Ajuste de discurso. Por Silvia Zaclis
Segue memorando número 549/22, para o pessoal do marketing:
Que decepção, meus senhores, que decepção! Os pobres resultados da nossa candidatura nas pesquisas da semana mostram que seu trabalho é uma porcaria, vocês prometem e não entregam. Então, pra variar, sobra para mim dar um jeito. Tudo eu, tudo eu!
É o seguinte, vamos fazer alguns ajustes no nosso (meu) discurso. A saber:
- Depois de fundar clubes de tiro, e de financiar projetos de lei em favor das armas, agora Vou surgir como paladino em defesa do desarmamento da população, combater as leis de compra e porte de armas… esse tipo de coisa. Tenho que parecer sincero nessa conversão, mas não florzinha. E quem disser que eu não faço, eu pego e arrebento.
- Diz aí que, se depender de mim, vai ser proibido fumar em todo o território da Amazônia. Essa é boa! Fica parecendo que os incêndios são causados pelas guimbas e que os culpados são gente de lá mesmo; e que tal mostrar índio fumante? Sopa no mel.
- Vou precisar de umas galinhas pretas, algumas garrafas de cachaça, uma caixa de charutos (nacional, não cubano, olha lá…). A gente grava à noite numa encruzilhada, eu e o despacho. Depois damos um jeito de mandar o filme para a campanha dos outros candidatos como se fosse uma baita sacada dos meus inimigos. Ganho uns pontinhos na matriz africana e para os nossos digo que é montagem.
- Essa é de lascar, mas parece que preciso mostrar algum interesse pela cultura; me marca aí um teatro, talvez um concerto, mas que seja curto, se tiver circo, melhor ainda.
- Me compra aí uns livros desses com capa de couro colorido para aparecer nas minhas lives. Tenho duas prateleiras, acho que três metros de livros devem resolver o problema.
- Falando em ajuste, precisa mandar a moto para a oficina, ela está falhando na partida, acho que é grave.
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SILVIA ZACLIS – É JORNALISTA
Maravilhoso texto! Como sempre!
Se todas fossem igual a você! Que maravilha….