Vitória do Tricolor: justa ou injusta? Blog do Mário Marinho
Quem me acompanha aqui neste pedaço, já leu ou me ouviu dizer que campo de futebol não é Tribunal de Justiça.
A Justiça, penso eu, deve ser respeitada, venerada, bem cuidada nos campos e que sua aplicação seja mais necessária: na sociedade.
Disse certa vez o filósofo grego Zaratustra que o futebol é a coisa mais importante dentre as menos importantes.
Mas eu sempre uso o princípio da Justiça (com J maiúsculo) pra ocasiões em que um time passa o tempo todo atacando, o tempo todo no campo do adversário e não consegue marcar.
Lá pelas tantas, geralmente o tempo regulamentar se esgotando, o adversário que só defendeu se arrisca num contra-ataque e faz um golzinho, mixurico, chorado – mas, gol da vitória, 1 a 0.
E aí eu vejo e ouço muita gente dizendo que não foi justo.
Como não foi?
Ora essa, o time que atacou o tempo todo não teve competência para marcar. O outro que só atacou uma vez teve competência para atacar.
Ou seja, o resultado dentro das normas legais do futebol.
Mas não foi o caso do Morumbi.
O Cuiabá entrou em campo neste domingo, visivelmente preocupado em não tomar um gol. O 0 a 0 estaria de ótimo tamanho
Porém, o São Paulo que mais atacava acabou levando o gol marcado por Jenison, aos 32 do primeiro tempo.
O São Paulo já dominava o jogo e ampliou seu domínio com a renúncia do Cuiabá em se arriscar em mais um ataque.
Tipo aquele ditado: não mexe com quem está quieto.
Rogério Ceni fez modificações em seu time, para dar mais força ao ataque.
O técnico Luiz Fernando mexeu em seu time para dar mais força à sua defesa.
Aos 18 minutos do segundo tempo, o atacante André Anderson, que havia entrado no intervalo, entra na área, sente o leve toque do zagueiro Marlon e desaba.
O juiz nem pensa duas vezes: é pênalti.
Eu, que assisti ao jogo pela tevê ao lado de minha caríssima metade, dei meu parecer: não foi pênalti.
Enquanto o juiz é cercado pelos jogadores do time mato-grossense, o analista de juiz, Sálvio Spinola, que foi um bom juiz e é um ótimo analista, concordou comigo:
– Eu não apitaria esse pênalti.
Mas, o jovem árbitro Alexandre de Jesus não teve dúvidas: bola na cal.
Caleri foi lá e empatou o jogo.
O Cuiabá ainda tentou reagir, mas, logo teve outro revés: o atacante Cafu que havia entrado aos 11 do segundo tempo, divide bola com o zagueiro Arboleda, mas, vai na canela do defensor do Tricolor.
O juiz consulta o VAR e dá cartão vermelho. Justo cartão.
Conversando com o amigo José Roberto Schiavinato no almoço desta segunda-feira, ele fez uma pergunta básica:
– Se o juiz consultou o VAR no momento da expulsão, por que não consultou também na hora do pênalti?
A pergunta fica no ar.
Já meio abatido pelo gol que levou, o Cuiabá ficou ainda mais fragilizado depois de perder um jogador.
E foi assim que, com um jogador a mais, o São Paulo chegou à vitória com um gol de Nikão que havia substituído Patrick aos 15 do segundo tempo. O gol foi marcado aos 36 minutos.
A discussão vai continuar por mais alguns dias.
Aí eu me lembro do falecido João Havelange, maior cartola do Brasil que chegou à presidência da Fifa.
Certa vez, em uma entrevista, perguntei-lhe por que ele era contra a entrada da tecnologia no futebol. Ele respondeu.
– O dia que acabar a polêmica, acaba também o futebol.
Aqui, outro
Tipo de polêmica
O Corinthians foi ao Sul e voltou de lá com um bom resultado, o empate, 2 a 2, com o Internacional. O resultado lhe garantiu a liderança do Brasileirão.
Mas trouxe um sério problema.
Seu lateral direito, o português Rafael Ramos, foi acusado de crime de racismo pelo volante do Inter, Edenilson.
Terminado o jogo, o zagueiro corintiano foi preso e só liberado após pagar a fiança de R$ 10 mil por acusação de injúria racial.
A diferença entre injúria racial e racismo é que na injúria a ofensa é direcionada a um indivíduo específico. Já no crime de racismo, a ofensa é contra uma coletividade, por exemplo, toda uma raça, não há especificação do ofendido.
Na injúria racial o acusado, mesmo preso em flagrante, pode pagar a faiança e responder pelo crime em liberdade.
O crime de racismo não permite isso: é inafiançável.
Espera-se das autoridades competentes a apuração rigorosa para um desfecho justo desta situação.
Provado o crime, há que haver condenação.
E o futebol, como um todo, precisa se preocupar em encontrar uma solução para esse tipo nojento de crime que vai acontecendo cada vez mais no futebol mundial – não só no Brasil.
É preciso botar um basta no racismo.
Veja os gols do domingo.
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Mário Marinho – É jornalista. É mineiro. Especializado em jornalismo esportivo, foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.
(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR) ____________________________________________________________________