Ansiedade, polarização e fome. Por Meraldo Zisman
As tão decantadas pesquisas de opinião tão divulgadas nas mídias independentes da filiação/coloração partidária/ ideologias/ cor da pele, racistas ou polarizações explosivas são uma falácia de qualquer asseveração, preconceito/religiões/crenças – tentam basear-se ao máximo diante do medo ancestral de não ter o que comer.
Interessante é que o duradouro instinto de salvação (defender a própria vida) e outros medos mais abrangentes, sobre finanças pessoais e desemprego. Profissionalmente, sendo um simples cidadão, já assisti muita gente morrer, e parece-me que a maioria das pessoas são mais apegados às posses materiais e até da própria saúde e muitas vezes mais aos entes queridos, sejam familiares ou amigos. Haja visto que as pessoas médias estão mais preocupadas com o impacto financeiro trazido pelos assuntos pós-pandemia, dos futuros impactos sanitários ou a guerra Rússia/ Ucrânia, ou o assassinato de duas pessoas na Amazônia Legal. Muito embora acredite (sinto e advirto) que quem salva a vida de uma pessoa está salvando toda a Humanidade.
Esquecemos que a maioria das pessoas, assim como eu me incluo, sejamos totalmente incapazes de perceber esta manipulação motivada e agravada pelas redes sociais e mídias profissionais tirando proveitos eleitorais e levantando pseudoestratificadas propaladas de forma alarmante. Tento explicar como são realizados tais cálculos tidos como inquestionáveis.
Vamos imaginar: queremos calcular a média de idade dos moradores de determinada rua com insegurança alimentar. Para calcularmos a média aritmética simples, basta somarmos as idades de cada um, dividindo o resultado parcial pelo número de pessoas passando fome, de não ter o que comer para empregar o nome verdadeiro: Fome.
Caso em cinco cidades do interior de São Paulo, será necessário, em primeiro lugar, contar a população de cada uma delas. Do número encontrado, faz-se um somatório do total das cinco cidades; e após dividi-lo por cinco se obterá a média dos que estão passando fome. A falta de alimentação para não saber o que vai comer mede o número de pessoas com a agora denominada insegurança alimentar. O que conduz a uma ansiedade generalizada respeitando-se a variação do impacto emocional consoante a idade, se crianças, pais ou mães e responsáveis pelo sustento dos familiares dependendo principalmente do crescimento e desenvolvimento.
Quando a casa do vizinho está pegando fogo a sua está em perigo?
Continuo: a insegurança alimentar é um conceito da Medicina que se refere ao índice de pessoas mortas em decorrência disso, em todas as idades, principalmente na fase de crescimento. De uma doença específica em determinado grupo populacional. O sofrimento ansioso independente das ideologias das mais diversas. Valeria lembrar que o Brasil é considerado o país com mais de 32 milhões de habitantes com fome.
A ansiedade que estes números divulgados, mesmo quando verdadeiros, causam na população brasileira, é enorme. A ansiedade é definida como sensação de perigo iminente e origem indeterminada, que alia sintomas emocionais, somáticos, cognitivos e comportamentais. A pessoa em estado de ansiedade sente mal-estar, que pode ser responsável por agitação ou apatia. A ansiedade pode ser provocada por fatores de estresse. Ela pode desaparecer por conta própria no fim do período de estresse e completo com a psicobiologia (Psicoimunologia) designa a área de estudo e investigação direcionada para a compreensão da influência de variáveis psicológicas no funcionamento e vida individual.
Quando ela é prolongada e propalada, estamos provocando mais um transtorno de ansiedade incrementado pela insegurança alimentar. Para os que não sabem, a psicoimunologia hoje tenta ampliar a compreensão de alterações orgânicas como o estresse, o câncer, as doenças infecciosas e até o processo de envelhecimento.
Mas enquanto apresenta uma visão mais integrada do homem, ela também vem contribuindo para se pensar um novo modelo sobre a saúde, a chamada teoria bicognitiva, relativa ao conhecimento, à cognição de qualquer ser humano.
Garanto que as pessoas são mais apegadas aos seus bens econômicos do que à própria saúde. O fator governamental me faz repetir o nosso Josué de Castro (Geografia da Fome), observando que o problema da fome é uma “questão política”.
Quem escreve isto é um dos poucos vivos portadores da medalha Médico Sanitária Josué de Castro e que nada tem a ver com qualquer das ideologias existentes no momento e da pior praga humana conhecida, a polarização, e adjetivada de disputa eleitoral, ou seja, lá do que for. Gosto muito da frase que meu pai me ensinou: o único animal, fera que somente ataca de barriga cheia é o Homem (com H maiúsculo), pois inclui os dois sexos.
Será ainda que nada mudamos antes de vivermos nas cavernas?
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Meraldo Zisman – Médico, psicoterapeuta. É um dos primeiros neonatologistas brasileiros. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Vive no Recife (PE). Imortal, pela Academia Recifense de Letras, da Cadeira de número 20, cujo patrono é o escritor Alvaro Ferraz.
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Desculpe, professor, mas não entendi a mensagem que o senhor pretendeu passar. Parece haver diversas camadas de significado emboladas uma na outra, e muitos pensamentos não se concluem (faltam verbos e predicados). É pena, porque muitos argumentos poderiam ser retomados/aprofundados e provocar reflexão nos governantes.
O senhor pretendeu fazer uma crítica às pesquisas de opinião (por seus resultados agravarem a ansiedade das pessoas)? Se sim, quais seriam os corolários? Não fazer mais pesquisas, proibir a divulgação dos resultados? Como pesquisadora de opinião pública há mais de 20 anos, estranho seu raciocínio, principalmente considerando que o senhor é um psicoterapeuta. Nos círculos especializados, diz-se que aos terapeutas só resta a seguinte opção: diminuir a ansiedade do paciente para que ele possa lidar minimamente bem com a situação ou aumentar a ansiedade para que ele saia de sua zona de conforto e vá em busca de uma solução eficaz.
Outro ponto é que, ao que me parece, a preocupação com a saúde está naturalmente embutida na preocupação com bens econômicos. Sem dinheiro, não há como ter acesso à alimentação e à saúde de qualidade, ao menos neste país.
Olá sra. Myrthes Suplicy.
Parafraseando Friedrich Nietzsche:
“Não poríamos a mão no fogo pelas nossas opiniões: não temos assim tanta certeza delas. Mas talvez nos deixemos queimar para podermos ter e mudar as nossas opiniões”
Costumo dizer que as opiniões são individuais. Talvez por distorção profissional tenha realizado neste meu escrito uma forma do que denominamos em psicoterapia freudiana “Associações livres”. Agradeço pela leitura e pertinência das observações.
Agradeço.
Abraços, Meraldo Zisman.