surrealismo e guerra

Rússia e Ucrânia na Terra do Surrealismo. Por Júlia V. Kurtz

surrealismo e guerra

Publicado originalmente no BeInCrypto Brasil, março de 2022

Uma das consequências menores da invasão da Ucrânia pela Rússia – iniciada na quinta-feira (24/ fevereiro) e sem data para acabar – foi confirmar aquilo que todo mundo suspeitava: o mundo enlouqueceu.

E como tudo o que acontece no mundo é resultado de um test drive ocorrido antes no Brasil, não é de estranhar que, em terras tupiniquins, a primeira a abandonar o país foi uma tal de Sanidade. Historiadores não duvidam de que este evento ocorreu, mas debaterão com unhas e dentes a data exata de nossa perdição.

Alguns juram que a loucura começou com a eleição do atual presidente Jair Bolsonaro. Outros são mais ousados e citam a proclamação da República em 1889. Há também aqueles que defendem devolver o país aos índios. Em comum, todos querem estar certos para poder apontar o dedo ao nariz dos outros e dizer que estava certo.

Nunca foi tão difícil ser de direita no Brasil. Mas também não está fácil ser de esquerda. O primeiro míssil russo disparado na Ucrânia fez um desvio e, no caminho, destruiu o muro que separava estes conceitos.

Vamos começar com o velho axioma de que a guerra é sempre deplorável e a paz é sempre melhor. Mas a invasora foi a Rússia, uma eterna oprimida pelo imperialismo americano. Ficar ao lado da Ucrânia, nesse caso, significa concordar com os Estados Unidos. Que fazer?

Por outro lado, talvez exista uma esperança. O exército russo, ao que tudo indica, cruzou com e atropelou uma milícia neonazista ucraniana enquanto se dirigia à capital Kiev. Isso faz deles os mocinhos, né? Ao mesmo tempo, há quem diga que a Rússia conquistou Chernobyl apenas para evitar que o monstro radioativo enterrado no sarcófago das ruínas fosse usado para iniciar uma guerra nuclear e jamais teria intenções escusas ela própria.

Por outro lado o presidente bufão da Ucrânia, o tipo de pessoa que, da segurança de um esconderijo, envia seu povo – civis, não militares! – para a morte não parece ser da Democracia Utópica (onde tudo é perfeito) que existe no resto do mundo imaginário do militante.

Zelensky, o comediante que interpretou um presidente em um programa de televisão e se viciou no papel, infelizmente parece ter esquecido das lições da Arte Poética de Aristóteles e, errando o gênero, transformou-se em protagonista desta tragédia internacional. Na crise, revelou-se não um líder, mas um covarde. Já podemos torcer pro Putin, então?

Quando o povo se vê de frente a questões complexas como essa, é comum dirigir-se a seus líderes em busca de conselhos. Vejamos qual melodia a canção dos dias nos trouxe na Terra do Surrealismo:

O ex-presidente Lula, eterno líder do Fórum de São Paulo e representante maior da Ameaça Comunista Internacional®, aliado de Putin e defensor do Globalismo, veio a público para condenar a invasão da Ucrânia e pregar o papel da diplomacia brasileira como instrumento para trazer a paz. Oi?

Por outro lado, nosso vice-presidente, o general Mourão, citando Marx, defendeu que a OTAN enviasse tropas e auxílio e que tudo isso fosse resolvido na porrada, enquanto ele próprio continuaria aquartelado, comendo pipoca e pensando em outubro.

Foi desautorizado por Bolsonaro, claro, mas não por pregar a guerra e sim por ousar insinuar que a Rússia tem qualquer tipo de culpa nessa história. E o presidente, por sua vez, deixou claro – não com palavras e sim com ações – de que lado está.

Todos sabemos que nossa bandeira jamais será vermelha e que o comunismo chinês é o maior inimigo do país e que seu maior representante, hoje, são os Estados Unidos do presidente Joe Biden. E é por isso que o Brasil se uniu à Rússia, Venezuela e à China comunista: para evitar que o país se torne uma nova Venezuela. Não entendeu? Você só pode ser um traídor.

Nunca houve evento que confundisse tanto a militância política brasileira nos últimos anos do que a invasão da Ucrânia pela Rússia. Parece complicado, mas as coisas ficam mais fáceis de analisar quando lembramos de uma verdade elementar que parece esquecida no país: aquela que diz que as coisas não são maniqueístas e existem mais tons de cinza entre o branco e o preto do que sonha nossa vã moralidade.

Urgente, nesse momento, é o Brasil se desculpar com uma figura lendária de nossa literatura. O médico Simão Bacamarte, quem diria, estava certo. Mas não se preocupem. Observando no Paraíso a situação se desenrolar, já há relatos de que o velho doutor esticou os dedos e murmurou:

– Eu vou precisar de um hospício maior!

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Júlia V Kurtz - YouTube*Júlia V. Kurtz –  Editora-chefe do BeInCrypto Brasil, com dez anos de experiência na cobertura de tecnologia. Criou uma galeria NFT com fotos de seus gatos. Tem passagens na Globo, Gazeta do Povo e no Portal UOL.

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