Cadê o Tiradentes?
Por Sílvia Zaclis
O que leva à questão: quem será nosso Joaquim José da Silva Xavier nesse ano santo de 2016? Silvério dos Reis tem um monte, um para cada dia da semana.
Na história que me ensinaram na escola, o movimento comandado por Tiradentes foi explicado como uma reação popular contra a Derrama, um aumento nos impostos que os brasileiros deveriam pagar à nave-mãe, Portugal. Algo como “o povo não suportava mais ser explorado e a turma da Inconfidência” – nunca entendi direito o termo – “traduziu essa revolta em ação”.
OK.
Mais tarde, aprendi algumas variações sobre o tema, mas acho a versão oficial mais romântica: aquela com o belo Tiradentes, de cabelos longos e soltos, a corda no pescoço…
Não se trata de fazer pouco do papel que tiveram aqueles bravos jovens mineiros no processo da independência. Com ou sem maquiagem, esse é um dos capítulos mais interessantes da história brasileira.
O que leva à questão: quem será nosso Joaquim José da Silva Xavier nesse ano santo de 2016? Silvério dos Reis tem um monte, um para cada dia da semana.
É que se passaram mais de dois séculos, e a coisa tem funcionado como mãe; ou seja, é tudo igual, só muda o endereço. Hoje o povo continua explorado pelos impostos (sai Lisboa, entra Brasília e adjacências), pelos juros, e ainda tem de aguentar a desfaçatez da turma.
Pois não é que o jornal das oito informa que a empresa Fulana, que não cumpriu as determinações da Justiça, foi condenada “a uma multa diária de 250 mil reais”? A jornalista ainda pronuncia a quantia com ênfase e arregala os olhos para dar bem a medida da sua incredulidade.
Tolinha! Será que ela não sabe que a multa poderia ser de 250 mil reais por minuto que daria na mesma? De qualquer jeito, a empresa Fulana não vai pagar.
Vai aí que o Caio Blinder – que redime a gente pela inteligência e bom humor -perguntou em seu blog qual presente gostaríamos de ter ganho da presidente Dilma neste Natal.
Peço licença para fazer uma breve lista que, se não vai resolver os problemas, pelo menos vai me deixar mais alegrinha. Lá vai o rascunho, Caio.
Cara (muito cara) presidente,
Seguem meus pedidos de Natal e Ano Novo para sua apreciação. Solicito que sejam avaliados com sensibilidade e isenção.
Sem mais, etc., etc.
1- Que sejam cobradas – sem brincadeira – todas as multas devidas por pessoas físicas, jurídicas – e quantas outras houver -emitidas por motivo relacionado ao bem estar da população (na qual eu me incluo);
2- Que sejam devolvidos – de verdade – todos e quaisquer valores desviados dos cofres públicos (os desvios descobertos, é claro) nos últimos anos; pelo menos, nos últimos 12;
3- Que vossa excelência pare de fazer discursos de improviso, e que pense pelo menos duas vezes antes de assinar qualquer coisa que interfira na vida da gente. Caso contrário, o risco é grande: daqui a pouco, nem o Chico Buarque vai segurar a barra.
4- Se nada disso for possível, peço pelo menos que em 2016 eu ganhe um presidente ou uma presidente (para sossegar a patrulha) que saiba se expressar de forma coerente na Língua Pátria.
Pelo teor de minha parca lista, alguém pode ter notado que eu não acreditei quando me disseram que Papai Noel não existe. Mas já superei a fase dos duendes e das reninhas.
Um passo de cada vez.
Sílvia Zaclis – É jornalista