Todo horror deve ser banido. Por Edmilson Siqueira
… horror por horror, ambos se equivalem e, se formos levar em conta os frios números das mortes que ambos provocaram, por tortura, fome, assassinatos em massa, execuções sem julgamento ou com julgamento combinado…
Que o nazismo deve ser proibido em todos os países do mundo e reprimidas todas e quaisquer manifestações que tenham o partido de Adolf Hitler como ideal, não resta a menor dúvida. Um governo nazista que fez o que fez na Alemanha e em parte da Europa antes e durante a II Grande Guerra é o símbolo do que de pior pode existir no ser humano, da selvageria inominável, da imposição de uma “raça” sobre outra, enfim, da predominância, pelo extermínio dos contrários, de um poder hegemônico.
Há consenso no mundo entre os não nazistas, os democratas, os de centro, centro-direita, centro-esquerda e esquerda que o nazismo não deve ser admitido. Claro que há manifestações e partidos que esbarram na odiosa ideologia, que defendem líderes que pregam atitudes usadas pelos nazistas, mas, pelo menos nos grandes países, têm pouca chance de progredirem. Evidentemente, as manifestações do governo Trump, seu método pouco ortodoxo de querer ganhar eleições na marra e a inacreditável invasão do Capitólio, se arranharam a democracia americana, estão recebendo a devida resposta e dificilmente se repetirão.
Nazismo é muito pior do que vemos em algumas manifestações por aí e, como disse Mario Sabino, com muita propriedade, aliás, não é nem pra ser discutido, já que se trata de uma ideologia que sobrevive no extermínio físico das outras e, só por isso, deve ser repudiada com todas as forças.
Porém, nessa polêmica (acho que nem polêmica é, pois todo mundo está contra) provocada por um idiota numa rede social, uma coisa me inquieta. Leia o que vai a seguir:
“O que acima se mencionou (num livro, não neste artigo) prepara o leitor para o desfile de horrores do texto. Nele se contém um balanço, o primeiro, grande e abrangente, em escala mundial, fundamentado, comentado, que leva ao total de 100 MILHÕES DE MORTOS DE RESPONSABILIDADE DO COMUNISMO.” (As maiúsculas são minhas).
Prossegue o texto: “Para essa portentosa cifra contribuíram desde a União Soviética, com 20 milhões, a China com um recorde de 65 milhões, a Europa Oriental e o Vietnã com 1 milhão cada uma, a Coreia do Norte e o Camboja, ambos com 2 milhões, a África com 1,7 milhão e o Afeganistão com 1 milhão. A América Latina entra com modestos 150.000 mortos; o MCI (Movimento Comunista Internacional) e os partidos comunistas no poder respondem por uma dezena de milhar de mortos. Aos que dizem serem esses números exagerados, responde Eric Hobsbawm, historiador e ex-comunista, bem conhecido no Brasil: “Mesmo que as cifras caíssem pela metade, seriam moralmente inaceitáveis.”
Os dois parágrafos foram retirados da apresentação de O Livro Negro do Comunismo – Crimes, Terror e Repressão, 14ª Edição, vários autores e colaboradores, com tradução de Caio Meira, Editora Bertand Brasil.
Escrito por intelectuais europeus, a maioria ex-comunistas, e publicado na França em 1997, no 80º aniversário da Revolução de Outubro na Rússia, que levou Lênin, Trotsky e Stalin ao poder, o livro, apesar de suas mais de 900 páginas, se tornou um sucesso nas livrarias, com mais de 170 mil exemplares vendidos logo após seu lançamento. Traduzido para 17 idiomas, vendeu muito em vários países e se tornou um livro de referência do horror que os regimes comunistas perpetraram ao redor do mundo.
Sua leitura é um soco no estômago do leitor desavisado. O comunismo, para se impor como regime único nos países em que se instalou – através de golpes, revoluções ou simples deposições de governantes – teve na prisão, tortura, deportação e morte de seus oponentes um método seguro e eficiente de se manter no poder. Para se ter uma ideia, diz o livro sobre os primórdios do regime comunista na Rússia: “Os tribunais do antigo regime foram suprimidos e substituídos pelos tribunais populares e tribunais revolucionários, competentes para todos os crimes e delitos cometidos ‘contra o Estado Proletário’, a ‘sabotagem”, a ‘espionagem’, os ‘abusos de função’ e ‘outros crimes contra-revolucionários’.”
Como assinalou Kurski, comissário do povo para a Justiça, de 1918 a 1928, “os tribunais revolucionários não eram tribunais no sentido habitual, ‘burguês’ do termo, mas tribunais da ditadura do proletariado, órgãos de luta contra a contra-revolução, mais preocupados em erradicar do que em julgar.”
Outro detalhe: “Entre os tribunais revolucionários figurava um tribunal revolucionário para a imprensa, encarregado de julgar os delitos de imprensa e suspender toda publicação que ‘semeasse a perturbação nos espíritos, publicando notícias voluntariamente falsas.” Claro que quem julgava se a notícia era falsa ou não, se “perturbava os espíritos” ou não era o tribunal devidamente aparelhado pelo partido. Qualquer semelhança com uma tal Conselho Federal de Jornalismo, que o PT quer criar, desde 2004, para fiscalizar “a mídia”, não é mera coincidência.
Assim, para não me alongar – o livro é um calhamaço de horrores e daria para citar aberrações de todos os tipos cometidas em nome do partido e da ideologia comunista – penso que o tratamento – justo e correto, diga-se – que as manifestações nazistas têm por aqui e no mundo, no sentido de denunciá-las e tentar, de todas as formas impedir de progredirem, deveria ser o mesmo em relação aos partidos comunistas.
Afinal horror por horror, ambos se equivalem e, se formos levar em conta os frios números das mortes que ambos provocaram, por tortura, fome, assassinatos em massa, execuções sem julgamento ou com julgamento combinado, os comunistas têm larga vantagem, já que chegaram ao poder em um número bem maior de países e seguiram os mesmos métodos em todos eles. E ambos têm métodos parecidos, como se sabe. Mas basta ver o que acontece na Nicarágua, na Coreia do Norte, em Cuba ou mesmo na Venezuela, para percebermos que o método de extermínio físico da oposição continua vigente.
Um outro trecho da apresentação diz o seguinte: “Um croqui do Arquipélago Gulag e outro de uma parte dele, o Arquipélago Ozerlag, fornecem uma visão do formidável sistema concentracionário [campos de concentração comunistas] que ia dos países bálticos aos mares de Okotsk e do Japão. O leitor familiarizado com os horrores de Auschwitz e Dachau [campos de concentração nazistas], travará conhecimento com seus correspondentes soviéticos.”
Como se vê, ambas as ideologias deveriam ser banidas eternamente do convívio com a humanidade.
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Edmilson Siqueira– é jornalista
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