y - conversas

Conversas de 1/2 minuto. Por José Paulo Cavalcanti Filho (20)

Mais conversas em livro que estou escrevendo (título da coluna).

y - conversas

GILBERTO FREYRE, escritor. No solar de Santo Antônio dos Apipucos, era usual receber pessoas ilustres. De Jânio Quadros a Carlos Lacerda. Do cineasta Roberto Rosselini a sir John Russel. Servindo sempre, a todos, seu famoso Conhaque de Pitanga. Preparado por ele mesmo com pitangas vermelhíssimas, colhidas em seu pomar e colocadas em garrafas de cachaça de cabeça. Mais canela da casa e um licor de rosas fabricado por freiras do Convento do Bom Pastor (Garanhuns), que exigia fossem virgens. Quanto ao sabor, não há consenso. Segundo lenda, o romancista John dos Passos bebeu uma garrafa inteira sem reclamar. Enquanto Rubem Braga provou só meio cálice, fez muxoxo e disse “prefiro uísque”. Naquela tarde a liturgia e a pompa, na sala, eram as mesmas. Só que sua mulher interrompeu a conversa mostrando, a todos, um envelope fechado.

– Amor, correspondência para Gilberto Freire sem ipslon.  Que faço?

– Devolva, querida. Destinatário desconhecido.

Admitindo fosse algo importante, ou mesmo alguma conta para pagar, insistiu

– Mas não seria bom abrir, antes, para saber do que se trata?

– Magdalena, é crime violar correspondência alheia.

HEBE, irmã. Ferreira Costa, na loucura dessa pandemia da Covid. A caixa olha para Hebe

‒ Testou?

Hebe revirou a bolsa, tirou de dentro um monte de papéis,

‒ Claro, aqui está o certificado da vacina.

‒ Testou as lâmpadas?, senhora.

‒ Ahhh…

MARIA LECTÍCIA, a quem obedeço faz mais de 50 anos. Esqueci algumas cédulas no bolso da bermuda e foi tudo parar na máquina de lavar. Ao vê-las boiando, na água, Maria Lectícia desligou, tirou, pôs para secar e disse

– Você fica reclamando com ministros, em Brasília, mas essa é que eu chamo a verdadeira lavagem de dinheiro.

SOGRAS. JORNAL O PODER, edição de 27/04/2022, deu manchete sobre Francisco

– O Papa elogia as sogras.

Mais, por baixo, esse comentário

– É porque ele nunca teve uma.

O que faz lembrar Cantoria de Pé de Parede que assisti, em que o grande Louro Branco recebeu mote, Na casa que sogra mora/ Não tem um genro feliz, e cantou assim

Minha sogra sem respaldo

Diz nos pensamentos seus

Que meus filhos não são meus

Que tem um do Lourinaldo.

Que o primeiro é de Geraldo

E o segundo é de Diniz.

Será meu Deus que eu não fiz

Um menino até agora?

Na casa que sogra mora

Não tem um genro feliz!

_______________________________

Não deixe de ler:

José Paulo Cavalcanti FilhoÉ advogado e um dos maiores conhecedores da obra de Fernando Pessoa. Integrou a Comissão da Verdade. Vive no Recife. Acaba de ser eleito para a Academia Brasileira de Letras, cadeira 39.

jp@jpc.com.br

______________________________________________

3 thoughts on “Conversas de 1/2 minuto. Por José Paulo Cavalcanti Filho (20)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Assine a nossa newsletter