Noite de futebol e de horrores. Blog do Mário Marinho
Podia ter sido só de futebol.
Afinal, a rodada classificatória para a Copa do Brasil (e que termina esta noite com Botafogo e América – o meu América) reuniu alguns dos principais times de futebol do Brasil.
No Ceará, no histórico clássico local, o Fortaleza foi vencido por 1 a 0, mas se classificou por ter vencido o primeiro jogo por 2 a 0.
Em Goiás, o Atlético Goianiense venceu o Goiás por 3 a 0 e também se classificou (no primeiro jogo houve empate sem gols).
Na Vila Belmiro, o Santos venceu o Corinthians por 1 a 0 e não se classificou por ter perdido o primeiro jogo por 4 a 0.
No Maracanã, o Flamengo que havia perdido o primeiro jogo para o Atlético por 2 a 1, venceu por 2 a 0 e se classificou.
Até agora falamos só de futebol.
Agora, vamos aos detalhes.
Em campo, o Flamengo foi muito mais time que o Atlético. Na visão do atleticano Júlio Baranda, o Atlético jogou com o regulamento debaixo do braço: jogou para o empate que o classificaria. Só que o Flamengo, ainda no dizer do Baranda, jogou para se classificar. E chegou aos 2 a 0.
Dentro de campo, o espetáculo foi bonito.
O espetáculo poderia ter sido mais bonito, não fosse a fumaça colorida que tomou conta do Maracanã e atrasou o começo do jogo.
Essa fumaça não foi de sinalizadores, já que foi produzida por artefatos colocados atrás dos gols. Ou seja: quem colocou lá teve autorização.
O fato é que atrasou o início do jogo e provocou imensa poluição.
Mas os problemas começaram fora de campo.
Os ônibus que levaram torcedores do Atlético, encontraram, em sua chegada ao Rio, faixas com dizeres: “A cem metros do Inferno” e as faixas marcaram contagem regressiva até chegar no ponto zero, onde os ônibus foram apedrejados por torcedores do Flamengo.
O início dessa ação violenta foi a frase – quase uma senha – usada pelo artilheiro Gabigol depois da derrota do Flamengo no Mineirão, por 2 a 1. Disse ele:
– No jogo de volta vocês vão conhecer o que é o inferno!
A fala foi dirigida ao torcedor atleticano.
Segundo o artilheiro do Flamengo, logo após o jogo, o “inferno” a que ele se referia dizia respeito ao futebol dentro de campo.
Mas só que não.
O torcedor não raciocina friamente, inteligentemente.
Inferno, para ele, quer dizer intimidação, porrada, terrorismo.
O jogador, ainda mais numa ocasião decisiva como essa, tem que ter cuidado com o que diz e tem que ser cobrado.
Na Vila Belmiro, a situação foi pior.
O Santos havia perdido o primeiro jogo, na casa corintiana, por 4 a 0. Portanto, para se classificar precisava de uma vitória com diferença de, no mínimo, cinco gols.
Time que precisa vencer, tem que buscar a área e o gol adversários.
Não foi o que aconteceu com o Santos que chutou sua primeira bola a gol aos 21 minutos. E, mesmo assim, sem perigo para o goleiro Cassio.
Durante o jogo, o Santos teve mais tempo de posse de bola que o Corinthians.
E de que adiantou?
Nada.
O Santos fez o que lhe foi possível, mas não conseguiu marcar. E quase ainda leva o gol do adversário, quando o jogo ainda estava em 0 a 0, o jovem Giovane perdeu gol claríssimo. Daqueles que, nos tempos de pelada na rua, a gente dizia: “este até minha vó marcava”.
Antes do final do jogo, começou a mostra de incivilidade de parte dos torcedores santistas.
Primeiro, acenderam sinalizadores, o que é proibido. Foi preciso que os santistas se dirigissem aos torcedores pedindo para que apagassem os sinalizadores para que o jogo, que estava paralisado, pudesse recomeçar. Como é que eles entram no estádio com esses sinalizadores?
E, ao final do jogo, as cenas mais absurdas.
Os jogadores estavam deixando o gramado, tudo em paz, quando um torcedor consegue invadir o gramado e parte feito um louco para agredir ao goleiro Cássio pelas costas.
Foi por pouco, muito pouco, que o excelente goleiro do Corinthians não foi atingido.
O violento torcedor foi contido, com muito custo, por policiais que estava na Vila.
Mas do outro lado, outro torcedor – depois mais um, depois mais um – invadiu o gramado, mostrando a fragilidade da segurança do estádio da Vila Belmiro.
O que vai acontecer agora?
Se as autoridades do futebol não tomarem uma atitude, vai ficar cada vez pior.
Cada vez mais vamos ver cenas dos tempos do futebol de várzea.
Alô, Fred Flintstone…
Veja as lamentáveis cenas de ontem na Vila Belmiro:
E agora os gols dessa quarta-feira:
https://youtu.be/-o4aOrcQ2VA
Mas tivemos
cenas bonitas.
Estou me referindo às cenas da derrota do Cruzeiro, 3 a 0, para o Fluminense, no Mineirão.
O goleiro Fábio, hoje com 41 anos de idade, defendeu o Cruzeiro por cerca de 20 anos.
Pouco tempo antes de o Cruzeiro ser transformado em empresa, Fábio foi dispensado numa atitude de pouco reconhecimentos pelos dirigentes de então que não levaram em conta os tempos e os bons serviços prestados pelo goleiro.
Fábio foi para o Fluminense. E o jogo de terça-feira foi o primeiro contra o seu ex-time.
Pois o excelente goleiro que sempre foi ídolo da torcida foi recebido por essa torcida com calorosos aplausos. Fábio deve ter ficado emocionado.
Outro lance legal da torcida cruzeirense foi a atitude tomada depois da derrota por 3 a 0 para o Fluminense e a consequente eliminação da copa do Brasil.
Vaias? Xingamentos? Impropérios?
Não, nada disso.
A torcida não arredou pé do Mineirão e aplaudiu com vontade seus jogadores.
Significa que elas entenderam a mensagem do proprietário do Cruzeiro, Ronaldo Fenômeno:
– Nosso objetivo é retornar à Primeira Divisão do futebol brasileiro.
Falou!
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Mário Marinho – É jornalista. É mineiro. Especializado em jornalismo esportivo, foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.
(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)
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