Doidões e Caretas. Por Wladimir Weltman

Descobri há pouco que existe uma ordem de freiras que cultiva e vende produtos derivados da cannabis. São as já famosas freiras maconheiras da Califórnia…

O filósofo e economista alemão Karl Marx foi quem afirmou que a religião é o ópio do povo. Ele disse isso pois acreditava que ela era usada pelos poderosos para oprimir os trabalhadores. Aos “bons cristãos” a igreja prometia, depois da morte, um paraíso similar aos efeitos da droga. Marx achava que sem a panaceia religiosa o povão finalmente encararia a dura realidade de sua condição socioeconômica e se revoltaria. Fato é que na Rússia de Stálin, em meio ao “paraíso comunista”, o povo sofria tanto que aceitaria de bom grado um ópiozinho qualquer pra encarar aquela barra pesadíssima. Na falta de ópio a turma entornava mesmo a vodca – “zdarovia”!

Hoje, porém, enquanto muitos americanos tentam se livrar do terrível vício dos opioides – no primeiro ano da pandemia, em 2020 rolaram mais de 100 mil casos de overdose a base de opioides nos EUA (dados do site LANCET de fevereiro de 2022) – O consumo de derivados da maconha está liberado em 29 estados. Na Califórnia, onde resido, a coisa é impressionante. Outro dia fui a uma loja perto de casa para conferir. Loja é pouco, o lugar é uma boutique de luxo e com preços exorbitantes. Além dos tradicionais cigarrinhos já enrolados, vendem jujubas pra ajudar a dormir, elixir para dores, e aparatos os mais diversos para facilitar o consumo.

Nem por isso o uso da maconha é um tema livre de polêmica. Na verdade poucos assuntos despertam tanta controvérsia entre os americanos.

As dúvidas são muitas – É seguro? Viciante? Como mantê-la longe dos adolescentes? A maconha medicinal é apenas uma manobra para legalizar a maconha em geral? As opiniões se dividem entre quem é a favor e os que são contra, e ninguém está ganhando a discussão.

Os defensores sugerem que a legalização reduz o crime, aumenta a receita tributária, reduz os gastos com a justiça criminal, melhora a saúde pública, aumenta a segurança no trânsito e estimula a economia. Já os críticos argumentam que a legalização estimula o uso de outras drogas e do álcool também, além de aumenta o crime, diminui a segurança no trânsito, prejudica a saúde pública e diminui o desempenho educacional dos adolescentes.

Na avaliação dos técnicos, os efeitos da legalização permanecem indefinidos por falta de dados. A única certeza é que a receita tributária superou as expectativas. Além da ausência de consequências adversas significativas, apesar das previsões terríveis que eram feitas pelos oponentes antes da legalização. No geral, o crime violento não aumentou nem despencou após a legalização da maconha. Na maioria dos estados, essa tendência permaneceu relativamente estável após a legalização (dados do Cato Institute – 2 de fevereiro de 2021)

Mas se você está achando tudo isso muito chato, tenho uma nota bem-humorada para agregar. Descobri há pouco que existe uma ordem de freiras que cultiva e vende produtos derivados da cannabis. São as já famosas freiras maconheiras da Califórnia.

Os católicos fervorosos não precisam fazer o sinal da cruz, nem ficar preocupados que o Papa Francisco esteja benzendo a produção “pecaminosa” dessas freiras moderninhas. As irmãs da “erva do diabo” não pertencem a nenhuma ordem da Igreja Católica, apesar de andarem vestidas como as tradicionais noivas de Cristo.

“Não fazemos parte da igreja católica. Na verdade somos contra as religiões. Baseamos nossas atividades em práticas pré-cristãs”, informa a irmã Kate, de 58 anos, que fundou a irmandade em 2014.

O grupo diz que sua “eucaristia” consiste de transformar a planta da maconha, especialmente o cânhamo, em bálsamos e pomadas, que afirmam ter o poder de melhorar a saúde e o bem-estar das pessoas.

De fato, o extrato do cânhamo conhecido como CBD (canabidiol) tem pouca ou nenhuma propriedade intoxicante. E os pacientes que utilizam os derivados à base de canabidiol relatam os seus muitos benefícios. Pude verificar a veracidade disso através de mais de uma família de amigos, cujos filhos têm problemas como epilepsia, convulsões e que somente o óleo de canabidiol é capaz de aliviar o sofrimento de suas crianças. Infelizmente no Brasil é quase impossível de se obtê-lo legalmente. O canabidiol também é usado para tratamentos de doença como Alzheimer, esclerose lateral amiotrófica (ELA), HIV/AIDS, doença de Crohn, Glaucoma, esclerose múltipla e espasmos musculares, dor severa e crônica, náuseas ou vômitos graves resultantes do tratamentos do câncer. Cerca de 85% dos americanos apoiam a legalização da maconha medicinal, e estima-se que pelo menos vários milhões de americanos a usem atualmente (dados do Harvard Health Blog de abril de 2020).

As “irmãs” da comunidade ganham salário e/ou comissão pelas das vendas dos produtos de canabidiol. O grupo tem mentalidade feminista e fica numa região das mais pobres da Califórnia.

Os lucros do negócio – ano passado faturou 750 mil dólares nas vendas – estão sendo reinvestidos na região para melhorar as condições da comunidade. Algo bastante cristão, apesar delas não serem religiosas.

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WLADIMIR WELTMAN – é jornalista, roteirista de cinema e TV e diretor de TV. Cobre Hollywood, de onde informa tudo para o Chumbo Gordo

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(DIRETO DE LOS ANGELES)