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Uma campanha atormentada. Por Angelo Castelo Branco

… A essência de uma campanha política enquanto oportunidade adequada à apresentação de propostas e metas em favor do povo e da nação, foi cancelada. Os interessados na posse e no uso do poder público preferem fazer um jogo marginal de narrativas…

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A invasão da privacidade por militantes e uma brutal interferência no direito ao livre juízo de valor, temperadas com generosas porções de ódio e patrulhamento ideológico, são alguns dos indicadores explícitos no conflagrado processo eleitoral em curso.

A essência de uma campanha política enquanto oportunidade adequada à apresentação de propostas e metas em favor do povo e da nação, foi cancelada. Os interessados na posse e no uso do poder público preferem fazer um jogo marginal de narrativas, obstinados em alienar a população e desviá-la da valiosa oportunidade democrática de se dissecar o Brasil que tivemos, o que temos, e o que desejamos ter. Falta luz no final do túnel eleitoral.

Os candidatos encobertos pela cortina de fumaça ideológica devem explicações ao eleitor brasileiro. O petista Lula, por exemplo, não disse ainda quais serão os critérios para a nomeação de titulares de cargos públicos, caso, naturalmente, ele venha a ser eleito. Se vai ou não vai impor ao país os mesmos riscos de desvios de conduta administrativa fartamente denunciadas em formato de escândalos nos governos por ele liderados. O silêncio do candidato causa dúvidas e especulações de toda sorte.

Do outro lado, Jair Bolsonaro precisa esclarecer se pretende ou não conduzir uma nova gestão ignorando, como tem feito, a necessária liturgia do poder. Um presidente da República não pode provocar conflitos desnecessários com setores da sociedade, nem tampouco abrir a boca o tempo todo subestimando as regras milenares do “silêncio é ouro”. O eleito é responsável por todos, independentemente da cor do voto dado. Opiniões pessoais, que as guarde para si. O que interessa são os resultados da gestão e não as brigas da esquina.

A permanente inédita ingerência do STF nos demais poderes da República é também um fator importante de desconforto institucional nessa campanha. Preocupa porque o judiciário estabelece o paradoxo da insegurança jurídica. O poder a que compete manter a fortaleza das regras constitucionais interfere ao ponto de ser confundido com uma instituição de natureza política. Seus movimentos surpreendem e fragilizam as decisões quer do Executivo quer do Legislativo.

… A permanente inédita ingerência do STF nos demais poderes da República é também um fator importante de desconforto institucional nessa campanha. Preocupa porque o judiciário estabelece o paradoxo da insegurança jurídica.

Vale ressaltar que a expansão territorial da Suprema Corte na Praça dos Três Poderes resulta da má qualidade do Congresso Nacional. Empenhados em desmoralizar adversários na luta pelo controle das gestões governamentais, deputados e senadores passaram a mobilizar o STF para contestar a autonomia do plenário que contraditoriamente deviam preservar. Há senadores que, derrotados no voto pelos colegas congressistas, automaticamente protocolam pedido de vingança aos juízes e jogam pás de cal na sepultura da autodeterminação do seu próprio poder, esquecendo o juramento do longínquo dia da posse. A Casa legitimada pelo voto não tem sido capaz de firmar consensos e abre as guardas para se submeter a quem nunca disputou eleições. O encolhimento do Legislativo frustra os eleitores e cria uma névoa de dúvidas sobre a visão e a missão do Congresso.

Os fatos, as narrativas, as dúvidas do porvir, a indigência do debate, as insanidades espalhadas em fake news, a cara de pau de militantes, formam um conjunto de informações e de opiniões tão absurdas que levam a uma inquieta conclusão: estamos sob os efeitos de uma tormenta semelhante a furacões e terremotos que o Brasil jamais terá.

_______________________________________________________Ângelo Castelo Branco

Angelo Castelo Branco –  Jornalista. Autor de O Artífice do Entendimento – biografia do ex vice presidente Marco Maciel. Recifense,  advogado formado pela Universidade Católica de Pernambuco. Com passagens pelo Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Diário de Pernambuco, Folha de S. Paulo e Gazeta Mercantil, como editor, repórter e colunista de Política.

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