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Filmes para não deixar de ver. Por Rui Martins

(RESCALDOS DO FESTIVAL DE CINEMA DE LOCARNO 2022 – PRECIOSAS INDICAÇÕES DE FILMES)

Depois de termos comentado alguns dos filmes em concurso, é hora de destacar alguns outros que os leitores não devem perder, caso sejam exibidos no Brasil ou sejam acessíveis pela internet.

O primeiro destaque seria para o filme “Tartaruga de Pedra”, uma coprodução malaio-indonésia, dirigida por Ming Jin Woo, a história da vingança de uma jovem contra o autor do seu estupro, do qual engravidara. Filmado nas praias de uma ilha da Malásia, tem cenas de extrema crueldade e violência. Em lugar do crime mais comum nas nossas sociedades ocidental e oriental, o feminicídio, a jovem Zahara irá cometer um crime mais raro, o androcídio, contra o pai de sua filha.

Ming Jin Woo não é um desconhecido para os cinéfilos: seus filmes tratando das relações do homem com a natureza já foram exibidos em Berlim, Veneza, Roterdã e Turim, onde “Elefante e o Mar” recebeu o prêmio especial do júri. Para muitos críticos, “Tartaruga de Pedra” merecia um dos prêmios da competição em Locarno.

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Merece destaque como denúncia contra a beatice, o filme austríaco “Vou Querer Servir”, da cineasta Ruth Mader, cujo primeiro longa-metragem “Struggle” foi apresentado há alguns anos, em Cannes, na seção Un certain regard.

Qualquer semelhança não seria mera coincidência, com internatos ou escolas católicas de jovens filhas da classe média alta, onde são adestradas para servirem a igreja, se submeterem e preservarem o domínio da fé dentro das famílias. O filme evolui num internato católico, onde uma jovem diretora fanática quer convencer as jovens alunas a serem fiéis seguidoras da religião e mesmo fazerem penitências dolorosas. Os pais devotos seguidores da igreja não percebem os danos, inclusive físicos, causados às suas filhas.

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O filme “Sermão para o Peixe”, de Hilal Baydarov (nascido em Baku, no Azerbaijão), tem tudo para ser uma profecia sobre a desolação do fim do mundo. Quando o jovem Davud retorna da guerra ao seu vilarejo não encontra mais nada. Seus habitantes foram corroídos por uma estranha doença e morreram. Só resta sua irmã, que está apodrecendo aos poucos. A região se tornou um campo de exploração do petróleo, os peixes se envenenaram, não há mais o que comer e nem água potável. Vive-se o luto da família e do futuro. Enquanto sua irmã quer ouvir a voz divina, seu irmão tem pesadelos com seus companheiros mortos no Alto Karabag. São as sequelas deixadas pela guerra, enquanto o petróleo penetra e embebe a terra, numa espécie de visão apocalíptica da calamidade e do crepúsculo do mundo. O filme é uma coprodução do Azerbaijão com o México, Suíça e Turquia.

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Como uma pausa, em meio a tantos filmes duros, dolorosos e angustiantes, embora reais, “A Piazza Grande mostrou no seu telão a coprodução belgo-suíça “A Última Dança”. Uma reconfortante e otimista história do reencontro de um velho aposentado com a vida por meio da dança. Viúvo aos 75 anos, Germain rejeita o papel de um velho do qual a família quer se ocupar. Sua esposa, bem mais nova, gostava da dança e em homenagem a ela Germain aceita participar do projeto de dança contemporânea do qual ela fazia parte. E Germain aprende a dar vida nova ao seu corpo já envelhecido, participa das repetições, aprende gestos, movimentos e supera sua timidez inicial até o encontro com o público. Dirigido pela cineasta suíça Delphine Lehericey, o projeto era fazer um filme sobre o luto, mas de uma maneira leve e mesmo divertida.

O projeto deu certo – após dez dias de projeção de filme de países e estilos diversos, os votos dos espectadores da Piazza Grande deram o Prêmio do Público para “A Última Dança” e ao ator François Berléand, no papel de Germain.

Rui Martins esteve no 75º Festival Internacional de Cinema de Locarno, colaborando com o Chumbo Gordo

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Náufrago da Utopia: RUI MARTINS: BRECHT O CHAMARIA DE "IMPRESCINDÍVEL"Rui Martins – é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu “Dinheiro Sujo da Corrupção”, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, “A Rebelião Romântica da Jovem Guarda”, em 1966. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.

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