O jogo está feito? Por José Horta Manzano
A mais recente pesquisa de intenção de voto para presidente, feita pelo Instituto PoderData, reflete a preferência do eleitorado entre uma paleta de quase dez candidatos – entre declarados e prováveis. Ela mostra, sem surpresa, o Lula bem à frente de Bolsonaro.
A continuar nessa curva ascendente em que já conta com 42% dos votos contra 28% do capitão, o Lula tem condições de reunir um total superior à soma de todos os adversários, o que lhe daria a vitória no primeiro turno.
O eleitorado masculino diverge vigorosamente do feminino. Quase metade das eleitoras (48%) têm intenção de votar no Lula, deixando Bolsonaro com somente 17% das preferências. Quem vir nesse placar o resultado das atitudes misóginas e sexistas do capitão não estará longe da verdade.
Já os homens preferem Bolsonaro. No seio do eleitorado masculino, o triunfo do capitão não é tão espetacular quanto o do Lula entre as mulheres, mas é significativo. O voto dos homens é de 41% para o ex-militar contra 35% para o ex-metalúrgico.
A divisão do Brasil em regiões é um tanto artificial, baseada em limites administrativos (divisas dos estados) e não em limites históricos e socioculturais. O norte do Paraná, por exemplo, é incluído na Região Sul, ainda que sua história e seu desenvolvimento sejam tardios com relação aos estados sulinos, e que seu povoamento se tenha feito a partir do estado de São Paulo. A mesma distorção surge no norte de Minas, zona que compartilha clima e tradições mais com o Nordeste do que com o sul do estado. Há outras distorções.
Isso dito, é o que temos. O levantamento mostra um Lula triunfante no Sudeste e no Nordeste, enquanto Bolsonaro ganha folgado no Norte. Na Região Sul e no Centro-Oeste, os dois empatam. Isso não é de bom augúrio para o atual presidente, visto que o Nordeste e o Sudeste são as regiões mais populosas. Quem ganhar nas duas tem boas chances de ser o próximo presidente.
No corte por escolaridade (fundamental, médio e superior), o Lula deixa Bolsonaro comendo poeira em todas as faixas. O mesmo ocorre no corte por faixas de renda: o capitão perde feio em todas.
Nestas alturas, resta a pergunta: por que, diabos, se dar ao trabalho de votar em outubro, se já se conhece o resultado?
Primeiramente, porque pesquisa pode até influir, mas o que conta é voto na urna – é o que reza a Constituição.
Segundamente, porque muita água há de passar sob as pontes do Norte, do Sul e das demais regiões daqui até lá. Por exemplo:
- alguém pode adoecer (essa covid anda um perigo);
- alguém pode falecer (pra morrer, basta estar vivo);
- alguém pode ficar (ainda mais) gagá, que o Alzheimer não escolhe vítima;
- alguém pode desistir (não duvide, que tudo é possível na vida);
- alguém pode acertar no milhar na Paratodos ou vencer uma rifa e decidir se estabelecer nas Bahamas pelo resto da vida.
Enfim, não convém estourar champanhe nenhum por enquanto. Ainda resta a esperança de ver surgir um nome forte alternativo a esses dois fósseis que dominam as pesquisas atualmente. Em princípio, qualquer dos citados na pesquisa seria um caso a considerar.
Moro, Ciro, Doria, Janones, Vieira e Tebet podem não ser nenhuma Brastemp, mas, convenhamos, nenhum deles há de ser pior que Bolsonaro ou Lula.
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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos, dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.
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Sexo, idade, região, escolaridade e renda. E a procedência geográfica dos entrevistados? São urbanos? Pessoas de minha família do
Agronegócio e agricultura familiar do ES, MG e Pará vivem no campo (zona rural). Uma realidade neste país continental. Se a coleta dos dados foi via telefone, essa população foi contemplada na amostra? O estudo não esclarece.