A grande substituição. Por Cesar Maia

Publicado em O Estado de S. paulo, edição de 23 de maio de 2022
Payton Gendron - SUBSTITUIÇÃO
Payton Gendron

Em seu manifesto de 180 páginas, Payton Gendron, o atirador do massacre de Buffalo, escreveu que queria “espalhar o conhecimento aos meus companheiros brancos sobre o real problema que o Ocidente vem enfrentando”.

O problema, segundo ele: a imigração em massa e o declínio na natalidade entre a população branca.

Parte do movimento supremacista branco vem sendo inspirada pela teoria conspiracionista da Grande Substituição ou Substituição Branca, criada pelo escritor francês Renaud Camus, que afirma que a população francesa, branca europeia, está sendo substituída, pelas elites, por povos não europeus.

Nos EUA, é uma teoria que faz sucesso nos fóruns anti-imigrantistas e supremacistas brancos. Segundo estes, o influxo de imigrantes, mais precisamente pessoas não brancas, levará ao fim da raça branca, o que, em suas visões, equivaleria a um genocídio. Também alegam que, ao tornar a população não branca maioria nos EUA, se levará a uma imposição de agendas que não são do interesse ou até prejudiciais aos brancos, já que esses votam de forma diferente dos brancos.

Os nacionalistas brancos americanos culpam os judeus, que estariam por trás das elites, pela imigração de não brancos e, recentemente, a teoria da Grande Substituição está associada ao movimento antissemita.

Payton Gendron escreveu que quem mais o “radicalizou” foi Brenton Tarrant, o atirador do massacre de Christchurch, na Nova Zelândia. O manifesto de Tarrant se chamava “A Grande Substituição”. Gendron disse que decidiu fazer justiça com as próprias mãos após realizar pesquisas sobre os problemas migratórios e aprender a respeito da “verdade sobre o massacre dos brancos por negros e o apoio das elites e judeus ” no fórum extremista 4chan.

A teoria da Grande Substituição já deixou as mídias periféricas e, nos EUA, já foi defendida por um dos apresentadores de tv mais populares da Fox News, Tucker Carlson. Na Europa, Heinz-Christian Strache, ex-vice-chanceler austríaco, do Partido da Liberdade da Áustria; e Marine Le Pen, já defenderam a teoria.

Para muitos analistas, com essa teoria, os atiradores encontraram uma ideologia para justificar a violência. E que a teoria da Grande Substituição e sua disseminação, em fóruns e mesmo pela mídia tradicional e políticos, funciona da mesma forma com a qual grupos terroristas conseguem encontrar sociopatas e pessoas instáveis e enchê-los com um propósito.

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Cesar Maia, do DEM/RJ, vereador, ex-prefeito do Rio de Janeiro. Especialista em marketing político.

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