elegância presidencial

A elegância presidencial. Por José Horta Manzano

elegância presidencial

Pois é, senhores, temos presidente. Não é lá muito inteligente, não é esperto, não é corajoso, não é confiável, não é instruído, não é bem-intencionado, não é amado, não é líder, não é firme, não é insuspeito, não é simpático, não é religioso, não é anticlerical, não é bem educado, não é pessoa de fino trato, não é diplomata, não é sutil. Não é grande coisa, mas é o presidente do Brasil.

Ao aceitar a faixa presidencial, recebeu a incumbência de representar nosso país no exterior. Em terras russas (ou de qualquer outro país), ele é o Brasil. E o Brasil é ele.

Agora saboreie esta fotografia. Foi tirada em Moscou na terça-feira 15 de fevereiro, à chegada do capitão.

Ela flagra um Bolsonaro empertigado para a audição dos hinos, executados logo após a aterrissagem no Aeroporto de Vnukovo. Os componentes da banda musical, os figurões que foram recepcionar o capitão e até o segurança (que se adivinha pelo “discreto” fone de ouvido) vestem gravata. Admita-se que é adereço normal para uma solenidade dessas.

Quanto a nosso mandatário, se gravata tinha, não se viu. Vê-se uma figura um tanto disforme, ostentando pança avantajada e trajando calça amarrotada, com ar de ter ido à guerra e voltado sem ver ferro de passar. Paletó, não se vê. No lugar da peça mais comum do vestuário formal masculino, aparece uma espécie de blusão trancado até o queixo, de matéria plástica, azul-marinho (chocando com a calça marrom). O blusão tem jeitão de “made in China” comprado a preço de fim de feira.

Pensei que a Presidência da República contasse com um serviço de cerimonial, com chefe, conselheiros e executantes. Imaginei que fossem consultados nessas horas, nem que fosse pra evitar gafes presidenciais, tipo roupa errada na hora errada. Constato que serviço de cerimonial não há. Se há, não funciona.

Alguém precisa informar a senhor Bolsonaro que, em fevereiro, na Europa, faz frio. Na Rússia, mais ainda. Não se desce de avião vestindo um blusão de banca de feira. Além de dar impressão de que nosso país está mais na miséria do que realmente está, ainda periga não aquecer suficiente o corpo sofrido de um senhor de idade avançada, que sofreu meia dúzia de intervenções cirúrgicas nos últimos anos.

Que ele tome exemplo em Donald Trump, seu mentor. Não me lembro de ter visto o presidente americano sair à rua sem a proverbial gravata vermelha e o mantô azul-marinho que cobre até o tornozelo. Será que Bolsonaro só absorveu as patacoadas do mestre, deixando de lado seus poucos ensinamentos úteis?

pandora

 Em tempo

Não vale alegar que o capitão não tem dinheiro, que não tem tempo de fazer mala, que não dá pra se trocar no avião, que ele não sabe escolher o próprio guarda-roupa.

Para a falta de dinheiro, está aí o famigerado cartão corporativo, financiado com o suor de todos nós, destinado justamente a esses gastos “confidenciais”.

Para arrumar-lhe as malas, ele conta com esposa. Se não bastasse, é suficiente estalar os dedos e um batalhão de serviçais (pagos com nosso dinheiro) acorrerá, todos prontos para dobrar cuecas, arrumar na valise e afivelar.

Que não pôde se trocar no avião? Ora, venha cá. O Aerolula – que ele usa até hoje mas que guarda o nome do presidente que o comprou – tem mais espaço que muito apartamento por aí. A suite presidencial, onde o capitão pode espichar as pernas e dormir numa cama de verdade com armário e espelho, dá pra duchar-se, barbear-se, e trocar de roupa antes da aterrissagem. Teria dado pra enfiar uma calça decente.

Que ele não sabe escolher o próprio guarda-roupa? É uma evidência. Só que tem uma coisa. Quando sai pra passear de lancha, pode usar camiseta com propaganda da firma de um amigo; fica um lixo, mas os admiradores não costumam reclamar.

Agora, quando ele é a imagem do Brasil em terra estrangeira, por favor, capitão, evite mostrar a pança espremida dentro de um blusão com ar de plástico “made in China”. Pega pra lá de mal. Quem sabe o Trump, que agora vive nos calores da Florida, pode até ceder-lhe o dele.

De altura, os dois regulam.

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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos,  dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.

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12 thoughts on “A elegância presidencial. Por José Horta Manzano

  1. …”Não é lá muito inteligente, não é esperto, não é corajoso, não é confiável, não é instruído, não é bem-intencionado, não é amado, não é líder, não é firme, não é insuspeito, não é simpático, não é religioso, não é anticlerical, não é bem educado, não é pessoa de fino trato, não é diplomata, não é sutil. Não é grande coisa,”…
    – Pois é, “seu Horta”: é o retrato do brasileiro médio, aquele que não pode sair daqui pra viver na Suíça…
    Não satisfeitos em atacar gratuitamente as posturas políticas do Bolso, agora voltam seu ódio biliar contra o guarda roupa do homem. Por acaso o sr. conhece o protocolo presidencial? Será que sua (dele) cueca também o incomoda?
    Tenha paciência…

    P.S.: e ainda corro o risco de ser chamado de bolsonarista (querem apostar?)
    E quanto à altura, o sr. me parece bem abaixo dos dois citados.

  2. Há algum tempo, depois de ler um artigo do “seu” Horta, decidi sabiamente nunca mais lê-lo (ainda existe esta construção?).
    Hoje, por pura imprudência, e pra começar o dia com a pata esquerda (mas não comunista) decidi fazê-lo (outra vez?). Só pra constatar que “de onde menos se espera, não sai nada mesmo!

