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O king. Por José Horta Manzano

… A continuar desse jeito, sua popularidade vai pro beleléu, e a aventura pode terminar mal. A Grã-Bretanha, que já teve seu Brexit, pode perfeitamente ter um Kingxit.

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Uma parte dos britânicos tem o sentimento de que a monarquia, ainda que constitucional, é tradição empoeirada, que não combina com os tempos atuais. As gerações mais antigas são mais complacentes e não se sentem chocadas pelos gastos engendrados pela família real. Já os mais jovens são menos indulgentes.

Nos últimos setenta anos, toda discussão séria em torno da abolição da monarquia foi inibida pela personalidade carismática da rainha Elizabeth II. O magnetismo da monarca era tão grande que abafou toda dissensão. A maioria dos britânicos sentia orgulho de sua rainha e, colateralmente, da família real – apesar das estrepolias. (Ou talvez por causa delas.)

Esta semana, ainda estamos em período de luto. A comoção provocada pelo falecimento de Elizabeth II ainda paira no ar. O reino tem novo rei, mas, na verdade, a ficha ainda não caiu. Só a partir da semana que vem, quando a poeira baixar, é que os súditos vão pouco a pouco encarar a nova realidade.

Uma pesquisa do site britânico YouGov, feita no primeiro semestre deste ano para aferir a popularidade dos membros da família real, informa que o (agora) rei Charles III ocupava um obscuro 12° posto. Em primeiro, aparece a rainha, com 68% de popularidade. Seguem-se os filhos de Charles, as noras, a irmã (Anne), a esposa (Camilla) e até algumas sobrinhas. Charles alcançava apenas 34% de popularidade, nível muito baixo para um rei.

A emoção da perda da rainha fez que a popularidade do novo rei subisse imediatamente. Mas não há que se deixar enganar por esse movimento. O que sobe muito rápido hoje pode descer amanhã com a mesma rapidez. Bastam dois ou três escorregões do novo monarca.

Ele nem esperou passar o período de luto para começar a escorregar. Pelo menos em duas ocasiões, já mostrou diante das câmeras toda a sua arrogância e todo o seu mau humor. Comporta-se como um ser superior, que todos são obrigados a temer e a reverenciar.

Num dos episódios, no momento de assinar uns documentos, a caneta vazou. O soberano deu um piti, saiu praguejando, largou a esposa desamparada falando sozinha.

O outro vexame também ocorreu na hora de assinar papéis. (Francamente, parece que Charles tem um problema com canetas.) Incapaz de encontrar um lugar na mesinha para acomodar a bandejinha com as canetas, fez uma careta de impaciência, sacudiu a bandeja para chamar um serviçal e obrigou-o a vir correndo tirar o pequeno porta-canetas para ele conseguir assinar. Foi um acesso de arrogância explícita.

A continuar desse jeito, sua popularidade vai pro beleléu, e a aventura pode terminar mal. A Grã-Bretanha, que já teve seu Brexit, pode perfeitamente ter um Kingxit.

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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos,  dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.

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2 thoughts on “O king. Por José Horta Manzano

  1. Caro Manzano,
    Realmente, parece que não leva jeito para a coisa o atual Charles III, fazendo pensar que a sua mãe não abdicou para não ter o dissabor de vê-lo em vida agir como reis antigos, mas bem, bem, antigos.
    Leio que tem manias, com creme dental, ovos cozidos, levar pertences se precisa outros ambientes (dizem que leva até a cama), assento de vaso sanitário, fala com plantas, troca de roupa 5 a 6 vezes ao dia, ter o pijama e cadarços passados a ferro, antes de usar, duas ameixas no suco matinal – quando come apenas uma – e por aí vai…
    Imagina ser serviçal de um sujeito desses?
    Assim não há povo que aguente e, logo acabam com essa monarquia e mordomias.
    Afinal, pensando bem, para que servem nos dias atuais reis – ao estilo do Reino Unido – ou mesmo o Papa?
    Tempos atuais não ornam com tais coisas tão ultrapassadas…
    Inté!

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