Desolação e desespero. Por Edmilson Siqueira
O atentado que matou o ex-primeiro-ministro japonês Shinzo Abe, trouxe à tona algumas informações que, para o brasileiro comum, parecem fake news. Durante o noticiário do crime, ouvi alguns comentaristas que têm o Japão e a política japonesa como objeto de estudo, dizendo-se perplexos com o o atentado. No Japão, um país que, historicamente, já se envolveu em muitas guerras, a violência hoje é quase inexistente. Um desses comentaristas chegou a dizer que estudou por lá durante três anos e deixava o carro na rua sem travar as portas. Outro, que crimes com armas de fogo, ou qualquer outra arma, são muito raros por lá.
Quando alguém ouve isso e sabe que o Japão tem pouco mais da metade da população do Brasil, imagina que a raridade dos assassinatos com armas de fogo – que no Brasil beiram 60 mil por ano – contem-se por alguns milhares anualmente no Japão. É aí que nos chega a notícia que parece fake news: em 2021 houve apenas UMA morte relacionada a arma de fogo por lá. E, desde 2017, lá se vão quatro anos e meio, foram 14 mortes relacionadas a armas de fogo. Sim, você leu direito: 14.
A primeira coisa que pensei foi que a cidade em que moro, Campinas, interior de São Paulo, com seu 1, 2 milhão de habitantes, tem muito mais assassinatos que todo o Japão com uma população cem vezes maior. Pois vejam esses números: em 2021 houve 107 homicídios dolosos em Campinas; outros 85 ficaram só na tentativa. Ou seja, se contarmos só os assassinatos e deixarmos as tentativas de lado, a cidade de Campinas tem sete vezes e meia mais atos violentos que resultam em mortes que todo o Japão.
E esse número eu li numa notícia em que era revelado que o número de homicídios estava diminuindo por aqui nos últimos anos, acompanhando uma tendência do Estado de São Paulo. Mas nem dá pra comemorar: a mesma notícia informava também que estavam crescendo os números de furtos, roubos e estupros em relação ao ano anterior. Bem como os mais que odiosos e hediondos crimes contra crianças (estupros de vulnerável) que tiveram um aumento de 31,85%.
O fato marcante nessa história toda é que a violência que vivemos no Brasil não é resultado de um fenômeno qualquer, de uma espécie de violência implícita no brasileiro ou alguma aberração parecida com essa. Não. A violência sempre existiu em toda sociedade minimamente organizada. Qualquer grande ajuntamento de pessoas em torno de um objetivo de sobrevivência, com trabalho e governo, terá seus setores que tentarão ganhar a vida à margem da lei.
Pois é o combate eficaz a esses grupos e a certeza de punição em todos – ou pelo menos a grande maioria deles – que resolverem agir à margem da lei, que faz com que o crime seja contido de maneira geral. Claro que há outro fator muito importante que é a economia do país oferecendo oportunidades de estudo e emprego a toda população. Países pobres tendem a ter mais criminosos, é um fato. Mas a pobreza não induz automaticamente ao crime.
O que estou tentando dizer nesse artigo é que um país com formidáveis recursos naturais, com uma agricultura que alimenta boa parte do mundo, com grandes centros de produção industrial e intelectual, não poderia ser um dos mais violentos países do mundo.
A culpa de sofrermos com quase 60 mil homicídios por ano é porque no Brasil, conforme artigo na revista Crusoé assinado por Leandro Piquet Carneiro, professor do Instituto de Relações Internacionais e coordenador da Escola de Segurança Multidimensional da USP, além dos marginais comuns, que assaltam e matam para roubar desde um celular até um carro ou uma residência, é que no nosso país “existem centenas de mercados ilícitos, além do das drogas: grilagem de terras, transporte ilegal de passageiros, extração ilegal de madeiras e minerais, contrabando de cigarros e agrotóxicos, tráfico de pessoas, falsificação e contrabando de eletrônicos, roupas e medicamentos. Em todos esses mercados, a violência é o recurso que regula os conflitos e permite defender os negócios contra os grupos rivais e a polícia.”
Como se vê, a existência de tantos grupos criminosos é resultado direto da ineficiência da investigação e da repressão. Falta de recursos para as polícias, envolvimento de pessoas poderosas no crime organizado, envolvimento de policiais com quadrilhas e outros fatores deprimentes como esses, vicejam no Brasil inteiro.
A educação é a solução a longo prazo. No curto prazo, para tirar o Brasil do alto do pódio da violência mundial, só um governo sério, que use a inteligência e tenha recursos para combater o crime.
Mas quando se olha a corrupção correndo solta em Brasília aprovada pelos próprios congressistas e defendida por juízes de tribunais superiores, a desolação do brasileiro honesto é infinita. E se olharmos para o futuro próximo, onde um candidato a governar o Brasil a partir do ano que vem foi condenado por corrupção e lavagem de dinheiro dentro do maior esquema de roubalheira do dinheiro público que o Brasil já viu, e o outro, candidato a se reeleger, é o chefe de um governo que instituiu a compra de deputados e senadores com um tal de orçamento secreto e seu governo já tem uma lista enorme de casos de corrupção, a desolação e o desespero do brasileiro honesto se tornam perenes.
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Edmilson Siqueira– é jornalista
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Certeza da punição, eis a chave e a solução a curto prazo.
Vale lembrar que o transporte ilegal de passageiros desde o governo de Marta Suplicy está nas mãos do PT, conforme informa oartigo da Crusoe,
E como você bem disse, a longo prazo, a educação.
Muito bom o artigo de Leandro Piquet Carneiro!