Escárnio. Por José Horta Manzano
…O escárnio bolsonárico é tão asqueroso, que escandaliza até a mídia vinculada à extrema-direita. Em resumo, qualquer vivente medianamente informado, seja de esquerda, seja de direita, não consegue deixar de se indignar com a insolência do chucro que ora ocupa a Presidência do Brasil…
CNews é um dos braços de um conglomerado francês de mídia fortemente orientado politicamente à extrema-direita. Volta e meia, seu canal de tevê de informação contínua é processado por parcialidade e tendenciosidade. É o equivalente francês do grupo americano Fox News, o favorito de Trump e dos ultradireitistas americanos.
Monsieur Eric Zemmour, atual candidato às eleições presidenciais francesas do mês que vem, foi comentarista desse canal por muitos anos. Abandonou as funções poucas semanas atrás para poder se candidatar. Zemmour promete que, se for eleito, expulsará todos os estrangeiros (a começar pelos árabes de confissão maometana), tirará a França da União Europeia e passará cadeado nas fronteiras. Se pudesse, recuperaria até as antigas colônias.
É importante notar que foi justamente esse canal que publicou a manchete que reproduzo acima. Em princípio, Bolsonaro – assim como Trump, Orbán, Putin e outros da mesma laia – formam um seleto grupo de “líderes” admirados por CNews.
Se os redatores do grupo se escandalizaram com a notícia vinda de Brasília, é sinal de que a indignação com a desfaçatez do capitão é considerada excessiva até para os padrões dos ultras da direita francesa. Percebe-se que até os da extrema-direita estão começando a se dar conta de que Bolsonaro se comporta como pária.
O título diz:
Indignações depois de Jair Bolsonaro ter mandado que lhe concedessem uma medalha do ‘mérito indigenista’. (as aspas estão no original)
E o subtítulo continua:
Durante seu mandato, Jair Bolsonaro tem sido muito criticado por sua ação contra o desmatamento e a espoliação das terras indígenas.
O restante do texto segue na mesma linha.
O escárnio bolsonárico é tão asqueroso, que escandaliza até a mídia vinculada à extrema-direita. Em resumo, qualquer vivente medianamente informado, seja de esquerda, seja de direita, não consegue deixar de se indignar com a insolência do chucro que ora ocupa a Presidência do Brasil.
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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos, dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.
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Caro Manzano.
Leitor de suas crônicas / escritos assíduo, sempre me convenço que poucos hoje escrevem a realidade do momento que passamos.
Incluo seus textos nos que podemos confiar, pois isento de fé ou idealismos reflete aquilo que gostaríamos de poder expor.
Antigos bons articulistas ( Guzzo, Augusto Nunes, Fiuza, MA Villa …) hoje se voltam contra ao que antigamente eram suas próprias opiniões…
Não se trata de ser eternamente radical ou de única opinião; os fatos mudam o que pensamos ao correr dos anos e dos conhecimentos, mas mudar sobre fatos que, independente das opiniões dos cronistas são sobejamente reconhecidos e comprovados, beira a insanidade ou obtenção de vantagens outrora abominadas e criticadas.
Enfim, é o que temos.. tenho 71 anos, acho que não verei o eterno pais do futuro…
Desculpe o longo texto; era apenas para agradecer pela lucidez de sempre…
Hoje, vivemos o momento de eleger o 51 (sim, é referencia a cachaça) ou 171 ( sim, o estelionatário).
Pena, poderíamos ter melhor escolha….
Abraço de quem muito o respeita.
Caro Xará,
Fico derretido com a delicadeza de seus propósitos e com suas palavras gentis.
Tem razão, acho que não veremos o país do futuro, aquele futuro que nos parecia ao alcance da mão. Tenho uns aninhos a mais que você, logo, menos esperança ainda de ver esse Brasil decente. Aliás, vamos ser francos: tenho certeza de que nunca veremos decência em nossa terra.
Em vez de andar pra frente, as coisas parecem escorregar cada dia mais para o fundo do poço. Tirando internet e outras invenções modernas, o povão continua sendo tratado como se nunca tivéssemos deixado o tempo dos coronéis.
Vivemos num século 18 disfarçado, em que os poderosos continuam se revezando no mando enquanto a ralé – que somos nós todos – passa a vida pilando mandioca pra fazer farinha. (Que só comerá depois que a melhor parte for separada para o pirão da casa grande.)
Minha mensagem é amarga mas, que fazer? Não vejo como adocicá-la. Numa próxima encarnação, quem sabe.
Forte abraço.