A insanidade no poder. Por Edmilson Siqueira
A insanidade é tanta que, quando viu o apoio que a Ucrânia estava angariando no mundo – e esse apoio começou tímido pelas maiores nações, mas foi crescendo à medida que os protestos contra a insanidade russa cresceram em todo o mundo – Putin não teve dúvida alguma: colocou sobre a mesa o poderio nuclear que tem nas mãos…
Não há uma guerra mais insana que outra e essa a que estamos assistindo, de um país com um imenso poderio militar contra outro com cerca de dez por cento das forças oponentes, não foge à regra. Um país poderoso pretende, pela força das armas, invadir outro, dominá-lo, impedir que ele escolha seu próprio destino colocando ali um governo que seja favorável ao país dominador.
A insanidade, obviamente, não é do país e, sim, das pessoas que o governam. O Brasil, por exemplo, poderia ter iniciado o combate à pandemia de covid-19 vários meses antes e ter garantido doses suficientes de vacina para iniciar a imunização de todo mundo, sem separação por idade e sem a falta do imunizante. Teríamos assistido a muitas mortes a menos, não teríamos tido falta de vaga nem de respiradores, já que resta provado que as vacinas impedem uma ação mais devastadora do vírus e impedem internações e óbitos. Mas temos um presidente insano cercado por auxiliares idem que, com um medo burro e imbecil de desandar a economia, tentou o caminho mais difícil, demorou pra comprar vacinas ou tentou comprá-las de um grupo corrupto que, descoberto, foi impedido e, com isso, ajudou a matar muita gente. Insanidade pura que deveria ser rigorosamente punida. Talvez, quem sabe, um dia seja.
Não é diferente o tortuoso raciocínio de insanos com enorme poderio bélico e nuclear. Para o presidente russo – eleito e reeleito tirando fisicamente seus adversários do caminho – a Rússia corre sério risco de extinção e, para evitar a tragédia, as fronteiras da antiga União Soviética precisam ser retomadas, se não no todo, pelo menos em parte.
Putin não pensa duas vezes em eliminar adversários, usando métodos de espionagem, principalmente o envenenamento, do mesmo modo que invadir um país ou uma região de um país, para ele é simples: basta acionar parte de sua enorme máquina de guerra, já que seus vizinhos são todos pequenos, com tímidos exércitos que não oferecerão resistência alguma.
Bolsonaro tenta destruir quem se opõe ao seu “pensamento”, vide as campanhas contra alguns ministros do STF e contra Sergio Moro. Não usa os métodos de Putin porque não estão ao seu alcance, mas usaria se estivessem.
Assim, para Putin, nenhum país que faz fronteira com a Rússia, mesmo com governantes eleitos pelo povo que prometeram aos eleitores uma integração total com a Europa para possibilitar um desenvolvimento sustentável, não podem se bandear para as delícias do capitalismo e, muito menos, se abrigar sob as asas da OTAN, a organização militar que garante a segurança de suas fronteiras.
E por quê? Ora, um país que consiga se desenvolver, criar riquezas e se transformar um bom lugar para viver – e tudo isso democraticamente, com eleições livres e alternância de nomes e partidos no poder – será um péssimo exemplo para a disfarçada ditadura que Putin implantou na Rússia, que está prestes a lhe garantir um tempo no trono maior que Stálin, o feroz ditador comunista que não precisava enfrentar eleições.
A insanidade é tanta que, quando viu o apoio que a Ucrânia estava angariando no mundo – e esse apoio começou tímido pelas maiores nações, mas foi crescendo à medida que os protestos contra a insanidade russa cresceram em todo o mundo – Putin não teve dúvida alguma: colocou sobre a mesa o poderio nuclear que tem nas mãos, ameaçando o mundo, não importando que o uso dele simplesmente poderia extinguir a vida na Terra, antecipando o fim a que o planeta está destinado, quando será engolido pela expansão do Sol daqui uns 3 a 4 bilhões de anos, segundo os cientistas.
Mas o apoio só cresceu e está surtindo efeitos. A Rússia é um país quase isolado de tudo, inclusive financeiramente. Artistas e atletas saíram na frente, levando com eles suas entidades num boicote que jamais havia sido visto no mundo, tamanha a grandiosidade. Com a revolta popular se manifestando, governantes se sentiram fortes para ferir a economia russa, cortando créditos e acessos ao mundo financeiro, provocando filas em caixas eletrônicos e anunciando um futuro próximo de muitos sacrifícios para o povo russo, caso a insanidade prevaleça no Kremlin.
Talvez seja a primeira vez que o mundo está respondendo de forma tão enérgica a um ato insano praticado por um tiranete. Foi essa resposta que provocou a reação dos governantes e de entidades como a Fifa, a Eurovisão e muitas outras. E, na própria Rússia, já há mais de 6 mil manifestantes presos não só por protestar em altos berros contra a insanidade e enfrentar a repressão, mas por simplesmente portar uma bandeira da Ucrânia ou um singelo balão colorido com as cores do país invadido. O que demonstra, aliás, que o governo russo ainda cultiva os vícios da ditadura comunista.
Nos próximos dias, talvez Kiev se renda à barbárie russa, mas, com certeza, a guerra prosseguirá. Os problemas financeiros que o mundo está impondo à Rússia terão consequências graves, inclusive no poderio militar que hoje Putin ostenta. E haverá também resistência do povo ucraniano que atendeu aos apelos do governo, aceitou as armas para atuar numa guerrilha urbana que poderá seguir à “conquista” do poder. Sem contar todo o apoio bélico que está chegando da Europa e dos EUA.
E, então, Putin viverá seu inferno, com recursos minguando, uma população revoltada e uma guerra insana e sem fim pela frente. Quem sabe, depois dessa insanidade toda, o povo russo resolva colocar no poder um governante mentalmente são.
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Edmilson Siqueira– é jornalista
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Que bom quê retornou ao site. Apenas para dizer que leio todos os seus artigos.
Estive doente, mas já me recuperei. Obrigado pelo comentário.
Infelizmente a história do povo russo foi sempre de opressão – primeiro por czares, depois por ditadores. Acostumou-se a ela e será muito difícil escolher um governante que não flerte com a tirania.
Cada um com sua história.