O maior amor de Lana Turner. Por Antonio Contente
…Ora, amigos, vamos falar a verdade, se Haroldo era bonito para Deus e todo mundo, por que não seria para Lana Turner? Os assistentes da festa chegaram a ficar espantados com a inesperada química que rolou entre os dois…
Em 1944 o nome da atriz Lana Turner já brilhava em muitos cartazes de cinemas pelo mundo. Só em 1941 e 1942 emplacara dois grandes sucessos, “O Médico e o Monstro” e “Ainda Serás Minha”. Já no ano com o qual abro estas linhas, as telas receberam “A Felicidade Vem Depois”, que arrastou multidões aos cinemas americanos. Certamente foi por isso que o Governo dos Estados Unidos, imersos até o talo na II Guerra Mundial, a convidou para fazer parte das trupes de artistas que, volta e meia, enviava para os lugares onde tropas americanas estavam metidas em combates ou se preparando para neles entrar. A finalidade era entreter e dar ânimo aos guerreiros.
Assim foi que, em janeiro de 1944, época da estação das chuvas na Amazônia, Lana desceu no aeroporto de Val de Cans, em Belém do Pará, de bordo de um grande avião da USAF. Eram seus companheiros os lendários Bob Hope e Bing Crosby, mais Dorothy Lamour. A parada dos astros ali se deu porque no local funcionava uma das duas Bases Aéreas que os americanos construíram no Brasil; sendo a outra em Natal. Nelas estavam aquartelados pilotos de aviões de caça que patrulhavam o oceano em busca de submarinos nazistas.
Na noite da chegada, os americanos da Base mais os militares nativos ofereceram, no Cassino dos Oficiais, uma recepção aos astros hollywodianos. Entre as coisas que ficaram acertadas antes estava os escolhidos para entreter, em danças e papo, a bela Lana e a não menos Dorothy. Para a primeira apontaram um piloto brasileiro, de vinte e poucos anos, chamado Haroldo Fonseca. E o premiaram por que? Pura e simplesmente porque ele era considerado o cara mais bonito da Base, não só entre os nacionais como entre os gringos. Diziam que o cara era tão boa pinta que muita vez precisava ficar escondido do assédio das garotas. Na hora aprazada ele flutuou pelo salão com a lindíssima atriz americana.
Ora, amigos, vamos falar a verdade, se Haroldo era bonito para Deus e todo mundo, por que não seria para Lana Turner? Os assistentes da festa chegaram a ficar espantados com a inesperada química que rolou entre os dois. Tanto que não chegaram a se espantar quando eles, sem procurar esconder nada, deslizaram para o lado de fora do Cassino, onde se derramava um bem cuidado jardim bordado de flores tropicais.
O resultado disso foi que, nesta noite, Lana não dormiu na Base, como combinado. Acordou no dia seguinte numa suíte do Grande Hotel, estabelecimento belíssimo erguido na praça da República (perto do famoso Theatro da Paz) e que era administrado por americanos. Acordou, é claro, ao lado do pintosíssimo piloto brasileiro. Foi o começo.
Daí em diante, tudo ocorreu com rapidez espantosa. Os próprios superiores do tenente Haroldo Fonseca, cúmplices, praticamente o liberaram de tudo para que pudesse acompanhar Lana Turner. E ela mesma, quando chegou a hora na qual a trupe deveria embarcar para Natal, foi sucinta ao ser cobrada por Bob Hope: “Não vou”.
Enquanto isso, praticamente já morando com a artista no Grande Hotel, Haroldo providenciou uma lancha com pequena tripulação para levar o casal, pelo rio Tocantins, em busca da cidadezinha de Mocajuba, onde ele havia nascido, filho de um padre holandês com nativa descendente de pai português. A localidade tinha apenas duas pequenas ruas no alto de um barranco, beirando o curso d’água, com mais três transversais. População? Umas mil pessoas, no máximo.
Lá o casal, hospedado no próprio barco, ficou uma semana. Como feitos para eles, interrompendo a estação das chuvas, dias lindos se abriram por todos os limites. E o casal tomava banhos em regatos de águas cristalinas, passeava por praias desviando os passos de tartarugas, e deitava, à noite, sob um impressionante manto de estrelas.
Bom, mas como há hora para tudo, chegou aquela na qual a atriz deveria retornar para Hollywood. E ela, de forma alguma, pretendia fazer isso sozinha. Só que, diante do “você vai comigo”, o tenente Haroldo retrucou com um “eu sou piloto, não posso desertar”. E Lana Turner, loiríssima e linda, partiu sem ele.
Foram meses e meses de trocas de cartas, com ela insistindo na ida do tenente para a América. Até que, de repente, tudo cessou. É que Haroldo Fonseca, num vôo rotineiro de patrulha sobre o Atlântico, viu o motor do seu avião subitamente parar. E em seguida o caça mergulhou para desaparecer nas profundezas.
Em Los Angeles, ao receber a notícia, a atriz entrou em depressão acachapante. Prestes a começar as filmagens de “Aqui Começa a Vida”, não apareceu nos estúdios. O que só ocorreu depois de muitos médicos e pílulas.
Lana Turner morreu em 1995, após sete casamentos, alguns escândalos e passados 51 anos da sua aventura amazônica. Contam alguns dos seus biógrafos, entre eles Edward E. Epstein, que no livro de orações que estava na gaveta ao lado da cama em que faleceu foi encontrada, entre as páginas, a foto de um moço, com roupa de piloto, sentado no cockpit de um avião. Era Haroldo Fonseca.
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ANTONIO CONTENTE –
Jornalista, cronista, escritor, várias obras publicadas. Entre elas, O Lobisomem Cantador, Um Doido no Quarteirão. Natural de Belém do Pará, vive em Campinas, SP, onde colabora com o Correio Popular, entre outros veículos.
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Boa história, Contente. Bons tempos no Jornal da Tarde. Paulo
PAULINHO, QUE BOM TER VC POR AQUI! BEIJO, MARLI