A besta-fera está acuada. Por Edmilson Siqueira
…O fato é que, consumada a invasão, consumada a tomada do poder das mãos de um presidente eleito democraticamente, a Rússia deverá enfrentar uma resistência do tipo “guerrilha” por muito tempo, o que só desgastará ainda mais Putin e custará um preço bem elevado ao povo russo…
O que estamos assistindo com a invasão da Ucrânia por parte do ditador russo, Vladimir Putin é, além da violência explícita de um enorme e bem armado exército contra um país que se mostrava quase indefeso, é uma reação como jamais se viu no mundo anteriormente.
As democracias ocidentais estão agido de forma que, consumada a invasão e a “conquista”, a Rússia se torne um país fechado que talvez só faça negócios com a China (e olhe lá), Cuba, Coreia do Norte, Venezuela (e olhe lá também) e Brasil, se o eleitor brasileiro cair nas armadilhas de Lula e eleger um grande ladrão de dinheiro público e simpático a ditadores que seja contra os EUA, ou se arriscar a se enganar novamente e ter um genocida no poder, simpático a outros genocidas.
A China tem se mostrado pragmática. Não saiu em defesa total de Putin nem o condenou. Aproveitou a saída das duas maiores empresas de cartão de crédito do mundo da Rússia e vai entrar com o seu. Deve ganhar um bom dinheiro enquanto o governo russo tiver reservas para bancar a aventura. Depois, ninguém sabe. A China não pode entrar em aventuras que lhe causem prejuízo, pois tem um bilhão e meio de bocas para alimentar.
A ida de agentes do governo dos EUA à Venezuela dá bem uma ideia do aperto que o mundo democrático está tentando impor à Rússia. Potencial grande produtora de petróleo, a ideia é substituir o petróleo russo, que abastece boa parte da Europa, pelo venezuelano. Se Maduro perceber que poder iniciar uma recuperação da combalida economia de seu país – que chegou a esse estado justamente por causa dele e de seu antecessor, Hugo Chávez e seu podre regime socialista – a Rússia pode perder grande fonte de renda, pois a Venezuela pode abastecer muitos países caso, com apoio dos EUA, aumente consideravelmente a produção. Petróleo para tanto ela tem. O que não tem é capacidade de extraí-lo como fazem países capitalistas, já que montou um governo extremamente ditatorial e corrupto que acabou com a produção da estatal petrolífera.
O fato é que, consumada a invasão, consumada a tomada do poder das mãos de um presidente eleito democraticamente, a Rússia deverá enfrentar uma resistência do tipo “guerrilha” por muito tempo, o que só desgastará ainda mais Putin e custará um preço bem elevado ao povo russo.
Já há vários empresários russos que criticaram abertamente Putin por causa de sua aventura imperialista, pois, com as sanções todas, alguns deixaram de ser bilionários da noite pro dia e estão vendo que nem milionários serão em poucos meses. O formidável cerco a fortunas dos chamados oligarcas russo no exterior revela que os tentáculos do governo de Putin eram grandes, pois, como se viu em alguns documentários e depoimentos de especialistas em Rússia, as fortunas têm, em sua maioria, um ex-agente da KGB, de onde Putin era agente, na testa do negócio e, segundo essas fontes, o presidente recebe um percentual de todos os negócios que as estatais e ex-estatais realizam. Dizem que Putin pode ser hoje o homem mais rico do mundo, com uma fortuna calculada em 200 bilhões de dólares. Fortuna essa, claro, disfarçada e espalhada pelo mundo em nome de laranjas e em bancos que ainda têm contas apenas numeradas. E que tem sido, dentro do possível, bloqueada por vários países.
A revolta desses empresários já é mais uma pedra no sapato de Putin. Mas há outros. O povo russo, principalmente nas maiores cidades, está realizando protestos e consta que os presos pela polícia russa por causa das manifestações já passam de seis mil. Partindo-se do princípio que apenas alguns são presos nas ruas, é muita gente.
Para tentar abafar esses protestos, Putin está eliminando a imprensa livre e independente do seu país. Grandes veículos de informação estrangeiros, não podendo informar a verdade, não podem chamar guerra de guerra nem invasão de invasão, pois Putin baixou lei proibindo esses termos e alguns outros, e obrigando a todos usarem eufemismos ao se referir à realidade. Diante da truculência do ato, fecharam suas portas e deixaram o país. Outros, russos, encerraram as atividades com receio da prisão prevista na lei caso chamassem a guerra de guerra e a invasão de invasão. Censura pura, própria das ditaduras de qualquer matiz ideológico.
Essas medidas só podem ser por conta de algum desespero que já recai sobre o núcleo duro do poder. Desespero esse que pôde ser notado assim que o mundo democrático tomou um lado na questão, condenando a invasão e defendendo a Ucrânia. Putin passou a falar que os ucranianos elegeram um governo nazista e que seus dirigentes eram drogados. Só uma grande preocupação com o futuro de sua louca aventura poderia justificar tal acusação. O presidente ucraniano é judeu e não há qualquer acusação em sua biografia que ele é ou tenha sido usuário de drogas.
Depois, a declaração de que todo arsenal nuclear da Rússia havia sido colocado em regime de alerta máximo (o que significa que o próximo passo seria apertar o botão), demonstrou também que Putin sentiu o golpe e que as coisas não estavam saindo conforme o planejado. Ameaçar o mundo de uma guerra nuclear com a possibilidade real do fim da espécie humana, não pode passar pela cabeça de um governante com as funções mentais funcionando normalmente. Putin está acuado e como besta-fera que é, ameaça destruir tudo. E um sinal disso são as mentiras que tem falado ao presidente francês desde o início das conversas que mantiveram. A última é a do corredor humanitário. Diz uma coisa para Macron e faz outra, cinicamente.
Por fim, a volta de mais de 140 mil cidadãos ucranianos para seu país, a maioria homens, revela que a resistência vai continuar mesmo que Kiev caia e no lugar do presidente craniano assuma um fantoche de Putin. A Ucrânia virou um símbolo para o mundo que quer viver em paz e com liberdade. Se Putin não cair através de providências tomadas pelos próprios russos, não será mais um presidente de um país em busca do desenvolvimento. Será um ditador de um país sufocado pelo mundo, cada vez mais pobre e talvez bem pior do que era durante os anos de chumbo da ditadura comunista.
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Edmilson Siqueira– é jornalista
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