Um passeio na Disneylândia dos cinéfilos. Por Wladimir Weltman
… DISNEYLÂNDIA DOS CINÉFILOS -Estou falando do Museu da Academia de Hollywood. Inaugurado no dia 30 de setembro de 2021, tive o privilégio de conhecê-lo junto com o resto da imprensa internacional, dias antes da inauguração. Não me decepcionei. Só o edifício em si já é um espetáculo…
[Fotos de Gaby Atherton & Dorinha Fagundes]
Estou distante do Brasil, mas não insensível a seus problemas. Vendo postagens na Internet sobre o dia a dia no Patropi, fico ciente do que vocês estão passando.
Infelizmente não poderei votar nas eleições que se aproximam. Há meses tento sem sucesso me registrar no consulado brasileiro em Los Angeles. Finalmente, depois de inúmeras tentativas telefônicas e e-mails – apesar dos restaurantes aqui deixarem a gente frequentá-los com uso limitado de máscaras, o nosso consulado só atende os brasileiros online ou via correio – descobri que só em dezembro eles voltarão a fazê-lo. A desculpa é falta de pessoal…
Seja como for, sei que vocês aí estão angustiados com as incertezas que essas eleições aportam. Por isso evito postar coisas que possam fazer vocês sofrerem mais, simplesmente por ver que em outras plagas a vida segue um pouco menos sacrificada. Creio que seja doloroso para a maioria ver amigos que podem viajar pelo mundo e, ou, desfrutar as maravilhas da boa mesa e o glamour dos hotéis frequentados pelos “rich and famous” do primeiro mundo.
Mas se escrevo estas linhas sobre um passeio recente que fiz a um belo museu de Los Angeles dias atrás, é porque sei que os cinéfilos como eu vão gostar de ter acesso a essas informações e poderão escapar um pouco nessa narrativa.
Estou falando do Museu da Academia de Hollywood. Inaugurado no dia 30 de setembro de 2021, tive o privilégio de conhecê-lo junto com o resto da imprensa internacional, dias antes da inauguração. Não me decepcionei. Só o edifício em si já é um espetáculo.
O museu tem cinco andares e é considerado o maior dos Estados Unidos dedicado à história, artes, ciências e impacto cultural da indústria cinematográfica. Ele fica no bairro de West Hollywood, nas esquinas da Wilshire Boulevard e a Avenida Fairfax (curiosamente o local da ação do filme VULCANO – A FÚRIA, de 1997).
O museu compreende a estrutura redonda apelidada de “A Estrela da Morte” (referência ao filme GUERRA NAS ESTRELAS) e o antigo e histórico edifício Art Decô da May Company, construído em 1939.
No seu interior existem diversos espaços de exposição, contendo uma coleção de mais de 13 milhões de artefatos da história do cinema. Entre suas peças mais conhecidas estão os sapatos de rubi de Dorothy de O Mágico de Oz, a máquina de escrever de Alfred Hitchcock, os robôs de GUERRA NAS ESTRELAS, Oscars do passado e do presente, e uma infinidade de outras coisas maravilhosas.
Apesar de viver nos EUA, estou longe de ser um dos “Rich and Famous” de Beverly Hills, mas minha condição de jornalista me permite acesso a lugares como este museu e, dias atrás, achei que estava na hora de levar minha família a conhecer o Museu da Academia, um ano depois de sua inauguração.
Ao chegarmos, subimos direto ao quinto andar e entramos no impressionante vão semiaberto na parte superior da “Estrela da Morte”, essa cúpula de vidro espetacular de onde se descortina uma vista rara que eu não conhecia de Los Angeles – os bairros de Beverly Hills, West Hollywood e Hollywood que se espalham maravilhosamente a nossa frente. As fotos de Gaby, minha esposa e de Dorinha Fagundes, podem comprovar o que digo.
Descemos em seguida para o quarto andar, recepcionados por “Bruce”, o tubarão de borracha mecânico usado por Spielberg no filme TUBARÃO de 1975, que fica pendurado permanentemente ali.
Nesse andar visitamos a recém-inaugurada exposição “Regeneration: Black Cinema 1898–1971”, que explora a rica história da participação negra no cinema norte-americano desde seus primórdios até um pouco além do movimento pelos direitos civis.
