Racismo à brasileira. Por Meraldo Zisman
O preconceito permeia todas as sociedades há séculos. Causador de estereótipos, refere-se a certo conjunto de características vinculadas a todos os membros de um determinado grupo social. Advirto: sofro preconceito há mais de 3 mil anos por ser de origem judaica.
Com a difusão das redes sociais e o aparecimento da polarização no Brasil, temos visto revisitarem certos preconceitos antes encobertos por nossa formação Histórica.
O psicanalista Contardo Luigi Calligaris (1948 ― 2021), no seu livro “Hello, Brasil!” Escreve:
“No Brasil o eterno judeu errante passou a ser migrante (quem sabe?). O que vale esclarecer: o que migra é o que muda de lugar, de região ou de país, de maneira periódica, enquanto o judeu aqui se estabeleceu de maneira definitiva e em paz”.
Pertinente será lembrar que caso os denominados cristãos-novos e seus descendentes voltassem a ser judeus, o Brasil contaria com uma das maiores comunidades judaicas do Mundo.
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Dada a formação única do nosso povo, permanecemos em uma categoria de preconceito reverso, da minoria branca contra a multidão daqueles com maior quantidade do pigmento cutâneo denominado melanina.
Como já foi dito, somos um país que não é para principiantes — e não sem razões. Tivemos até uma ‘escravidão branda’ e a fama da tal de cordialidade brasileira acabou criando, por analogia, o “racismo-cordial”.
Mas voltemos às questões afloradas na recente pandemia por cripto-nazistas que saíram do armário e talvez assim permaneçam por mais tempo, dada a nossa formação histórica, tão diversa, que constitui o “Poder Formatório” denominado Psicossocial.
Vale a pena recordar como começou esse preconceito contra a melanina. Logo após os povos de pele não branca terem sido colonizados, os europeus consideravam a melanina como uma espécie de “sujeira” biológica; mas com a popularização das ciências biológicas no século XX, as pessoas começaram a perceber que essa suposta “sujidade” escura era uma proteína que absorvia a maioria da luz solar, protegendo a pele dos mais escuros. Mas o preconceito permaneceu, mesmo depois de todos os avanços científicos, e permanece neste século XXI, quando ficou ainda mais perigoso, pois se tornou informatizado, facilitando sua transmissibilidade.
Contra os preconceituosos, nem vacina possuímos, nem a vamos ter em meio à hodierna polarização política nacional. Independentemente do possível espraiamento do perigo de uma Terceira Grande Guerra, dada a agressão que virou midiática batalha da Rússia contra a Ucrânia. Isso, sem falar nas demais guerras localizadas na África e no Oriente-Médio, cujas notícias de destruição e mortalidade permanecem abafadas.
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do IBGE (Instituto Brasileiro de História e Geografia) [https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/trabalho/9171-pesquisa-nacional-por-amostra-de-domicilios-continua-mensal.html?=&t=destaques] afirma, através da declaração de cor ou raça, que a maioria da população brasileira não é ‘branca’: são 95,9 milhões de pessoas que se declaram pardas, representando 46,7% do total, que devem ser somadas às que se declaram negras, sem contar os índios. Uma nova coleta de dados do Censo Demográfico 2022 começa em 1.º de agosto deste ano.
“vide”: https://www.chumbogordo.com.br/402275-polarizacao-e-preconceito-por-meraldo-zisman/
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Meraldo Zisman – Médico, psicoterapeuta. É um dos primeiros neonatologistas brasileiros. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Vive no Recife (PE). Imortal, pela Academia Recifense de Letras, da Cadeira de número 20, cujo patrono é o escritor Alvaro Ferraz.
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