Argentina, 1985

Um filme que o Brasil precisa ver. Por Wladimir Weltman

O filme chama-se ARGENTINA, 1985 e inspira-se no histórico julgamento das juntas militares que governaram a Argentina de 1976 a 1982. Onde nove membros de três juntas militares anteriores enfrentaram acusações que vão desde falsificação de documentos públicos até homicídio…

filmeO ano de 1985 é um ano que ficou marcado em minha memória por diversos acontecimentos importantes na vida de brasileiros e argentinos.

No mês de abril de 1985 os brasileiros aguardavam ansiosos a oportunidade de comemorar a volta de um civil ao Palácio do Planalto. Tancredo Neves seria o primeiro presidente não militar a tomar posse depois de 21 anos de ditadura militar. Um presidente que parecia agradar imensamente a maioria dos brasileiros. Mas, antes que pudesse tomar posse, Tancredo faleceu vítima de um tumor canceroso no intestino. Acho que foi a última vez que me envolvi emocionalmente com a política nacional. Com Tancredo morreu em mim algo de inocente que ainda havia nesse sentido.

Já os argentinos tiveram naquele ano a possibilidade de ver renascer o orgulho nacional, tão massacrado pela derrota numa guerra infeliz contra a Inglaterra pelas ilhas Malvinas (Falklands) e também por seis anos de ditadura militar sangrenta.

Enquanto no Brasil a Comissão Nacional da Verdade confirmou 434 mortes e desaparecimentos de vítimas da ditadura militar no país, na Argentina os números foram muito maiores. As estimativas oficiais contabilizam entre 10 a 30 mil mortos e desaparecidos, incluindo aí mais de 500 bebês e crianças.

 

filme ARGENTINA
                                               Foto do julgamento da junta militar argentina em 1985

Para lavar a alma dos nossos vizinhos e para nos fazer gritar bem alto “nunca mais” chega agora às telas um filme que recomendo do fundo do coração a todos os brasileiros, principalmente os da nova geração que não viveram esses momentos e para aqueles, já mais velhos, mas que continuam falando de forma imbecil na volta da ditadura.

O filme chama-se ARGENTINA, 1985 e inspira-se no histórico julgamento das juntas militares que governaram a Argentina de 1976 a 1982. Onde nove membros de três juntas militares anteriores enfrentaram acusações que vão desde falsificação de documentos públicos até homicídio. Durante oito meses, o julgamento concentrou a atenção nacional, num processo quase terapêutico para a psiquê nacional.

FILMEO filme dirigido por Santiago Mitre (PAULINA, LA CORDILHEIRA) e roteirizado por ele e por Mariano Llinás, filmado nas locações reais onde a ação aconteceu, conta da luta dos promotores publicos Julio Strassera (vivido pelo carismático ator argentino Ricardo Darín) e Luis Moreno Ocampo (Peter Lanzani) e uma equipe jurídica de jovens, que sob constante ameaça conseguiram montar uma acusação em tempo recorde e processar uma das juntas militares mais sangrenta da Argentina, fazendo justiça às vítimas da ditadura.

O filme é excelente e a recriação histórica brilhante. Confesso que sou fã de carteirinha do cinema argentino. Como roteirista, tiro o chapéu aos colegas do país vizinhos. Seus roteiros são muito superiores aos nossos (meu colegas roteiristas brasileiros que me perdoem, mas é o que acredito).

O filme acaba de ganhar o Prêmio do Público no Festival de Cinema de San Sebastian (Espanha) com uma pontuação de 9,14 de 10,  uma das mais altas da história do festival. E no dia 9 de setembro recebeu o Prêmio Fipresci de Melhor Filme da Competição Oficial do Festival Internacional de Veneza.

Quem assistir a este filme vai rir, chorar, e ainda sairá da frente da tela com alguma esperança na raça humana.

Pena que ele será lançado no Brasil apenas na telinha (Prime Video) e no dia 21 de outubro, dias depois do primeiro turno das nossas eleições.

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WLADIMIR WELTMAN – é jornalista, roteirista de cinema e TV e diretor de TV. Cobre Hollywood, de onde informa tudo para o Chumbo Gordo

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(DIRETO DE LOS ANGELES)

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