    1. Distímico persistente já está claro que o Sr é.
      Atingido de uma forma de rhabdovirus, não tem dúvida.
      Como neuropsiquiatra te dou um conselho:
      Procure um médico. Rápido. O Sr. precisa!
      (Não vou dizer que é bolsonarista, pois o Sr
      garante não ser. Mas tá no caminho certo.)
      Acalme-se. Respire um pouco. Não se maltrate tanto.
      Ainda podemos fazer algo pelo Sr…

    2. O que eu acho que o sr. poderia fazer por mim, o sr. não fará. Com absoluta certeza…
      P.S.: também moras na Suíça?

    3. Comentei um artigo do “seu” Horta. O sr.(a) resolveu comentar o meu comentário.
      Como neuropsiquiatra que é, deve saber por quê isso, de alguma forma, o (a) incomodou! Portanto, o sr.(a) também tem um problema e, assim sendo, enquanto não resolvê-lo, não pode me ajudar… – “Porventura pode um cego guiar outro cego? Não cairão ambos no barranco?” (Lucas, VI, 39.)
      Não posso diagnosticá-lo (a) por falta de competência, mas ouso “chutar” que, se meu caso é de “rhabdovirus”, o seu pode ser “virus no rhabdo”!

  3. Sr. A. Boa tarde. Minha mulher – chama-se Carla – não se encontra disponível para lhe dizer umas palavras. Sorte dela. Se lesse sua imprecação, constataria mais uma vez, com muita tristeza, o quanto o estado de saúde mental da população média brasileira despencou nestes anos desastrosos de bolsonarismo. Hoje há mais neuróticos sem solução, mais psicóticos disfarçados, mais maníaco-depressivos, mais frustrados rancorosos e emocionalmente desesperados por aí. Teu caso bem o demonstra. São pessoas infelizes, é claro, mas são capazes de tudo que de incorreto e estúpido exista por um minuto de satisfação ou de catarse. Imprecar, urrar vilanias, depreciar os outros, tentar destruir aquele que nenhuma responsabilidade tem em relação a seu estado de descompensação afetiva e desorientação cognitiva, parece ser o único êxtase possível para esses pobres coitados. Por isso mesmo, quero te dizer, em nome de minha mulher e em meu também, algo que te fará bem saber: o Sr. é uma pessoa triste, existencialmente miserável, mal resolvida, dessas que abaixam o nível de uma conversa, por mais descontraída que seja, apenas para poder resolvê-la de igual para igual – ou seja, num nível que é próprio ao Sr. Teu comentário ao artigo de Manzano – se podemos chamar de comentário uma reação de ódio e de raiva – é de uma insensibilidade e de uma desinteligência que não deixam dúvidas. O Sr. realmente precisa de ajuda. Agressões gratuitas, mal-humoradas, constituídas de baixaria pura e simples, denunciam tua personalidade, teu caráter, teu Weltanschauung (procura no Google!). Assim como bolsonaro – teu herói de quem o Sr. se envergonha por ter como horizonte –, o Sr. odeia o humor alheio, odeia a inteligência do humor, odeia quem o tem, porque isso é coisa que teu estado de ausência crônica de afeto, de frustração permanente, não mais te permite ter ou saber o que é. O Sr. sabe que o humor alheio te faz mal – não porque este possa até ter o Sr. como objeto, mas porque o Sr. não mais consegue ser seu sujeito. Entendeu? Acho, de fato, que o Sr. tem todo o direito de discordar do humor com que Manzano elabora seu argumento, tem todo o direito de desgostar da mensagem inofensiva que minha mulher escreveu, também com humor, a respeito do teu mau-humor e da tua irascibilidade gratuita, mas agredir de maneira estúpida, grossa como só a sarjeta pode ser, isso o Sr. não pode. Sabe, eu até respeito a estupidez alheia, porquanto seja involuntária, porquanto o estúpido sequer saiba que o é. Mas acho que este não é o teu caso, não é mesmo? Responda aí: fosse o artigo de Manzano um bem-humorado comentário sobre as ruindades de Lula ou do PT, por exemplo (e ele o fez inúmeras vezes), o Sr. se enfezaria tanto assim?

    Ah, em tempo. Não, minha mulher e eu não vivemos na Suíça, mas talvez até viajemos um dia para aquele lado. Temos um casal de amigos por ali. Por que não visitá-los? Por enquanto, no entanto, estamos no Brasil. Em breve, em breve mesmo, se a sorte não nos faltar, daremos o fora desta terra tão bela quanto injusta com seus filhos, para viver noutro lugar. Não pretendemos mais voltar para cá.

    Mas não se desespere, viu! Sempre haverá por aqui muita gente cujo bom-humor o desagradará, gente que o Sr. nunca viu na vida, mas ainda poderá agredir gratuitamente.

    Desculpe; só uma última palavrinha: assim como minha mulher, também acho que o Sr. precisa muito de ajuda. Ao contrário dela, no entanto, não acho que seja lá quem for possa fazer algo pelo Sr.

    Adeus.

    1. Invadem meu comentário – o sr. e sua cônjuge – (num direito mais que legítimo pois a área de comentários é aberta e livre – até eu, que não falo alemão, tenho acesso), traçam meu perfil psicológico e doente sem eu ter pedido nem pago consulta, e querem sair assobiando e tripudiando.
      Então, tá!

    1. Marli: obrigado por aceitar o meu humor, psiquiatricamente combalido!
      Um enorme beijão! (com pleonasmo voluntário)
      A.

    2. … e perdão por eu baixar o nível dos comentários, escrevendo em português!
      (Aproveito o adendo pra mandar mais um beijo!) 🥰
      A.

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