Ele faz. Por Silvia Zaclis
… Mensagem de uma leitora em um portal de notícias explica o motivo pelo qual se tornou eleitora de Bolsonaro. “Ele não é do tipo que fala, ele faz…”
Eu já tinha ouvido esse argumento várias vezes, mas assim escrito, com letras de imprensa e tudo… foi revelador, me fez reavaliar conceitos que venho carregando pela vida há décadas.
Nero pôs fogo em Roma. Se ele tivesse apenas ameaçado, alertado, sem colocar a mão na massa ígnea, quem sabe a História fosse outra, e então ele não seria conhecido como o mais canalha dos incendiários da Humanidade.
Brutus resolveu matar Julio Cesar e a informação não vazou, ou o imperador, seu pai, não teria dito na hora final “Até tu, Brutus?” Sim, Brutus foi e fez.
Já a representante americana Nancy Pelosi ameaçou ir a Taiwan, e foi… Mulher que faz, agora é esperar que uma guerra atômica não esteja entre seus feitos. A essa altura do campeonato…
Cleópatra com certeza não deu nenhuma dica antes de se oferecer como presa à cobra, ou algum súdito teria trancado a rainha num quarto sem janelas até passar a vontade.
O que dizer, então, do Putin? Ele avisou que ia entrar na Ucrânia, ninguém acreditou, mas ele fez! Invadiu o país vizinho destruindo famílias, comunidades, cidades inteiras e, no embalo, a frágil ordem mundial… mas que homem! Que força! Que ousadia! Putin fez, faz… e continuará fazendo até que alguém do outro lado faça alguma coisa, com ou sem aviso.
Conclusão: a vida está repleta de homens e mulheres realizadores. Alguns fazem e pronto, outros avisam antes, há ainda quem faça sem querer (ops, apertei o botão…).
Depois dessa descoberta, uma nova compreensão me fez ver claramente por que não fui, não sou e não serei jamais eleitora de alguém como o atual presidente. Mamãe dizia, filha, nunca diga nunca. Ah, como ela tinha razão! Mas o caso em tela é uma exceção. Nunca é jamais, mesmo.
Até pensei em fazer uma lista de razões, mas acho que a essa altura não é mais necessário. O candidato à reeleição simplesmente simboliza – e tem poder para implementar – a destruição das melhores coisas que a nossa sociedade conquistou em anos de vida republicana: democracia, direitos humanos, eleições livres, vacinação, controle de armas, divisão de poderes, conscientização ambiental, a cultura nacional, a busca da inclusão e tantas outras coisas.
Então, eu só queria dizer àquela leitora, para pensar bem antes de escolher seu candidato; quatro anos podem ser tempo suficiente para transformar o Brasil – com aviso de sobra – em uma imensa e mal equipada fazenda de gado.
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SILVIA ZACLIS – É JORNALISTA
É isso aí, parabéns pela sintetizacao dos perigos que nos rondam e pelas brilhantes analogias. Mas a eleitora de Bolsonaro deve ter se inspirado nos apoiadores históricos de Paulo Maluf ” rouba mas faz”. No caso, destrói mas faz
Obrigada pelo comentário. Interessante sua colocação… eu acredito que não haja comparação entre eles. Nunca senti que Maluf pudesse ser um perigo para a estabilidade polîtica e jurídica do país… e, ademais, ele não chegou a presidente…
Prezada Silvia,
O grande defeito humano é o fanatismo…
Ele cega, transformando qualquer gesto, palavra ou ação do seu ídolo – por mais absurdo que seja – em algo justificável.
Serve para qualquer fanatismo, seja religioso, esporte ou como agora política.
Então, aqueles que seguem o atual presidente o fazem com total desprezo pelo lógico, dando vazão aos mais baixos instintos para tentar convencer – ou convencer-se – que tudo que vem do seu venerado é bom e, aquilo que é contrário é ruim.
Infelizmente, o outro candidato não representa esperança que possamos melhorar; apenas se presume ficarmos menos pior que o atual momento.
Seu passado não é nada abonador…
Triste escolha é o que temos no momento.
Quem sabe, empurrado pelos ventos do destino, a candidata Simone Tebet nos surpreenda…
Sonhar nunca é demais…
Inté!
As coisas agora estão mais para pesadelo… mas a Simone Tebet está se comportando de uma maneira muito digna. Pelo menos até agora…