O título da exposição – Regeneração — foi inspirado num filme independente negro de 1923. A amostra procura reviver filmes, cineastas e artistas perdidos ou esquecidos para o público atual. Apesar de marginal e de recursos limitados, o cinema negro produziu muitos filmes dirigidos à comunidade negra, ajudando a construir e fortalecer a identidade do homem de cor americano, primeiramente entre eles e, posteriormente, para todo o resto da sociedade dos EUA.
A exposição conta essa história através de sete galerias e temas. Entre os mais de 225 objetos originais expostos, os visitantes veem fotografias, roteiros, desenhos, figurinos, equipamentos de filmagem, pôsteres e obras de arte originais. Em destaque desenhos de figurinos do filme CARMEN JONES (1954); roupas usadas por Lena Horne e Sammy Davis Jr. em STORMY WEATHER (1943); os sapatos de sapateado dos irmãos Nicholas; um dos instrumentos de Louis Armstrong e as botas de cowboy de Herb Jeffries num raro western chamado HARLEM ON THE PRAIRIE (1937). A exposição também apresenta trechos raramente vistos de filmes restaurados pelo Academy Film Archive e uma serie de imagens de outros filmes.
No terceiro andar vimos a primeira parte da exposição “Stories of Cinema”, que incluia uma genial instalação da obra do diretor espanhol Pedro Almodóvar, além da “An Invisible Art Backdrop: An Invisible Art”, que destaca o monumental telão do filme de Hitchcock NORTH BY NORTHWEST (INTRIGA INTERNACIONAL) com o monte Rushmore.
Ainda no terceiro andar um lance divertido –“The Oscar Experience” – uma sala onde os visitantes podem segurar uma autêntica estátua do Oscar e fazer o seu discurso (bem curto) de agradecimentos, recebendo depois o vídeo gravado pelo e-mail.
No segundo andar, outro trecho da exposição “Stories of Cinema” inclui 6 galerias rotativas que homenageiam filmes e cineastas que contribuíram significativamente para o cinema – Babenco já foi um dos incluídos com o poster de PIXOTE.
A exposição também dá destaque aos ofícios necessários para realização de filmes, incluindo roteiristas, cinematógrafos, editores, figurinistas, cabeleireiros e maquiadores e muito mais. O segundo andar também inclui uma galeria da história do Oscar, com vídeos e outros objetos relacionados a premiação, além da exposição de diversas estatuetas originais de vencedores do passado, para a gente ver e fotografar de perto.
Há um entrepiso que dá acesso ao “David Geffen Theater”, uma sala de cinema imensa, dentro da “Estrela da Morte”, onde acontecem premières e projeções especiais.
E, finalmente, voltamos ao primeiro andar, onde fica o “Spielberg Family Gallery” com uma instalação de mídia multicanal imersiva que viaja desde os primórdios do cinema até os filmes inovadores de hoje . São mais de 700 filmes numa apresentação multicanal de 13 minutos.
Ao lado da galeria, fica a “lojinha” do museu, que só vende mercadorias ligadas ao mundo do cinema e Hollywood. Um paraíso para colecionadores – posters, camisetas, bonés, botões, jogos, brinquedos etc., etc e etc. Tudo muito bonito e caro.
Do outro lado do salão fica o café e bar Fanny’s, batizado assim em homenagem a Fanny Brice – a lendária estrela de cinema, vaudeville, teatro e rádio interpretada por Barbra Streisand no filme FUNNY GIRL (1968).
Depois de quase 3 horas passeando pelo museu, voltamos pra casa felizes pela imersão no fantástico mundo cinematográfico, em plena capital do cinema americano. Um universo mágico, que redime um pouco nossa espécie na face da terra.
Quando puder, se puder, venha a Los Angeles visitar. E, se não puder, visite-o virtualmente — Home (academymuseum.org)
LOCALIZAÇÃO: 6067 Wilshire Boulevard, Los Angeles, CA 90036 USA
CONTATOS: academymuseum@oscars.org – (323) 930-3000
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WLADIMIR WELTMAN – é jornalista, roteirista de cinema e TV e diretor de TV. Cobre Hollywood, de onde informa tudo para o Chumbo Gordo
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(DIRETO DE LOS ANGELES)
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