim da Segunda Guerra ao Golpe de 1964, não houve muito espaço de liberdade para se fazer grandes reformas sociais. Mas foram lançadas as bases para as principais leis sociais, algumas já vindas do varguismo, que salvaram o Brasil de revoluções regionais e de uma fragmentação.

As artes tiveram também um grande papel na não fragmentação do Brasil – a música, teatro, cinema, a literatura ajudaram a se atravessar unidos os brasileiros na fase da industrialização.

Entretanto, enquanto o petismo procedia a transformações sociais indolores, revalorizando os trabalhadores, procedendo a reformas sociais sem atritos, alguma coisa se preparava na surdina.

Retornou com força o neocoronelismo  do controle das terras pela posse das riquezas naturais do Brasil, alimentado pelo projeto gigantesco do agronegócio de se apropriar das ricas terras nativas ainda não exploradas para a exploração agrícola intensiva de produtos básicos destinados à exportação, num retorno modernizado e atualizado à ideologia e economia da época colonial.

Mas isso não seria possível num Brasil que ganhava espaço no mundo internacional, na ONU, na diplomacia. Era preciso urgente encontrar um agente desagregador que infectasse o país e restabelecesse o mesmo clima de domínio colonial.

Como? Que tipo de veneno poderia ser inoculado na pujante nação brasileira que já se destacava no cenário mundial? Uma droga capaz de ser consumida discretamente pelas camadas populares, torná-las dóceis, passíveis e controláveis.

Feitas as adaptações necessárias, os laboratórios sociais neocapitalistas norteamericanos produziram um novo veneno, o da Teologia da Dominação, baseada num releitura da Bíblia, uma mistura espúria e bem dosada de velho e novo Testamento, capaz de impedir os surtos de lutas por conquistas sociais na população pobre. Veneno sem cor e sem cheiro, ministrado semanalmente e discretamente todas as semanas nas escolas dominicais e lançado dos púlpitos das igrejas sobre os fiéis.

Em outros textos já declarei – não sou e nem pretendo ser um Cícero contra Catilina, mas o Brasil não será mais o mesmo se não for encontrado um antídoto contra esse veneno do evangelismo neocapitalista da extrema-direita norte americana,  inoculado pelo novos agentes do imperialismo em nosso país.

Será tarde demais? Talvez, mas é preciso reagir rápido, senão, além de nossa secessão e fim da nossa unidade política e territorial, será o fim de toda nossa cultura, de todo nosso acervo cultural e da nossa filosofia brasileira de vida.

Parem um instante, reanalisem os fatores determinantes da eclosão dos novos paradigmas sociais lançados pela extrema-direita bolsonarista evangélica. Onde estão as fontes e as bases desse movimento extremamente reacionário e desmobilizador?

Nosso tempo é curto, se você concorda, em todo ou em parte, repasse e alerte seus amigos. O perigo disso que chamo de  Teologia da Dominação é crescente. Implantado discretamente como embrião durante a Ditadura militar, esse perigo está atingindo hoje sua maturidade, aliado ao neoliberalismo e à extrema-direita internacional.

Se não reagirmos, ele levará ao fim o Brasil que hoje conhecemos!

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Náufrago da Utopia: RUI MARTINS: BRECHT O CHAMARIA DE "IMPRESCINDÍVEL"Rui Martins – é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu Dinheiro sujo da corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, A rebelião romântica da Jovem Guarda, em 1966. Foi colaborador do Pasquim. Estudou no IRFED, l’Institut International de Recherche et de Formation Éducation et Développement, fez mestrado no Institut Français de Presse, em Paris, e Direito na USP. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.

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1 thought on “Ganhou a extrema-direita reacionária evangélica. Por Rui Martins

  1. A religião, ao longo da História, sempre foi o ópio do povo. Mas em nosso país transformou-se numa peste, uma doença endêmica dificilmente curável. Rui Martins põe o dedo na ferida e mostra essa pústula que contamina o povo mais pobre e ignorante, presa fácil de pastores e mitos.

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