Sonífera ilha. Por Alexandre Schwartsman
O desempenho do IBC-Br sugere que a atividade andou de lado em 2021. Mais grave, porém, a recuperação desde a recessão da Nova Matriz revela economia com baixo potencial de crescimento.
PUBLICADO ORIGINALMENTE NA INFOMONEY, EDIÇÃO DE 16 DE FEVEREIRO DE 2022
Apesar de um desempenho um pouco melhor nos meses finais de 2021, o IBC-Br, índice criado pelo BC para sintetizar a atividade econômica em frequência mensal, registrou crescimento nulo no último trimestre do ano. Este resultado é consistente com leve expansão do PIB no período ao redor de 0,2%, mais ou menos compensando as quedas registradas em trimestres anteriores, sob a suposição implícita (mas nem sempre verdadeira) que os dados passados não sofrerão alteração com a divulgação referente ao quarto trimestre.
A ser verdade, portanto, aponta para uma economia estagnada. Comparado a 2020, é bom que se diga, a expansão do PIB deve ficar pouco abaixo de 5% (4,8%, caso queiram a projeção mais precisa), mas, como ilustrado pelo gráfico abaixo (que acompanha o comportamento do IBC-Br), o crescimento fica na conta da fraca base de comparação em 2020, por força do impacto negativo da crise sanitária, que derrubou a atividade econômica em 15% entre fevereiro e abril daquele ano.
Fonte: BCB
De fato, desde o começo de 2021 o IBC-Br sugere que a atividade andou de lado, um pouco mais fraca no terceiro trimestre, um pouco mais forte, conforme notado, no quarto, mas basicamente sem sair do lugar. Relativamente a 2019, último ano antes da pandemia, o IBC-Br subiu menos de 1%.
O mais complicado, porém, não é isso, e sim que a comparação do desempenho com relação aos anos que antecederam a pandemia revela fraqueza assombrosa da capacidade de crescimento do país. Após encolher 8,5% entre 2013 e 2016, cortesia da política econômica da ex-presidente Dilma, o crescimento posterior, embora positivo, jamais conseguiu no trazer de volta aos patamares anteriores à crise da Nova Matriz.
Como chamei a atenção em colunas recentes, há evidência de perda de produtividade no setor manufatureiro pelo menos, talvez também nos demais, embora ainda não tenha ainda dados que me permitam aferir a hipótese. Nosso potencial de expansão, que parecia na casa de 1,5-2,0% ao ano, agora aparenta muito mais baixo, certamente inferior a 1% ao ano.
A própria natureza do processo inflacionário mais recente é congruente com esta perspectiva. A inflação desde meados do ano passado não pode mais ser descrita como reflexo do choque de preços de commodities, combustíveis e energia. Os preços de tudo que não é alimento, combustíveis e energia no IPCA subiram pouco mais do que 7% nos 12 meses terminados em janeiro, contra leituras na casa de 2% a 3% na primeira metade do ano passado.
É número ainda inferior à inflação cheia, na casa de 10%, mas revela pressões já bastante disseminadas, que não podem ser diretamente atribuídas aos tais choques; pelo contrário, revelam uma economia com dificuldade para lidar até com a modesta expansão da demanda que hoje vivemos.
Tudo aponta, portanto, para desempenho fraco da economia neste ano, o que, aliás, deve fazer parte do plano de voo do BC para reduzir a inflação em 2002, obviamente não para a meta e provavelmente sequer para o limite superior do intervalo de confiança, mas talvez o suficiente para que a meta de 2023 não pareça ser o sonho impossível de hoje.
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* ALEXANDRE SCHWARTSMAN – DOUTOR EM ECONOMIA PELA UNIVERSIDADE DA CALIFÓRNIA, BERKELEY, E EX-DIRETOR DE ASSUNTOS INTERNACIONAIS DO BANCO CENTRAL DO BRASIL É PROFESSOR DO INSPER E SÓCIO-DIRETOR DA SCHWARTSMAN & ASSOCIADOS
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