O silêncio do Lula. Por José Horta Manzano
Tenho tendência a acreditar que o Lula não se manifestou por um motivo tão absconso, que ele mesmo prefere não revelar.
Nesta segunda-feira, vão se completar 4 dias (4 x 24h = 96 horas) que o ex-capitão Bolsonaro, atual presidente da República, outorgou o primeiro indulto nominal concedido por um presidente do Brasil desde 1945. Foi um ato inesperado, intempestivo, fora do ordinário, que ainda está a merecer explicação convincente por parte do autor.
Escoadas essas 96 horas, Lula da Silva, o ex-presidente que pretende desbancar o atual nas urnas de outubro, não se posicionou sobre o fato. Vivo e bem de saúde deve estar, pois tem lançado dezenas de tuítes. Nenhum, no entanto, relacionado com o assunto.
“Fugiu de medo, fez cocô no dedo”?
(A expressão que a gente usava era mais contundente.)
Terá ensurdecido? Ou quiçá não tem lido jornais nos últimos dias? Não consegue furar e atravessar a bolha que o cerca e que o impede de ver que há mais mundo lá fora? Ora, vamos. Sem brincadeira.
Não se posiciona com receio de desagradar a uma parte de seu eleitorado? Não creio. Pois se, ainda outro dia, fez comentário sobre aborto voluntário, tema passional e muito mais clivante.
Quer evitar confrontar o provável futuro adversário? Ora, que história mais tola. Se estão em confronto permanente há anos, desde que Bolsonaro se inscreveu como candidado à Presidência, em 2018! De qualquer maneira, somente da luta sairá um vencedor. Sem luta, ninguém vence e a situação estagna, o que não interessa a ninguém. E o Lula sabe disso.
Há mais mistérios entre céu e Terra do que sonha minha parca imaginação. Exploradas as possibilidades mais plausíveis, restou uma. Tenho tendência a acreditar que o Lula não se manifestou por um motivo tão absconso, que ele mesmo prefere não revelar.
Vamos lá. É possível que, tendo aprendido a lição com Trump e Bolsonaro, o demiurgo de Garanhuns esteja se protegendo para o futuro: está guardando o indulto no bolsinho do colete.
Suponhamos que seja eleito presidente (de novo!). Suponhamos que algum companheiro caia nas malhas da justiça. Suponhamos agora – neste ponto, só se pode mesmo é supor, porque o Lula nunca foi de se mexer pra salvar companheiro nenhum – suponhamos, pois, que ele decida “livrar a cara” do indivíduo e evitar-lhe a Papuda. Que opção tem? Ora, o indulto nominal.
A quem o criticar, argumentando que faz igualzinho ao Bolsonaro, responderá que, desde criancinha, concordou com o indulto individual. “A prova é” – dirá – “que não critiquei o Bolsonaro quando ele concedeu perdão a um companheiro”.
E tem mais. Sempre haverá um punhado de juristas e magistrados prontos a sustentar a tese de que o indulto presidencial pode ser concedido a título preventivo.
Assim, ao final do mandato, logo antes de passar a faixa ao sucessor, o Lula concederia indulto… a si mesmo. A título preventivo. Antes mesmo de ser condenado. Uma espécie de imunidade perene.
Que não duvide o distinto leitor: “nessepaíz” já vimos coisa pior.
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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos, dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.
Silêncio ensurdecedor
Até o momento o verborágico Lula não deu um pio a respeito da graça sem graça concedida pelo ignaro ignóbil a Daniel Silveira. Mas como poderia se manifestar se fez pior quando na Presidência? Não só não extraditou, em 2010, como ainda concedeu asilo político a um assassino, o italiano Cesare Battisti, condenado à prisão perpétua por haver cometido quatro assassinatos? Juristas, como soe acontecer, estabelecem diferenças entre os dois fatos, mas é difícil de engolir, por pior que Silveira seja, ao que se sabe, não matou ninguém. O ex-presidente Michel Temer, em 2018, fez o certo e o extraditou Battisti para a Itália onde cumpre a pena.
Por que o asilo foi concedido? Porque ele é de extrema esquerda, se fosse da outra ponta, teria sido? É a famosa hipocrisia, de um lado vale tudo, do outro não. E isso vale para os dois lados, são muito parecidos no referente à desonestidade intelectual.