Polsky pensava ter Hitler como vizinho. Por Rui Martins
… o filme Meu Vizinho Adolfo, tinha começado a ser filmado no sul do Brasil, contou seu diretor, o israelense Leon Prudovsky, antes das filmagens serem transferidas para a Colômbia.
Cobertura especial do Festival de Cinema de Locarno
Exibido em Locarno na Piazza Grande, o filme Meu Vizinho Adolfo, tinha começado a ser filmado no sul do Brasil, contou seu diretor, o israelense Leon Prudovsky, antes das filmagens serem transferidas para a Colômbia. O filme é uma coprodução israelense-polonesa-colombiana, mas pelo que ficou no ar, poderia ter sido coproduzido com o Brasil. Ancine sabia disso?
Depois de algum tempo, Marek Polsky, um polonês sobrevivente do Holocausto, solitário, vivendo em 1960 na Colômbia, uma pessoa solitária e mal humorada, se convenceu de ter Adolf Hitler como seu vizinho. Observando-o de sua janela, havia notado diversas semelhanças com o nazista responsável pela destruição de sua família – tinha olhos azuis, gostava de arte, pintava naturezas mortas com a mão esquerda e tinha o mesmo jeito de andar.
Diante disso, não havia dúvidas, era preciso denunciá-lo. Foi às autoridades policiais locais e contou essa estranha coincidência. Mas Hitler já morreu, se suicidou no fim da guerra, lhe disseram. E acharam não haver provas para se abrir um inquérito.
Essa ideia fixa de Polsky teria sido motivada talvez pela prisão, nesse mesmo ano de 1960, pelo Mossad, de um dos principais articuladores da chamada Solução Final, ou extermínio dos judeus aplicada pelos SS nazistas.
Eichmann também vivia na Argentina com um nome falso.
Talvez a embaixada israelense pudesse ajudá-lo, pensou Polsky, mas logo se decepcionou. Essa história não colava. Enfim, para se verem livres da obsessão de Polsky sugeriram que tentasse obter provas e não se deixasse levar apenas por suas impressões.
Ao invés de colocar um fim nessas desconfianças. Polsky comprou todos os apetrechos e um aparelho fotográfico que permitissem espionar seu vizinho da janela. Algumas circunstâncias ajudaram Polsky a se aproximar do vizinho, inicialmente com muita relutância, porém o jogo de xadrez, no qual Polsky já ganhara medalhas no passado, serviu de principal elemento de aproximação entre os dois. E se o vizinho alemão de Marek, com nome judeu Herzog, tivesse sido um dos sósias de Hitler?
O filme explora uma fábula hassídica, a de alguém que começa a ver humanidade no seu pior inimigo e acaba por se tornar seu amigo. O diretor israelense do filme, Leon Prodovsky, convidou, para viverem essa estranha relação, dois grandes atores – o escocês David Hayman e o alemão Udo Kier.
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Rui Martins, especial, direto do Festival Internacional de Cinema de Locarno
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Rui Martins – é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu “Dinheiro Sujo da Corrupção”, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, “A Rebelião Romântica da Jovem Guarda”, em 1966. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.