coisas nossas

São coisas nossas. Coluna Carlos Brickmann

EDIÇÃO DOS JORNAIS DE DOMINGO, 26 DE JUNHO DE 2022
coisas nossas

O Governo se dispõe a abrir uma CPI para tentar descobrir algo contra os diretores e conselheiros, nomeados pelo Governo, da maior das empresas do Governo. O Governo desconfia que eles estejam aplicando na Petrobras a política de preços definida pelo Governo, o que o Governo considera intolerável, e por isso o chefe do Governo disse que não se importa que a empresa controlada pelo Governo perca R$ 30 bilhões de valor de mercado num só dia. Não, não tente entender: a oposição está feliz com a tal de CPI, e o pessoal que apoia o Governo, embora diga que também está na luta, trabalha para derrubar a iniciativa do chefe do Governo, que tentam reeleger.

Afinal de contas, o pessoal do Governo é também do Centrão. Ruge alto, elogia o Mito, mas rasgar dinheiro que poderia ser distribuído, isso não. Um sábio empresário disse certa vez a este jornalista que se alguma coisa só existe no Brasil, e não é jabuticaba, não presta. Pois vamos em frente.

Como se sabe, o Senado não costuma trabalhar às sextas-feiras. Mas nesta sexta, 24, o Senado trabalhou: comemorou o 75º aniversário do Dia Mundial dos Discos Voadores, por iniciativa do senador Eduardo Girão, do Podemos do Ceará. Na sessão, o ex-deputado Wilson Picler disse que quase um terço dos brasileiros acreditam em ETs; e mais da metade dos ateus e agnósticos creem em discos voadores e seres espaciais, “mais em ETs do que em Deus”.

Girão disse que o Brasil é o primeiro país a reconhecer que discos voadores existem e são extraterrestres. Chamou a sessão de “histórica”.

Outros assuntos

Fome, guerra, inflação? São temas que podem esperar a semana que vem.

É lei – e daí?

Quando uma empresa tem algo importante a informar, “fato relevante”, só o divulga após o fechamento da Bolsa. O presidente Bolsonaro demitiu o presidente da maior empresa do país, provocando R$ 30 bilhões de perda em seu valor de mercado; e anunciou em seguida a tal CPI, dizendo que ia dar outro prejuízo de R$ 30 bilhões à empresa em que é o sócio majoritário, tudo sem seguir as normas habituais de Bolsas.

Com isso deu prejuízo também aos demais acionistas, que talvez peçam reposição do que perderam. Isso, em Nova York, costuma gerar processos de bilhões de dólares, não só contra a empresa, mas também contra seus dirigentes que causaram os prejuízos.

Robin Hood ao contrário

Mas, pensando bem, para os atuais dirigentes do país alguns bilhões não fazem muita diferença. O SUS, por exemplo, perdeu mais de R$ 40 bilhões de verbas entre 2021 e 2022. Os R$ 200,6 bilhões de 2021 caíram em 2022 para R$ 160,4 bilhões.

Há mais: vejamos a fila de espera para inscrição no Auxílio-Brasil. Pois, na passagem de um programa para outro, havia sobrado um saldo de R$ 375,9 milhões no Bolsa Família. O dinheiro foi transferido para as Forças Armadas, e usado, conforme informações do Ministério da Economia à “Folha de S.Paulo”, em gastos como o projeto Astros 2020, um sistema lançador de foguetes, ou o auxílio-moradia de militares. Tudo foi feito dentro da lei, com autorização do Congresso.

O curioso é que tanto o Governo quanto o Congresso concordam com essa escolha de prioridades.

A pesquisa – Bolsonaro

Os bolsonaristas mais extremados, especialmente os que usam Bolsonaro no nome, dizem que não acreditam em pesquisas. Mas acreditam: o esforço para aumentar o Auxílio Família agora, com fim previsto para dezembro, é sinal claro de busca de votos. A guerra contra os presidentes da Petrobras é outro sinal: precisa convencer os eleitores de que tenta baixar o custo dos combustíveis.

A última pesquisa Datafolha, mostrando perspectivas de vitória de Lula no primeiro turno, assustou Bolsonaro. A deputada Janaína Paschoal, bolsonarista de primeira hora, diz em público que há risco real de derrota no primeiro turno. Mas que fazer, quando há briga até na campanha, e Carluxo, o filho 02, rejeita a coordenação de Flávio, o filho 01, seu irmão?

A pesquisa – Lula

Lula continua jogando quase parado –parte por temor de agressões de adversários, parte por achar que é melhor não se movimentar. Nesta semana foi a dois jantares com empresários – sempre com pouca gente, para haver oportunidade de conversar. Lula se recusa, entretanto, a dizer o que vai fazer, e como. Diz que já foi presidente e todos o conhecem. Há um certo temor de que tente reestatizar a Eletrobras e impeça novas privatizações. Mas, com a vantagem que tem em todas as pesquisas, por que se arriscar falando muito?

Pela culatra

O ministro da Defesa e os comandantes das Três Armas mandaram uma notícia-crime à Procuradoria Geral da República contra Ciro Gomes, por dizer que o Governo destruiu a capacidade operacional das Forças Armadas e fez da Amazônia a “holding do crime”. Mas, se a queixa tirar votos de Ciro, para quem os votos irão?

Bolsonaro ou Lula, de quem Ciro já foi ministro?

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