Povo com fome. Por José Horta Manzano
Enquanto o capitão passeia de jet ski e de motocicleta, o mundo observa o drama deste país em que boa parte da população passa fome.
Acredito que o distinto leitor nunca tenha passado por esse tipo de aperto, de não ter o que pôr no prato. Ou de não saber se vai poder comer amanhã. É muito difícil imaginar.
O grau de civilização de uma sociedade se mede pelo cuidado que ela dedica a seus membros mais frágeis. Analisado por esse prisma, nosso país ainda está a anos-luz do objetivo.
Enquanto isso, o capitão passeia de jet ski.
A Amazônia Legal, que representa 60% do território nacional, tem zonas imensas onde o Brasil não chega. São regiões onde a lei não vigora, e manda quem tem garrucha e pontaria. A situação não é nova, mas o problema se agravou exponencialmente na era bolsonárica.
Enquanto isso, o capitão passeia de jet ski.
Cidades importantes, como o Rio de Janeiro, também comportam zonas onde a lei não vigora, e manda o mais forte. É o reino da bandidagem.
Enquanto isso, o capitão passeia de jet ski.
A fila do Auxílio Brasil (novo nome da Bolsa Família) aumentou. É fato inacreditável e sem sentido. Em programas desse tipo, o que se espera é que haja cada vez menos clientes e que a fila encolha, não que se alongue. O foco do governo tinha de estar dirigido para resolver essa disfunção.
Mas o capitão não tem apetência para acudir aos infelizes que sofrem. Prefere passear de jet ski. E, pra espairecer, organizar uma motociata.
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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos, dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.