SOS língua portuguesa. Por Arnaldo Niskier
… Reiteradas vezes temos dito, na Academia Brasileira de Letras, que a nossa obrigação primeira é cuidar com desvelo da língua portuguesa. E isso, naturalmente, parte da educação oferecida aos jovens estudantes…
Reiteradas vezes temos dito, na Academia Brasileira de Letras, que a nossa obrigação primeira é cuidar com desvelo da língua portuguesa. E isso, naturalmente, parte da educação oferecida aos jovens estudantes. Com dados oficiais, agora divulgados pelo Ministério da Educação, pode-se concluir que houve um grande recuo no ensino fundamental. A proporção de crianças sem saber ler no 2º ano praticamente dobrou após a pandemia. Isso certamente afetará os resultados do que chamamos de índices de leitura. É claro que uma coisa está ligada a outra, a exigir urgentes providências pedagógicas, em especial nos estudos da 2ª e da 3ª série do ensino fundamental.
O assunto foi debatido em reunião especial, na semana passada, na Comissão de Lexicografia e Lexicologia da Academia. Presentes os seus membros Evanildo Bechara, Domício Proença e eu próprio. Foi sugerido que a ABL ofereça ao Ministério da Educação um estudo sobre a matéria, com a criação de um grupo de trabalho e a realização de sessões especiais destinadas a acolher professores de Língua Portuguesa do sistema público de ensino, de forma gratuita. Os primeiros trabalhos seriam feitos com a parceria da Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro.
Ficou evidente que a pandemia reduziu o aprendizado em toda a educação básica, com prejuízo, inclusive, na área de matemática (ênfase na 5ª série). Pode-se avaliar desde logo os estragos que esse fato provocará em todo o desenvolvimento do extrato do ensino médio. Calar diante disso não é aconselhável.
Esse projeto poderá ser estendido a outros Estados, desde que haja o necessário acordo. Os resultados alcançados provam que a solução proposta pelo governo (educação domiciliar) não surtiu qualquer efeito positivo.
Com esses resultados (queda no número de pontos em Português e Matemática) não há dúvida de que o Brasil se comportará muito mal nas avaliações feitas pelo Pisa. O país vai retroceder. Conclui-se que a alfabetização à distância foi um fracasso. É sempre necessária a mediação de um professor presencial. E assim se poderá ter esperança de melhores resultados ao longo de todo o ensino fundamental, e não somente na 2ª e na 3ª séries.
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Arnaldo Niskier – Imortal. Sétimo ocupante da Cadeira nº 18 da Academia Brasileria de Letras. Professor, escritor, filósofo, historiador e pedagogo. Foi presidente da Academia Brasileira de Letras e secretário estadual de Ciência e Tecnologia e de Educação e Cultura do Rio de Janeiro.
Sr. Arnaldo, o Brasil não irá retroceder! Retrocede há anos paulatina, dolorosa e silenciosamente – uma constatação visível e audível nos programas de auditório que infestam as televisões do país, mas não só: os jornalistas dos noticiários (de tv e rádio) causam desalento pelos erros cometidos com a nossa língua.
Fosse só a vergonha na classificação no Pisa estaríamos felizes.
Esse descaso com a Educação no Brasil (no meu entender proposital) segue um roteiro muito objetivo, bem direcionado e com um fim específico: o de continuar a ter uma população ignorante, um gado mais fácil de enganar e de dirigir.