James Caan: o grande cowboy judeu-mafioso. Por Wladimir Weltman
Conheci James Caan em 1993, quando o entrevistei para os programas VITRINE e METRÓPOLIS da TV Cultura. James estava lançando o filme FLESH & BONE em que contracenava com Dennis Quaid e Meg Ryan. Era um filme de suspense e que lançou a carreira de Gwyneth Paltrow. No filme ele fazia uma personagem sombrio, com uma perspectiva familiar macabra. Mas ao entrar no quarto de hotel, onde a entrevista de TV deveria acontecer, me deparei com um senhor de 53 anos de idade que fazia caretas ridículas para um garotinho de 2 anos. Não era seu neto, mas seu filho com sua terceira esposa, Ingrid Hajek (de setembro de 1990 a março de 1994). No total casou-se quatro vezes. Com Ingrid teve um filho, Alexander James Caan, nascido em 1991. Era essa criança quem estava ali com a esposa, nos bastidores. Em 1994, quando estourou o escândalo da “Madame Hollywood”, Heidi Fleiss, a cafetina afirmou à Vanity Fair que teria tido um relacionamento com Caan ao visitá-lo no Texas, no set de filmagens de FLESH & BONE. Caan negou envolvimento com Fleiss.
Nunca tinha encontrado com ele antes, mas sabia de sua fama de durão, bem no estilo do personagem que para sempre o marcou profissionalmente – Santino Corleone, filho do PODEROSO CHEFÃO. E falava-se de sua possivel conexão com figuras ligadas à Máfia.
Assim que parou de brincar com o filho e a entrevista começou, perguntei a ele sobre essa imagem que as pessoas tinham dele por causa de seus personagens. Quis saber quem era o verdadeiro James Caan. E foi isso que ele me respondeu:
“- Sou um cara que gosta de assistir esportes e amo meus filhos. Eu amo minha esposa, às vezes…”. Ele disse isso e olhou pra ela, para ver a sua reação e disse: “– Acho que não estava me ouvindo”. E riu. E seguiu falando: “- O importante na vida, para mim, é a família. Claro que a gente quer ser tão bom ator quanto possível. Por outro lado, eu sou um cara durão. Quer dizer, acho melhor não mexer comigo!”
Ele disse isso e deu uma olhada assustadora, mas em seguida desarmou esse olhar: “- Eu apenas acredito naquela regra de ouro, você sabe – não faça com os outros o que não quer que te façam. Isso é tudo que nós realmente precisamos saber e seguir. Se for assim, tudo vai ser simplesmente perfeito”.
No mesmo dia entrevistei Dennis Quaid, Gwyneth Paltrow e finalmente, Meg Ryan. Quando comecei a entrevista com a atriz, perguntei como foi passar quatro meses isolada no Texas com James Caan, alguém que depois de entrevistar, pude definir como “intenso”… Ao que ela respondeu: “Ele é intenso. Você nunca sabe o que ele vai fazer ou dizer. Mas tenho que dizer que aprecio muito isso nele. Para um ator isso é ótimo porque a natureza de uma filmagem é constante repetição. Isso pode ser complicado e até chato depois de muitas repetições. Mas com ele nunca se sabe o que pode acontecer e isso é muito bom”.
Na vida real James Edmund Caan também era imprevisível. Abriu mão de papéis que renderam Oscars a outros atores e se tornaram sucessos de bilheteria. Filmes como THE FRENCH CONNECTION, UM ESTRANHO NO NINHO, ENCONTROS DO TERCEIRO GRAU, KRAMER VS. KRAMER, APOCALYPSE NOW, BLADE RUNNER, LOVE STORY e SUPERMAN.
Ainda assim participou de filmes que marcaram época. Além do PODEROSO CHEFÃO 1 e 2, ele fez ROLLERBALL (1975), A BRIDGE TOO FAR (1977), THIEF (1981), GARDENS OF STONE (1987), MISERY (1990), DICK TRACY (1990), HONEYMOON IN VEGAS (1992), ERASER (1996), BULLETPROOF (1996), MICKEY BLUE EYES (1999), THE YARDS (2000), DOGVILLE (2003) ELF (2003), além de uma porção de outros menos memoráveis.
Ele foi indicado a vários prêmios, incluindo quatro Globos de Ouro, um Emmy e um Oscar, sem ter ganho nenhum deles. Mas obteve a sua estrela na Calçada da Fama no Hollywood Boulevard, em 1978.
Gosto muito de seu primeiro papel de destaque no cinema, num western de Howard Hawks de 1966, ao lado de duas feras – John Wayne e Robert Mitchum. O filme era EL DORADO, em que Caan é um cowboy que não sabe atirar com revólver, mas com facas. Na vida real Caan participava de rodeios e se gabava de ser o “único vaqueiro judeu de Nova York no circuito profissional de peões de rodeio”, pois além de montar bem, sabia atirar o laço e amarrar um rês como ninguém.
Atlético, era um praticante de artes marciais e treinou com o mestre Takayuki Kubota por quase 30 anos, ganhando várias graduações da International Karate Association.
Caan também estrelou a versão americana de um filme de sucesso brasileiro. Em 1982 fez a comédia KISS ME GOODBYE, remake de DONA FLOR E SEUS DOIS MARIDOS (1976). O filme foi dirigido por Robert Mulligan, com Sally Field, Jeff Bridges e Caan no elenco. Apesar do elenco e da história, o filme não fez sucesso. Caan fez o papel que no filme brasileiro foi de José Wilker. Como o público, ele também não gostou do filme. Comentou anos depois que foi “uma das experiências mais desagradáveis de sua vida”. Como consequência, não fez outro filme por cinco anos.
Achei melhor nem comentar o assunto quando em 2003 fui chamado para entrevistá-lo durante o lançamento do filme ELF. Nele, Caan interpretava o pai do comediante Will Ferrell. O filme foi um sucesso de Natal nos EUA. E essa foi a última oportunidade que tive de conversar com ele e vivenciar seu humor desconcertante. O fato é que vê-lo na telona ou na telinha é sempre um prazer. Grande ator, sempre imprevisível. No dia dessa última entrevista tive coragem e pedi pra tirar uma foto com ele.
Fizemos duas. Aqui estão elas…
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WLADIMIR WELTMAN – é jornalista, roteirista de cinema e TV e diretor de TV. Cobre Hollywood, de onde informa tudo para o Chumbo Gordo
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(DIRETO DE LOS ANGELES)
Gosto demais de James Caan, homem bonito com muito sex appel.
Amei Cinderella Liberty com ele e Marsha Mason.
Eu tambem o conheci em casa de Coppola, onde estava passando o weekend. Conversamos sobre o novo toy do Mestre: um antecessor dos musical clips dos anos 50, que eram filmes feitos em 16 mm que passavam numa especie de jukebox, coisa italiana cheia de Modugnos e De Capri. Fiquei espantado com sua altura: comparado ao gigante que ele parecia no cinema, era como uma miniatura… prazer de ler suas observacoes, querio Wladimir, beijos na familia. Me escrevam, please.